História – Era da Globalização

AS DIFICULDADES DO SOCIALISMO REAL

Muitos dos problemas do sistema socialista começaram a surgir: baixa produtividade econômica, corrupção, ausência de democracia. Na indústria iniciaram-se experimentos que visavam dar maior autonomia as empresas estatais e aumentar o envolvimento do operário na produção. Como incentivo, por exemplo, foram criadas diferenciações salariais.

Essas medidas mostraram-se insuficientes. Era preciso adaptar-se as novas condições impostas pela revolução tecnológica baseada nas aplicações da microeletrônica e das telecomunicações.

Para completar havia o problema da falta de liberdade. De certo modo, apesar de já contar com mais de 50 anos de práticas não-capitalistas, a URSS continuava a funcionar como a antiga autocracia czarista. Até mesmo as greves estavam proibidas, o que parecia um contra-senso em um regime que se dizia favorável aos trabalhadores.

A isso somava-se o fato de a União Soviética, envolvida com a guerra fria, ter buscado a auto-suficiência econômica e a troca entre países socialistas. É certo que o avanço da pesquisa cientifica foi sempre muito intenso no país. Mas isso não significou efetivamente novos processos de produção. Boa parte dos esforços era dirigida para a industria bélica e a corrida armamentista. A produção industrial crescia, mas acentuava-se uma defasagem tecnológica em relação aos países capitalistas desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos, a Alemanha Ocidental e o Japão.

 

A burocracia e a estagnação da URSS

O sistema socialista desapareceu do leste europeu em um tempo relativamente curto, com conseqüências graves para a maioria de sua população. O que levou sete décadas para ser construído foi eliminado em apenas três anos.

O grande responsável por tal mudança foi o próprio processo de transformação operado nas sociedades dos países socialista pelo regime comunista. Trata-se do aprimoramento do processo de formação dos cidadãos realizado pelo regime comunista durante décadas.

Com efeito, se os anos de socialismo real, foram capazes de transformar a União Soviética na segunda grande potencia mundial, também criaram um novo grupo social privilegiado, uma elite composta por generais, oficiais superiores, alta funcionários do partido e do Estado, membros dos soviéticos, diretores de fabricas, escritores, artistas, compositores e cineastas. Essa elite tinha muitos privilégios: clínicas, lojas e serviços especiais, salas reservadas de embarque em estações e aeroportos, meios próprios para receber produtos escassos no mercado.

Essa casta privilegiada chamada de nomenclatura  não sentia as dificuldades da maioria da população. Formada por um grupo fechado da alta burocracia, defendia a manutenção da ditadura do partido único, de modo a impedir que os cidadãos controlassem o funcionamento dos órgãos do Estado.

A conseqüência disso foi a desagregação da sociedade. Abalaram-se os funcionamentos da vida familiar. O alcoolismo e outras drogas atingiram os jovens, reduziu-se a natalidade, cresceu a mortalidade, aumentou os suicídios e as doenças psíquicas.

 

A Perestroika e a Glasnost

Em 1985, assumiu-se a direção do Partido Comunista um dirigente com propostas inovadoras que foi o Mikhail Gorbatchev. Mikhail não pretendia desmantelar o socialismo real, queria apenas melhorá-lo em sua estrutura.

Essa mudança começou por renovar a cúpula do partido comunista, por dar liberdade  aos dissidentes políticos.  Ele anunciou sua disposição de promover uma transformação geral da sociedade, por meio da Perestroika e da glasnost. A Perestroika buscava a implantação de métodos mais eficientes de gestão da economia. Com a glasnost, a censura foi abrandada, e foi iniciado um processo de liberalização, que se traduziu em maior liberdade de expressão na vida cultural.

Todo esse conjunto de transformações internas, só foi possível devido a liquidação de várias pendências internacionais. Era preciso mudar a política externa, de modo a facilitar uma aproximação com o ocidente.

O sinal evidente de que a política exterior da União Soviética havia mudado e abandonado a prática imperialista, surgiu com a retirada das tropas de ocupação do Afeganistão, onde completavam dez anos de permanência.

 

O fim da União Soviética

A política de Gorbatchev gerou tensões internas. Por um lado, grupos conservadores da burocracia do partido e do Estado, aliados a setores militares, opunham-se as reformas. Por outro, uma corrente liberal, cujo líder era o presidente da República Russa, Boris Ieltsin, exigia a aceleração das reformas e a instalação imediata de uma economia de mercado, acompanhada da privatização das empresas estatais.

A 19 de agosto de 1991, o grupo conservador, conhecido como linha dura, ensaiou um golpe de estado, por prender o presidente Gorbatchev e ocupar com tanques de guerra pontos estratégicos de Moscou.

Com o fracasso do golpe, Gorbatchev voltou a Moscou a 22 de agosto. O grande vitorioso, porém, era Ieltsin, que aproveitou a popularidade para colocar na ilegalidade o Partido Comunista da Rússia. No dia 29 de agosto, o soviete supremo deu o golpe final no Partido Comunista soviético  e proibiu suas atividades em todo o território nacional.

O fracasso do golpe de Estado veio acelerar a desintegração da União Soviética. Gorbatchev lutou o quanto pôde pela manutenção da União Soviética. Mas no dia 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e da Bielo-Rússia assinaram um documento em que formalizavam a CEI (comunidade de estado independente). Gorbatchev acabou se rendendo a decisão, que passou a ter efeito a partir de 31 de dezembro.

A partir de 1992, Ieltsin acelerou o processo de desestatização da economia. Isso gerou crises que provocaram a inflação, recessão econômica, que resultou em desempregos, intensificações da marginalidade e avanço do crime organizado.

Diante disso, os comunistas voltaram a se fortalecer, obtendo maioria no Parlamento, em aliança com pequenos partidos nas eleições de 1995. No segundo semestre de 1998, a economia não resistiu e uma profunda crise tomou conta do país. Ela não ficaria restrita as fronteiras da Rússia. Em pouco tempo, iria se expandir para boa parte do mundo, colocando o capitalismo em crise. Faria inúmeras bolsas despencarem pelo mundo, entre elas as do Brasil e de Nova York.

 

A primeira crise da era da globalização

Em uma economia global, qualquer crise regional pode se tornar mundial. Num simples apertar de botão é possível deslocar milhões de dólares de um lugar para outro. Para os investidores, isso significa a possibilidade de lucros rápidos, mas, para as economias regionais, pode significar graves problemas.

Em momentos de instabilidade, a tendência dos países ameaçados é aumentar a taxa de juros pagos aos investidores internacionais para impedir a saída dos investimentos e, se possível, atrair outros. A situação se torna insustentável, com a quebra de empresas, desemprego, desvalorização monetária e propagação da crise para os mercados mundiais.

 

A crise asiática

A partir de julho de 1997, surgiram indícios de que nem tudo ia bem com os tigres asiáticos, que tinham conhecido um vertiginoso crescimento econômico nos vintes anos anteriores. Em países como a Tailândia, Indonésia, Filipinas e Malásia vieram a tona dificuldades para equilibrar as contas externas, saldar dívidas de curto prazo e a situação dificil dos bancos, ameaçados de não receber o dinheiro por eles emprestados.

A desvalorização monetária tem um duplo efeito. De um lado, favorece as exportações, de outro, provoca a recessão, já que encarece as importações, aumenta a dívida em moeda estrangeira, quebra empresas e provoca o desemprego.

A crise dos tigres asiáticos se alastrou muito rápido. Em outubro de 1997, atingiu Hong Kong e chegou ao Brasil.

Para os países ricos a instabilidade não interessa, porque diminui suas exportações, além de comprometer seus capitais investidos na região em crise. Com a crise da economia japonesa, a bolsa de Nova York se desestabilizou, repercutindo em todas as bolsas do planeta.

 

A crise da Rússia

Em agosto de 1998, foi a vez da Rússia ter sua economia destroçada. A situação no país chegou a um ponto insustentável. Para saldar suas dívidas entre julho e dezembro, o país precisa de 40 bilhões de dólares. A situação era muito calamitosa, a industria sucateada, a arrecadação de impostos insuficientes, a sonegação brutal. Os Estados Unidos tentaram socorrer o país, promovendo, por meio do FMI, um pacote de ajuda de 22 bilhões de dólares. Mas foi em vão. Porque em agosto, a economia russa desabou. A crise russa repercutiu no mundo inteiro, deixando mais uma vez a nu a fragilidade e a instabilidade do mundo globalizado. Até o dólar canadense foi desvalorizado, atingindo a menor cotação em 140 anos. A desconfiança atingiu os investimentos feitos no Brasil, que começou a perder divisas em ritmo acelerado. Em janeiro de 1999, o governo brasileiro foi obrigado a liberar o câmbio e a assistir a desvalorização do real, com enormes conseqüências em toda a vida econômica e política do país.

Fonte: http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/historia033.asp

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