‘Já incentivo meus filhos’; ‘começo pode ser frustrante’: profissionais contam como é trabalhar com programação


Em entrevista ao g1, pessoas da área contam que o universo da programação é uma boa porta de entrada para quem busca construir carreira em TI, mas setor impõe vários desafios; leia relatos. Patrícia Alves, Hercílio Lopes e Klecianny Melo contam seus desafios para entrar na tecnologia da informação
Celso Tavares/g1 e arquivo pessoal
Com histórias de vida diferentes, Patrícia, Hercílio, Klecianny, Lucas e Diego têm uma coisa em comum: todos escolheram a programação, área que está sob o guarda-chuva da tecnologia da informação (TI), para ganhar dinheiro.
Para esses profissionais, o setor tem muitos desafios e as demissões em massa geraram ainda mais temor. Mas especialistas consultados pelo g1 dizem que, apesar da tendência de corte, a programação continua sendo a porta de entrada para quem deseja se aventurar por TI.
Programação ainda vale a pena? Dá dinheiro? Profissionais contam como está o setor (e dão dicas)
O g1 ouviu programadores de várias regiões do Brasil que contam: mesmo com os desafios e as incertezas do mercado com as demissões, a área é vantajosa e não só financeiramente. (Leia os relatos a seguir).
De malas prontas para o Canadá
Patricia Alves entrou na área de TI em 2022 e, de forma lúdica, já vem estimulando os filhos a seguirem seu caminho.
Celso Tavares/g1
Moradora de Itapevi, na Grande São Paulo, Patricia Alves, de 39 anos, nunca esteve tão feliz. Ela está de malas prontas para se mudar para o Canadá no segundo semestre deste ano, onde irá trabalhar como engenheira de dados.
Ela chegará ao país prestando serviço para a mesma agência de marketing digital em que atua no Brasil (ainda ganhando em real). Mas já tem acertada a migração para uma empresa local, onde irá receber mais e em dólar. O valor não foi revelado.
A profissional relata que já passou por muitas áreas e, antes de fazer carreira na tecnologia, ela vivia de trabalhos pontuais — a falta de uma profissão fixa era um incômodo interno.
O primeiro passo foi dado há cerca de 15 anos ao fazer uma graduação em análise em desenvolvimento de sistemas. Mas Patricia decidiu trancar o curso pela falta de oportunidades para mulheres na área.
Mais para frente, em 2020, ela se matriculou em um curso gratuito de linguagem Python. Foi amor à primeira vista: gostou tanto do conteúdo que foi além e começou a estudar engenharia de dados na SoulCode, uma edtech parceira do Google e que oferece bolsas de estudo em tecnologia.
“Eu tinha muito medo de não entender a lógica da programação, mas esse primeiro curso de Python quebrou esse bloqueio. Foi muito didático. Hoje, eu estou em dados, mas ainda preciso da programação para facilitar o meu trabalho”, relata Patricia, que conseguiu entrar em TI dois anos depois.
Patricia se mudará para o Canadá com a família no segundo semestre de 2022.
Celso Tavares/g1
Mãe de duas meninas e um menino, ela já vem estimulando os filhos a seguirem na área. “Eu não fico trabalhando de cara fechada porque eu realmente gosto do que faço. Meus filhos acompanham a minha rotina e veem que não é um trabalho chato”.
A possibilidade de trabalhar o tempo todo de casa é um diferencial importante. “Eu não me imagino mais trabalhando presencial”, diz.
“Eu tenho uma rotina muita atribulada com três filhos, então o meu regime de trabalho precisa ser flexível o bastante para eu conseguir dar conta de tudo e ainda ter um tempinho para ter vida social”, completa.
‘Passei em direito e em publicidade, mas escolhi a programação’
Hercilio é programador no Maranhão
Arquivo pessoal
O maranhense Hercilio Lopes, de 30 anos, se considera apaixonado por tecnologia desde a adolescência, quando ainda trabalhava na lan house de um tio.
Antes de entrar em TI, o jovem teve outras profissões. Ainda passou no vestibular para direito e publicidade ao mesmo tempo. Mas decidiu não cursar nenhuma das duas, já que o amor por TI é maior.
Hercilio atua na área desde os 22 anos e está prestes a se formar em sistemas de informação. O interesse pelo mundo dos códigos surgiu quando ele trabalhava como auxiliar administrativo em design gráfico em uma empresa do ramo de construções.
“Nessa empresa, eles começaram a investir em automação residencial e eu consegui aprender um pouco da lógica de programação, por isso veio o interesse em estudar mais. Antes mesmo de entrar na faculdade, eu já pesquisava algumas coisas relacionadas”, conta.
Atualmente, ele trabalha como programador web júnior na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), cuidando das plataformas on-line da instituição, e consegue tirar pouco mais de R$ 2 mil por mês.
Ele trabalha no modelo presencial e gasta cerca de 1h30 para chegar ao trabalho todos os dias. “Apesar do tempo de deslocamento, eu gosto do modelo presencial porque o meu ambiente de trabalho é muito bom”, diz.
Hercilio ainda conta que sua estratégia em buscar ampliar sua rede de contatos na área funcionou: afinal, construiu amizades e conseguiu um bom emprego, lembra o jovem. Para ele, é imprescindível participar de fóruns on-line e eventos que possam contribuir no desenvolvimento profissional, ampliando, assim, o networking.
Ele também reforça que a profissão é desafiadora para qualquer pessoa, isso porque a tecnologia não para de mudar. Ainda assim, o jovem se sente realizado.
“Muitos pensam só no salário, mas é bom frisar que o começo pode ser frustrante para quem está entrando. A área te desafia o tempo todo, pois tem muita coisa nova surgindo e o ChatGPT é um bom exemplo. Programar exige foco, lógica e disciplina, mas é muito legal”, diz.
‘Não esperava que a demissão em massa fosse chegar tão cedo’
Klecianny Melo é desenvolvedora júnior e passou por uma demissão em massa.
Arquivo pessoal
Quando Klecianny Melo, de 27 anos, iniciou a graduação em engenharia de alimentos, ela não imaginava que o curso a levaria para outro rumo. A experiência com algoritmos em algumas matérias da faculdade fez os olhos da jovem de Garanhuns (PE) brilharem.
Ela, que também é saxofonista profissional, largou as duas habilidades para mergulhar de vez na tecnologia.
Sua primeira oportunidade foi alcançada em setembro de 2022: conseguiu uma bolsa para estudar programação e logo foi contratada como desenvolvedora na XP Investimentos. Klecianny, no entanto, não ficou muito tempo, pois foi demitida após um corte em massa na corretora, em março deste ano.
“Eu já estava acompanhando esse movimento com receio, mas não esperava que o corte fosse chegar tão cedo”, relata.
A jovem trabalhava a 2.422,5 km da sede da empresa, que fica em São Paulo. Ela estava no modelo home office, em Garanhuns, e morar em uma cidade distante nunca foi um problema, já que o setor enxerga o trabalho remoto com bons olhos.
“Me contrataram sem experiência e, mesmo no nível júnior, eu já ganhava acima da média do mercado”, conta. Por questões contratuais, Klecianny preferiu não divulgar os valores.
Junto das demissões em massa, a onda de altos salários tende a mudar este ano, já que a economia global está enfraquecida. Para a consultoria Robert Half, as contratações em 2023 estarão concentradas em perfis de menor nível profissional e com salários mais baixos.
A programadora, que está se candidatando a vagas e participando de algumas entrevistas, diz que não se arrepende da escolha feita, mas reconhece que a cada dia é um novo desafio na busca pela recolocação.
“Agora, é mais difícil porque eu vou competir com uma galera que saiu de empresas grandes e que tem mais bagagem”, conta.
‘O salário me atende, mas a gente sabe que dá para tirar mais’
Lucas Miranda é programador freelancer de uma agência de marketing em Belém (PA).
Arquivo pessoal
A paixão por videogames motivou o paraense Lucas Miranda, de 24 anos, a se aventurar pela tecnologia. Conseguiu entrar na área em 2020 graças a uma bolsa para estudar ciência da computação através do Fundo de Financiamento da Educação (Fies).
Ao g1, o jovem diz que não havia trabalhado antes e sua primeira oportunidade profissional foi conquistada enquanto estudava, durante uma feira da universidade, quando teve que desenvolver um site para uma imobiliária de Belém (PA).
Lucas é programador freelancer de uma agência de marketing, onde consegue tirar cerca de R$ 2.300 por mês. Ele faz home office e diz que montou um espaço na residência para trabalhar.
“Eu trabalho por demanda. O volume é muito bom e o salário me atende bem, mas a gente sabe que dá para tirar mais, principalmente se você estiver no Sul ou no Sudeste”, conta.
“Eu sou bem feliz trabalhando com isso. O lado bom de TI é que ela não é só ‘uma ponta’. Quando você acha que já sabe tudo da área, aí ela te oferece uma outra possibilidade, como o metaverso. Você sempre tem um desafio novo e eu gosto disso”, diz.
No metaverso, ele diz que já fez exposição de moda, um espaço de reunião e um evento de Mario Kart.
‘Agora, acordo todo dia com vontade de trabalhar’
Diego Melo deixou de ser servidor público para atuar como programador.
Arquivo pessoal
Diego Melo conta que flerta com a tecnologia desde os 15 anos, mas a oportunidade de trabalho só veio agora, aos 35 anos. A mudança de profissão ocorreu em 2021 e não foi por questões financeiras. “Eu sempre quis trabalhar com TI e é o que eu me via fazendo no futuro”, diz.
Ele trabalhou por 8 anos como servidor público em Bauru (SP), onde vive até hoje, e completava a renda como freelancer em jornalismo.
Trabalhando para o governo estadual, com passagens por USP e Unesp, largar a estabilidade exigiu muita coragem. “Não é uma tarefa fácil, mas tive bastante apoio da família para tomar essa decisão”, afirma.
“Por eu ter vindo do serviço público estadual, acho que o meu caso é bem específico. Hoje, financeiramente, tem compensado. Mas no primeiro ano como programador, a minha renda diminuiu bastante, principalmente porque eu abri mão de vários benefícios que eu recebia como servidor”, conta.
A idade avançada também era um desafio na busca por oportunidades. “É muito mais fácil as empresas contratarem um recém-formado de 20 anos do que um cara de 30. É um desafio”.
Hoje, é desenvolvedor Full Stack para uma startup de Belo Horizonte (MG), que atua no ramo de gestão da experiência do cliente. A empresa permite o trabalho remoto e ele vê essa possibilidade com bons olhos.
“Hoje, eu consigo acordar todo dia com vontade de trabalhar. Desde 2014 que eu venho falando que vou mudar para programação, mas só tive coragem, mesmo, em 2021”, conta.
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