Lula exalta programas reciclados e cobra ministros em evento sobre os cem dias de governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um balanço nesta segunda-feira, 10, dos primeiros cem dias do seu terceiro mandato à frente da Presidência da República. Em reunião ministerial, o mandatário citou a retomada de programas reciclados, como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, e exaltou: “O Brasil voltou a ter futuro. E isso é apenas o começo”. “Antes de tudo, o Brasil voltou a ter governo. Um governo que se espelha no povo brasileiro e acorda cedo para trabalhar. O Brasil voltou para trabalhar naquilo que deveria ser a razão de ser de todos os governos: cuidar das pessoas”, disse o petista. Lula mencionou ações de cada pasta, com destaque para Fazenda, Meio Ambiente, Casa Civil, Ciência e Segurança Pública, relembrou os atos de 8 de janeiro e afirmou que o governo terá ainda outros 1.360 dias para reconstruir o país. “Temos chances e mais chances, cada erro que cometer, vai ter sempre 100 dias para recuperar e fazer as coisas certas”, acrescentou.

Em seu longo discurso, Lula também cobrou os ministros sobre ações para os próximos meses, indicando as prioridades de cada área. “Se preparem, pois temos que trabalhar muito mais. (…) Vou cobrar muitas vezes vocês porque quero que façam parte da geração que participou do governo que resolveu o problema desse país”, afirmou. Para Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, o foco será combater a violência contra as mulheres e “garantir que não haja impunidade”; para Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, a violência contra as cidadãs também será tema prioritário, com foco em ações “mais duras” contra feminicídio e agressões; no Meio Ambiente, Marina Silva deve perseguir a meta do desmatamento zero, apesar de “não ser fácil”; na Saúde, Nísia Trindade terá como prioridade garantir médicos especialistas à população; e para a Casa Civil e Fazenda, a proposta de Lula é criar um programa para diminuir o número de endividados.

“Quero dizer que até agora tenho muito orgulho do trabalho que foi feito”, assegurou o presidente, que também exaltou ações dos ministros, com recados diretos a Fernando Haddad (PT). “Haddad sei que de vez em enquanto você ouve algumas críticas. Quero elogiar você e a equipe que trabalharam [no arcabouço fiscal] porque, certamente, se tratando de economia, de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade”, comentou o presidente. Em contrapartida, ainda nos aspectos econômicos, Lula também mandou recado – menos amistoso – ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Sem citar nomes, o mandatário voltou a criticar a atual taxa da Selic e disse que estão “brincando com o país”. “13,75% de juros é muito alto, continuo achando que estão brincando com o país, com o povo pobre e com os empresários que querem investir. Só não vê quem não quer.”

Como a Jovem Pan antecipou, os primeiros cem dias do governo Lula 3 foram marcados, sobretudo, por entraves na economia, atrito com o Banco Central (BC) e políticas públicas recicladas. Na área econômica, as incertezas sobre novo arcabouço fiscal, e a falta de definições das políticas, fizeram com que o BC mantivesse a taxa básica de juros em 13,75%. O fato rendeu críticas por parte de Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB), do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e diversos outros ministros de Estado ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, abrindo um capítulo de atritos entre o dirigente e membros do alto escalão do governo. Também nesses cem dias, o Executivo retomou políticas públicas já conhecidas da população, como o “Minha Casa, Minha Vida” e o “Novo Bolsa Família”. Ao mesmo tempo, o Planalto enfrenta desafios no Congresso Nacional para assegurar maioria e garantir a aprovação de pautas essenciais, como as 12 medidas provisórias (MPs) editadas por Lula, a tão aguardada reforma tributária e o novo regime fiscal.