Na era da IA, cuide dos processos e das pessoas

intel e umc anunciam nova colaboração, MeetRox

Metaverso, Indústria 4.0, blockchain, RPA, IA, são tantas siglas que nos fazem pensar: a área de tecnologia traz inovação, mas ao mesmo tempo também consegue gerar muita euforia com “trend topics” que parecem que vão revolucionar o mundo num piscar de olhos, será que na prática é assim que acontece?

Fui convidado a participar de um evento da Brascom, o TecFórum – Pocket, com líderes da Amazon, da Microsoft, pessoas do board e associados da Brasscom e também de consultorias mundiais. O tema discutido foi: “O impacto da IA no Brasil”.

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Nesse evento, o sócio da Oliver Wyman, empresa global de consultoria, trouxe dados de uma pesquisa feita em 16 países com mais de 25 mil pessoas que nos mostrou alguns fatos surpreendentes como: – O Brasil também está entre os líderes no uso frequente de IA, com 67% dos entrevistados utilizando ferramentas de IA semanalmente. Neste quesito, o país fica atrás apenas de Índia, Indonésia e Emirados Árabes;

– 94% confiam nessa tecnologia – taxas superiores às de nações como Estados Unidos e Reino Unido. Além disso, 87% dos brasileiros relataram o uso da IA no ambiente de trabalho, acima da média global de 79%.

Os dados nos trazem um debate claro: o brasileiro é muito engajado quando o assunto são novas tecnologias, porém essa confiança também pode trazer riscos. Somos um dos países que mais utilizam redes sociais e whatsapp, mas sabemos tratar dados de uma maneira responsável?

Hoje os brasileiros ainda levam dados que podem ser altamente sensíveis para uma base de dados central sem nenhuma regulamentação. Esse cuidado já é muito debatido em países desenvolvidos, mas por aqui ainda estamos para trás.

O ponto central da discussão no evento não foi a regulamentação ou os riscos, e sim a pergunta: Por que o brasileiro adere fortemente às novas tecnologias?

Bem, eu particularmente acredito no “mantra” que falávamos na ABPMP (associação de BPM) em eventos por todo o Brasil desde 2009 que é. “O Brasil tem que melhorar 10x mais que qualquer país do mundo nos próximos 10 anos para chegar perto da produtividade dos países desenvolvidos”.

Como isso na prática não necessariamente ocorre, as pessoas estão lotadas de trabalho, de processos ruins, de sistemas que não se falam, trabalham horas e horas em coisas repetitivas e maçantes. E buscam coisas “milagrosas” para ajudá-las a sair dessa situação.

Na minha visão existem dois lados, o lado bom é a abertura para adoção de novos experimentos, mas o lado desafiador é que não existem soluções milagrosas. As tecnologias auxiliam e vão auxiliar cada vez mais as empresas e as pessoas, isso é inevitável, mas a pergunta que aparece é: com qual propósito? Alinhadas com qual objetivo?

Essas perguntas passam por “desconfiar do óbvio” ou seja, se investirmos nos processos conseguimos entender melhor onde aplicar IA ou outras tecnologias. Se investirmos nas pessoas, saberemos ainda mais como ajudá-las a usar tais tecnologias com mais responsabilidade.

O foco da adoção de tecnologias deveria ser nos processos e nas pessoas, pois desde que o mundo industrial/globalizado existe a tecnologia avança, mas ainda estamos longe de ter os melhores atendimentos, as melhores experiências, as melhores eficiências e até a melhor qualidade de trabalho e entrega. Isso acontece porque, na maioria das vezes, os processos continuam ruins nas empresas, existem muitos sistemas, cada vez mais dados, “silos” de departamentos e sistemas legados.

Ter foco nos processos significa mais do que apenas implementar robôs e IA no dia a dia das operações, e sim pensar no ponta a ponta, na entrega de valor das atividades, na eficiência e principalmente na orquestração. Um músico genial não faz uma orquestra sozinho, ele precisa de um maestro para ajudá-lo a sincronizar todos os instrumentos.

Por fim, gosto da frase “o essencial é invisível aos olhos” de Antoine de Saint-Exupéry, ou seja, são processos e pessoas que transformam as empresas em algo melhor para o mundo e as tecnologias são os recursos e meios para isso, e não ao contrário. Parece óbvio mas na real, não é o que temos visto com todos esses “trend topics”. Concordam?

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