Startups ajudam mães a empreender e a se fortalecer no mercado de trabalho

O ano era 2015 quando Dani Junco foi tomada por uma grande inquietação. Grávida de 5 meses, ela, assim como outras tantas mulheres, se questionou se a maternidade bloquearia seu progresso profissional. A dúvida fez com que ela desbravasse o mundo empreendedor. Assim nasceu a B2Mamy, social tech liderada por ela, e que de lá para cá já impactou 50 mil mulheres e conta com mais de 30 empresas como parceria na jornada.

“Não estamos em um ano de comemorar grandes números, estamos em tempos de recessão e para as mulheres. O que eu percebo? Não dá mais para não falar sobre isso. Há sete anos quando começamos a B2B mamy nem se considerava conversas sobre o tema. Hoje, não tem como as empresas não falarem, entram risco de reputação, de inovação, e de ESG”, provocou ela em entrevista ao IT Forum.

Dani cita o cenário complexo, especialmente por conta da pandemia. Ela lembra que a maternidade ou mesmo em problemas da família é a mulher que assume a dianteira. Além disso, o fato de que a maior parte das mulheres não está conectada com a tecnologia no Brasil, desafia ainda mais o desenvolvimento de mulheres no mercado de trabalho.

Nesse contexto, a B2Mamy conta com iniciativas que ajudam e empoderam as mães em suas jornadas profissionais. A Casa B2Mamy é um exemplo, cita. Dani define o espaço como uma verdadeira comunidade, onde a mãe pode se desenvolver e se conectar com outras profissionais. Lá os filhos também são bem-vindos, uma vez que há o Espaço kids com monitora para receber mães que precisam trabalhar ou fazer uma reunião e não têm onde ou com quem deixar as crianças. Há ainda local para reuniões, eventos e café.

E o mais interessante, conta a empreendedora, é que as empresas também podem usar o espaço para suas colaboradoras. “Temos a Casa e a comunidade, que chamamos de Lovers. A empresa compra a assinatura, que custa R$ 1 mil por ano, com direito a 30 mulheres, e todo mês realizamos eventos presenciais e/ou digitais, rodadas de mentoria, clube de benefícios. Quando a companhia assina tem uma comunidade inteira para a funcionária, incluindo personal branding. Ajudamos empresas sem que elas precisem de headcount”, explica ela.

Com esse modelo, a B2Mamy já soma 50 mil mulheres impactadas e colocadas em movimento e 32 empresas parceiras. Em meados de 2023, adianta Dani, a B2Mamy agregará um novo formato para as empresas que estão comprometidas com os indicadores de desempenho, lançando uma parceria com a Filhos no Currículo. Dani revela que a comunidade cresceu tanto que pela primeira vez em maio a B2Mamy realizará o Mãe Summit, que teve seus ingressos esgotados um mês antes do evento.

Dani reconhece que há ainda muito trabalho a ser feito no mercado em geral para apoiar mães em suas carreiras. Umas das iniciativas que contribuem sobremaneira para esse cenário é ter mais mulheres e mães na liderança. “Hoje, são 11% de mulheres em cargo de liderança. Com mais mulheres, conseguimos transformações mais rápidas. Claro, também precisamos de mais homens aliados. Além de ter empresas ou mulheres que estão decidindo pesar a caneta em prol da maternidade, da humanidade e de cuidar do seu time.”

Mães e tecnologia

Para as mães que estão pensando em iniciar uma carreira em tecnologia, Dani indica ficar de olho no mercado e, especialmente, se conectar à comunidade. “A resposta não está dentro de você, não vai encontrar, é preciso falar com outras pessoas. Se conecte a uma comunidade, entenda que você vai virar uma empregável e que precisa agregar habilidades de tecnologia”, aconselha.

Valer-se da nova economia e das profissões do futuro são outras dicas. “A maternidade nos ajuda a desenvolver uma série de competências, como liderança, gestão de conflito. O que você aprendeu vale muito e vai ser muito usado, mas também desenvolva outras competências”, recomenda, acrescentando que a intuição, muito aguçada nas mães, também é de grande valia no mercado de trabalho. “Intuição + repertório é o melhor dos mundos.”

Outra recomendação é entender de digital e a da nova geração. Com a recessão e os layoffs, naturalmente, as mães trabalharão com pessoas mais jovens e é preciso não só falar a língua deles, mas entender como se comportam.

Empregabilidade

Atuando na empregabilidade feminina, a Se Candidate, Mulher! impulsiona a carreira delas, incluindo na tecnologia. Fundada logo no início da pandemia, há três anos, por Jhenyffer Coutinho, CEO da startup, sua proposta é ajudar mulheres a se candidatar a vagas, uma vez que estudos mostram que elas somente aplicam a oportunidades quando entendem que preenchem 100% dos requisitos – algo que não acontece com os homens.

Até o momento, a startup já impactou mais de 20 mil mulheres e conta com cerca de 40 empresas aliadas. Com mais de 6 milhões de mulheres desempregadas atualmente, a HRTech entende que tem potencial de ir muito além.

“Ajudamos mulheres e mães que têm os requisitos para preencher as oportunidades, mas não sabem contar a história. Conseguimos atrair essas mulheres que as empresas estão precisando e as capacitamos para soft skills. Trabalhar a síndrome do impostor, o momento da entrevista, a oratória e vimos que não adianta só hard skill. Na área de tecnologia, por exemplo, temos vários cursos”, destaca Fernanda Miranda, cofundadora e COO da Se Candidate, Mulher!, citando o programa ADAS, como um deles, encerrado em abril, e que capacitou mulheres para desenvolvimento front end, back end e full Stack, além de produto e UX/AI.

A startup também está atualmente com milhares de vagas para a turma Marias, voltada para mães ou responsáveis legais. Os cursos de capacitação para mães ou responsáveis legais são voltados para a área de engenharia, tecnologia ou comercial. As inscrições vão até hoje,15/5.

Fernanda, que tem dois filhos, sempre acreditou que a mulher nunca deveria escolher entre maternidade e carreira. Esse cenário, no entanto, acontece todos os dias. “Eu mesma me organizei e parei de trabalhar dois anos para conseguir me dedicar à maternidade, mas tem mulheres que não têm como, não têm rede de apoio, e sofrem”, diz.

Atualmente morando na Espanha, ela lembra que lá a lei é diferente. O homem é corresponsável e tira as mesmas semanas de licença da mãe. “Uma pesquisa de 2019 da Crescer revela que 94% das mulheres têm dificuldade de conciliar a carreira e maternidade e 64% já viram a carreira prejudicada pela maternidade, isso pode ser por culpa do mercado que não está preparado para esse cenário”, opina.

Reconhecer potências

Fernanda destaca que o trabalho da Se Candidate, Mulher! contribui para que as mães reconheçam suas potências e, assim, elas conseguem mais oportunidades. “Nesse processo, autoconhecimento e comunicação são chave”, revela.

O modelo de negócio da HR Tech é gratuito para as mães e mulheres, o que permite que qualquer uma delas possa se capacitar para se fortalecer no mercado. Elas só optam pelo modelo pago se necessitam algo mais personalizado. “Criamos pontes. Além disso, algumas empresas possuem parceria estratégica para acompanhá-las durante o ano todo, ajudando em três pilares: recrutamento, retenção de talentos e marca empregadora”, sintetiza.

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