Livre-se do preoconceito: o espumante brasileiro está entre os melhores do mundo

O cético resiste a aceitar que o espumante nacional está entre os melhores do mundo e erra sobejamente. Se considerarmos o “Novo Mundo” composto pelos países do hemisfério sul e a Califórnia, com certeza o espumante brasileiro goza de liderança. É verdade que tal situação só foi possível graças à abertura do mercado nacional aos vinhos estrangeiros (isso a partir do começo dos anos 90 do século passado). O viticultor nacional, em face da grande concorrência e valendo-se de um solo e clima absolutamente propícios (notadamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina), passou a oferecer ao mercado produtos de extrema qualidade — diga-se que não só quanto aos espumantes, mas aos vinhos de forma geral — de tal forma que, num primeiro momento, passou a competir firmemente com os espumantes dos demais países sul-americanos — e, em seguida, com os demais produtores mundiais. Não erro ao afirmar que não há concorrência quando tomamos por paradigma o Chile, a Argentina e o Uruguai. A verdade é que o Chile nunca produziu espumantes de relevância, até porque seus demais vinhos são mais marketing e menos qualidade. A Argentina, focada nos seus tintos (excepcionais), nunca conseguiu um espumante de categoria mundial, como vem ocorrendo com o Brasil há quase duas décadas. 

O espumante nacional caiu no gosto do consumidor brasileiro, seja pela qualidade, seja pela facilidade do consumo dado ao nosso clima. Outro fator relevante é o preço, vez que podemos encontrar, na faixa de até US$ 10,00 (R$ 52,38 na cotação atual), excelentes produtos. A Associação Brasileira de Enologia (ABE), em seu site, lista as regiões mais importantes e relevantes quanto à produção de espumantes no Brasil, e a liderança das regiões gaúchas é marcante, seguida por Santa Catarina (Vale do Rio do Peixe e Planalto Serrano). Do Rio Grande do Sul, destaco a Serra Gaúcha (Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Farroupilha, Flores da Cunha, São Marcos, Monte Belo, etc.), além dos municípios ou regiões de Encruzilhada do Sul, Santana do Livramento e Bagé, dentre outros. 

Hoje encontramos desde espumantes demi-sec até os extra-brut, das mais diversas castas e produzidos tanto pelo método Champenoise (o mais clássico), passando pelo Charmat — no qual a segunda fermentação do espumante é realizada dentro de tanques de aço inoxidável — e até o método Asti, muito usado nos espumantes doces, a partir da casta Moscatel. Como expus acima, há produtos de excelente qualidade em diversas faixas de preço. Dos mais em conta, destaco o Garibaldi Brut, reconhecido internacionalmente como muito bom; o Don Guerino Brut Chardonnay, que vem de uma vinícola que prima pela boa produção; o Cave Amadeu Brut, que pode acompanhar desde um salmão até um lombo de porco; e o Salton Brut, produzido pelo método Charmat e bem versátil. 

Na faixa intermediária, em torno dos US$ 20,00 (R$ 104,76), temos o Cave Pericó Brut Rosé, tradicional e muito bem elaborado; o Miolo Cuvée Tradition Brut, excelente como aperitivo; o Vallontano Moscatel Serra Gaúcha, ótimo para as sobremesas; e o Luiz Argenta Brut Clássico, de sabor intenso, complexo e bem estruturado, sendo um ótimo acompanhante para peixes preparados mais rusticamente. 

Já na faixa “top”, recomendo o Estrelas do Brasil Brut Método Champenoise, que vai surpreender os mais exigentes bebedores de champagne; o Aracuri Collector Espumante Blanc de Noir Sur Lie Nature, que carrega uma complexidade ímpar; o Orus Tradicional – Adolfo Lona, cujos sabor, estrutura e perlage passam na frente de muitos espumantes franceses de prestígio; o Thera Auguri Extra Brut, de produção esmerada e surpreendente; e o 130 anos Casa Valduga Brut Rosé, uma grata surpresa ao paladar. Do todo, afirmo, com segurança, que o espumante nacional está consolidado como de categoria mundial e que oferece muito mais do que uma imensa gama de tantos outros espumantes mundo afora. Quem ainda tiver preconceito, livre-se dele e surpreenda-se. Salut!