Instagram, meu bem, meu mal: o desafio de lidar com a rede social

Recentemente escrevi um livro. Crônicas bem-humoradas onde falo sobre a minha bipolaridade e outros desafios da vida. Junto com esse momento tão importante pra mim, veio um desafio enorme chamado Instagram. Minha relação com a rede social sempre foi de amor e ódio. Ela surgiu no Brasil em 2010, mas meu primeiro post foi só em 2017. Seguia tranquila no Facebook, apesar de pouco praticante, até o momento que me rendi aos braços do Insta. Como na minha vida emocional, minha trajetória com a rede social foi de altos e baixos. Até 2020, foquei em homenagens aos aniversariantes, proezas do meu filho e #tbt’s de dias bons. No início daquele ano, com tempo livre por conta da quarentena, comecei a postar meus textos. Falei sobre depressão, como perdi 30 kg e da pandemia. O resultado foi impressionante e me rendeu duas colunas, além de mais seguidores. Naquela época, minha bipolaridade seguiu no armário.

No final do ano, a corda esgarçou. Eu tinha me saído bem na quarentena, mas em novembro não deu mais. A primeira coisa que vai embora nessas horas é o Instagram, e, com ele, os seguidores. Em 2021, já melhor, tive a ambiciosa ideia de escrever um livro. Em seguida, a ideia maluca de falar sobre a minha bipolaridade. Naquele momento, o Instagram deixou de fazer sentido. Eu estava voltada para minhas memórias, meus sentimentos e minha história. Eventualmente postava textos, sem grandes curtidas, mas muitos comentários na vida real. O livro foi lançado em março de 2023. Junto com essa alegria, veio aquele medo gigante: o que fazer com o meu Instagram? Sobre o que postar? Com que frequência? Quanto devo me expor?

Graças a uma infecção renal, fiquei duas semanas de cama. Foi minha grande oportunidade de mergulhar nesse universo e tentar descobrir onde eu me encaixava. Algumas impressões: a inveja é um dos motores do Instagram. Além de nos divertir, informar, ensinar e atualizar, vira e mexe nos deparamos com um post que nos faz sentir miseráveis. Eu não sou exceção. Falar da inveja dos outros é fácil, mas assumir que a sentimos, não. Mas será que a culpa é mesmo de quem sente? Quantos posts não são arquitetados para o sucesso ser medido pelo invejômetro? Quantos stories não querem gerar o “Invejem”?

Outro dia, muito ocupada, reparei nos principais tipos de caça-inveja. Fotos na praia, no campo ou — o auge da nobreza — na neve. O importante é que tenha uma vista de tirar o fôlego, sugerindo que a pessoa está viajando e se divertindo, bem no momento que estamos mastigando um wrap de frango na mesa do trabalho. Tem os corpos sarados na academia (“tá pago”), looks calculadamente despojados no elevador e posts mostrando uma vida social invejável (sextou, partiu balada!). Enquanto isso, estamos de pijaminha comendo creme de abacate. A verdade é que ninguém posta: “Minha mulher me deu um pé na bunda”. Ou: “Puta merda, dia 15 e minha conta avermelhou”. “Fui demitido, torcendo para eles irem à falência.” Na academia: fungada na axila e legenda: “Eita cecê do bode”. Uma outra inveja frequente é a do número de seguidores. O povo fala que não se importa, mas é mentira, senão não existiriam tantos cursos com técnicas infalíveis para ganhar 100 mil seguidores em um mês, postando uma vez por semana.

Aproveitando o gancho, vamos falar das “autoridades”. Gurus autodiplomados, jovens que pesquisaram um assunto por pelo menos dez anos e desenvolveram fórmulas de sucesso, comprovadas em Harvard, e que já ajudaram milhares de pessoas no mundo inteiro (não seria na galáxia?). Eles nos oferecem um curso introdutório gratuito, que não fala porra nenhuma, mas fica enaltecendo o tal “segredo” ou “método”, tentando nos fazer acreditar que, se não pagarmos o tal curso (em 12 vezes), vamos continuar usando 70% do cérebro e estaremos fadados a ser duros, flácidos e infelizes. Ah, e vamos morrer com 350 seguidores. O que eu mais amo são os cursos para aprender a virar uma “autoridade” e vender um curso. Para se inscrever é simples. É só enviar um direct escrito EU QUERO. Particularmente, o que EU QUERO é ficar longe do seu curso.

Confesso que, pra mim, ainda não é fácil alimentar o Instagram. Esqueço de colocar as hashtags, cometo erros de português ou a gafe de não marcar alguém. E qual é a dos stories? Escrevo uma frase, acrescento um gif inquieto e pum, clico na imagem sem querer e ela cobre a minha imagem. Ódio. O fato é que, desde que falei sobre a minha bipolaridade no Instagram, não me falta assunto. Em dois meses, meus seguidores aumentaram 250%, não que eu esteja contando. Mas não se anime, ainda sou um bebê. Afinal, comecei a produzir conteúdo (é assim que se fala?) anteontem. Se eu me importo com isso? Apesar de eu perceber que está na moda dizer que não, minha resposta é: claro que eu me importo. Ganhar seguidores nunca foi meu objetivo. Lançar um livro, contar que sou bipolar para ajudar pessoas e desestigmatizar doenças mentais, sim. E é só me conectando com pessoas que posso cumprir essa missão. Prometo oferecer um método infalível para você saber que não está sozinho. E de graça.