EXCLUSIVO: De saída da Petrobras, Marcelo Carreras deixa legado de estruturação

Marcelo Carreras não é mais o CIO Global da Petrobras desde o começo de maio. O executivo passou quase quatro anos à frente da área de tecnologia da empresa de óleo e gás (ingressou em agosto de 2019), nas quais liderou uma série tão grande de projetos e iniciativas que, durante a entrevista concedida com exclusividade ao IT Forum, foram vários minutos os enumerando.

“A gente teve algumas coisas interessantes”, diz, com alguma modéstia, principalmente quando se considera projetos da magnitude do apresentado por ele em conjunto com a EY, no IT Forum Trancoso desse ano.

Sobre sua saída da Petrobras, diz com naturalidade que se trata de um processo natural de transição de governo, e que “chegou o momento de encerrar o ciclo” – o que não por acaso, no caso da empresa de economia mista, costuma mesmo durar quatro anos. “E dar oportunidade para que a gestão possa fazer os movimentos que ela acha que tem que ser feitos.”

Outros diretores estatutários também deixaram suas posições recentemente, conta Carreras.

Antes da Petrobras, Carreras passou quase 10 anos como CIO da CPFL (entre 2006 e 2019), tendo passado anteriormente pela Light (2006-2009) e Rio Grande Energia (1998-2006), em ambas também como CIO. Da petroleira, elogia sobretudo a qualidade da equipe com que trabalhou, apesar dos desafios de contratação e formação de times comuns às empresas de economia mista, que exigem concursos públicos.

“É um pessoal muito bom. Uma empresa receptiva para fazer a transformação acontecer, os negócios todos dando apoio. Talvez tenha sido o lugar em que trabalhei com o melhor time em termos de qualidade, qualificação e execução”, pondera, ressaltando que a empresa sempre investiu muito em capital humano. “Também tive suporte de toda alta administração.”

Carreras diz ter “aprendido muito” na Petrobras e sobre o negócio da companhia, principalmente com as pessoas que ali atuam, e que é “isso que vale, as trocas que se faz”. E que no fim mesmo os maiores cargos são passageiros, e que após muitas missões cumpridas “o que fica são as relações que se faz com as pessoas”.

“Cumpri minha missão aqui, também para o Brasil, para o País. Porque a Petrobras é de todos nós, é uma empresa brasileira de que temos que nos orgulhar”, diz.

O executivo diz que não tem outro cargo em vista, e que embora algumas oportunidades estejam na mesa, inclusive nos EUA, ele está “avaliando com cuidado”. Outra opção é atuar no mercado de consultoria, mas é preciso que haja proposito e desafio. “Minha carreira foi feita em cima de pegar grandes companhias e fazer um processo de transformação acontecer”, diz.

Maiores realizações na Petrobras

Perguntado sobre qual é o grande legado que deixa na Petrobras, Carreras acredita que é o alinhamento promovido entre a tecnologia e as necessidades das áreas de negócio. E, ao mesmo tempo, executar projetos estruturantes, que ele considera “fundamentais para que a transformação digital pudesse acontecer”.

Entre esses projetos estão iniciativas em conectividade, estratégias de nuvem, a implantação de metodologias ágeis em diversas áreas, inclusive de negócios, a criação de centros de pesquisa para tecnologias emergentes, além da atualização de grandes plataformas (inclusive o ERP), a ampliação da capacidade dos supercomputadores (HPCs), entre muitos outros.

“A companhia precisava fazer um movimento de transformação após um período de baixa, sem muitos investimentos”, diz, se referindo principalmente ao período após a Operação Lava-Jato, operação policial iniciada em 2014 e que investigou esquemas de lavagem de dinheiro desviado da empresa. “Tive o privilégio de poder fazer esse movimento [de transformação digital], em que se reuniu as áreas de tecnologia todas, inclusive nossos centros de pesquisa, debaixo de um único guarda-chuva.”

Também havia, lembra ele, uma forte demanda sobre o uso de tecnologia por parte das áreas de negócio da Petrobras, principalmente para tirar valor de projetos digitais. Mas inexistia um plano estratégico de tecnologia funcionando em conjunto com o plano estratégico global da companhia. Faltava um proposito claro do que precisava ser feito, sem falar nas lacunas geradas pela falta de investimentos anteriores à 2019, quando ele assumiu o cargo de CIO.

“Os desafios eram muito grandes, uma vez que a gente tinha uma foto não muito boa da área de TI na Petrobras”, lembra Carreras. Havia, diz ele, uma impressão de que o problema eram as pessoas, e não a falta de estratégia conjunta com os negócios.

“O mais legal dentro desse período de transformação é que os times conseguiram demonstrar na prática, com tudo que a gente realizou nos últimos anos, que o problema não eram eles, mas a falta de alguns componentes importantes e um programa de transformação”, se recorda. “E a gente comprovou que uma vez que se cria uma estratégia e uma aproximação dos negócios, se conecta os dois, surge um movimento positivo para que as pessoas entendam o que estão fazendo.”

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