Letramento racial nas empresas: por que o tema importa?

O Mês da Consciência Negra chegou e é uma ótima oportunidade para pensarmos sobre como o letramento racial pode fazer a diferença no mundo corporativo.

Durante a pandemia, a discussão sobre a igualdade racial ficou em alta, com muitas empresas se posicionando a favor dessa causa. Muitos fatores, como os protestos globais após a morte de George Floyd em 2020, contribuíram para isso.

Foi notável a ascensão de grupos de profissionais negros e de Comitês de Diversidade nas empresas, que se uniram em prol da conscientização, empregando dados sobre desigualdade racial e análises históricas para sensibilizar as pessoas e mostrar a urgência das políticas afirmativas que são uma forma de tentar eliminar a desigualdade acumulada ao longo do tempo. No entanto, nos últimos anos, parece que o engajamento e o posicionamento das empresas nesse tema têm perdido intensidade.

É importante que as empresas invistam em letramento racial. Isso não é só uma questão de ser socialmente responsável, mas também traz benefícios competitivos. Empresas que abraçam a diversidade têm funcionários que se sentem mais valorizados como indivíduos e respeitados na sua existência. Além disso, a diversidade traz perspectivas diferentes para o ambiente de trabalho, o que promove inovação e ajuda a atender a um público diversificado.

A jornada em direção à igualdade racial no Brasil é longa, e as empresas desempenham um papel fundamental nisso. A retomada do compromisso com essa causa por parte das empresas é essencial para sensibilizar a sociedade como um todo. O letramento racial pode ser um caminho para fortalecer essa pauta internamente nas empresas, conscientizando os colaboradores sobre o racismo estrutural no Brasil e mostrando como eles podem ser agentes de mudança, não apenas no trabalho, mas também em suas famílias e comunidades.

Letramento racial: expressões racistas que não devemos usar

No entanto, apesar dos avanços, o racismo persiste nas organizações, muitas vezes mascarado por expressões aparentemente inofensivas. É fundamental reconhecer e evitar expressões que perpetuam preconceitos. Na minha experiência na área de Recursos Humanos, deparo-me frequentemente com tais expressões e busco conscientizar as pessoas que as utilizam sobre o impacto que elas têm na vida das pessoas negras e sobre o reforço do racismo estrutural. Seguem alguns exemplos:

1. Cotista: essa expressão, quando usada pejorativamente, desqualifica pessoas que acessaram oportunidades por meio de ações afirmativas.

2. Não é meu lugar de fala: usada de maneira equivocada, essa frase pode ser uma forma de desqualificar a perspectiva de alguém de uma minoria racial.

3. Não vejo cor: embora bem-intencionada, essa expressão minimiza as experiências das minorias e não reconhece o impacto do racismo estrutural.

4. Ela/ele fala bem para um negro: isso implica que há uma norma linguística e intelectual associada à raça, o que é falso e discriminatório.

5. Brincadeiras e piadas raciais: conhecido como “racismo recreativo”, qualquer tipo de humor que reforça estereótipos raciais é inaceitável. Isso inclui piadas relacionadas à cor da pele, traços físicos, tipo de cabelo e outros aspectos raciais. Quando uma piada causa constrangimento e diminui a humanidade de outra pessoa, não é uma piada, é desrespeito e perpetuação do preconceito.

As empresas têm um papel crucial no letramento racial de seus colaboradores e no compromisso de adotar uma postura antirracista, tomando medidas concretas para o combater o racismo no ambiente de trabalho. O Mês da Consciência Negra não deve ser uma reflexão breve, mas um catalisador para uma ação contínua. Portanto, celebremos a diversidade, comprometendo-nos com uma mudança genuína e duradoura.