Na hora de inovar, ‘não importa de onde vem a ideia’

O primeiro debate de CIOs da edição de 2023 do IT Forum Trancoso botou os pés do tema liderança ambidestra no chão. Afinal, como os líderes das áreas de TI podem inovar e manter as operações rodando, tudo ao mesmo tempo, na prática? A resposta tem duas partes: a primeira é contar, e muito, com a ajuda do ecossistema; e o segundo é reduzir as hierarquias culturais e permitir que a sanha por inovação venha de toda a companhia (além dos mesmos parceiros).

“Se o funcionário vê o líder dispensar um fornecedor que vem com ideias muito diferentes, o time vai entender que essa é a mensagem. Ele pode até querer fazer [inovação], mas vai ficar com medo”, ponderou Edilson Reis, CIO do Bradesco, durante o painel Ambidestria na prática e desafios do novo líder de TI, realizado nessa quinta (20).

Para o executivo, os líderes de tecnologia têm a responsabilidade de ser receptivo às ideias vindas de todos os lados. E que esse movimento se intensificou nos últimos dez anos, e os líderes têm deixado de se achar donos de verdades absolutas.

“Eu brinco com os fornecedores que a gente mudou, e que se ele não disser alguma coisa que precisa ser feita diferente [pelo banco], ele não agrega mais valor. No começo os fornecedores achavam que era pegadinha”, brincou, ressaltando que, apesar de algum incomodo pontual, “não importa de onde veio a ideia”, mas sim os resultados obtidos.

IT Forum Trancoso: buscar ‘guri interior’ é caminho para inovar nas empresas

Auana Mattar, CIO da TIM, ressaltou que o incomodo causado por novas ideias também precisa vir dos times internos, e que a experiência da operadora passou por disseminar essa cultura entre todos os times – e não criar um time apartado. Principalmente em um setor em que a tecnologia precisa encontrar um balanço entre inovação e necessidades cotidianas do negócio.

“Ter um time separado para inovação, no nosso caso, não funcionou. Rolou até um certo boicote e trouxemos para dentro de novo”, contou. “O que a gente faz muito é usar os parceiros, pinçar algumas pessoas e encontrar valor em projetos.”

Agora, entre outras estratégias, a TIM tem apostado em pessoas chave, provocadores que Auana chama de “meus punks”.

“A gente põe sempre um ‘punk’ nos times. Temos quase 500 pessoas na TI da TIM, e muita gente odeia [os punks], outros amam. Mas eles criam esse atrito positivo. É bom quando você pinça os parceiros e dá liberdade para eles darem uma ‘atropelada’ e mostrar onde você está errado”, ponderou. “A gente tem que hackear nossa cabeça e o sistema.”

Fernando Pajares, CIO do Banco Digi+, concorda que é bom ter alguém que “joga água no chop” de times de tecnologia estabelecidos. Mas também traz desafios para quem atua em setores muito regulados – como o financeiro e o de telecomunicações. Mas todo movimento deve ser feito de forma ampla.

“Não tem uma receita. A gente incentiva os parceiros, mas não se pode esquecer também da inovação interna. E dentro dos nosso próprios processos”, ressaltou o executivo do Digi+. “Sim, temos que ser mais eficientes e reduzir custos, mas também ter uma pequena estratégia de usufruir dessas tecnologias.”

“A gente tem um orgulho enorme de ter ajudado várias das empresas que estão aqui no IT Forum. A gente tem obrigação de ser ponte para o futuro delas”, ressaltou Marcelo Braga, presidente e líder de tecnologia da IBM Brasil, que também participou do painel. “Essa experiência conjugada é o que nos ajuda a criar pontes. Não é sobre ilhas isoladas, nem sobre mainframes, dados, ou pessoas, mas como tudo trabalha de forma junta.”

Concorrência e ecossistemas

O executivo da IBM também apontou uma grande mudança de cenário no mundo dos negócios, e que também tem impacto sobre a capacidade de inovação e de gerar resultados das empresas: quando é “o coletivo que importa” e as empresas precisam colaborar entre si em muitos níveis, então as antigas regras de concorrência dualista caem por terra.

“No fundo é um mundo sobre ecossistemas, inovação aberta e conectar. E não mais ser o centro”, ressaltou Braga. “Não é mais sobra A ou B, mas sim sobre a necessidade de se reinventar.”

“Nós sempre nos apoiamos em parceiros e fornecedores, mas sempre houve uma competição muito forte entre operadoras e até provedores de conteúdo”, lembrou Auana Mattar, da TIM. “Viver na ambidestria só é possível trabalhando em parceria com o ecossistema. Muitas vezes estamos em uma sala com os competidores, fazendo RAN sharing [compartilhamento de redes móveis]. Sentados com os competidores para inovar e trazer resultado para o cliente.”

Edilson Reis lembrou que a ascensão das fintechs teve efeito parecido sobre o setor bancário. Quando as primeiras apareceram, disse, a primeira reação foi “de que elas eram um problema”. Mas essa visão foi mudando ao longo do tempo até se tornar um “que bom, vamos nos associar a elas”.

O resultado, disse, foi a modernização do setor como um todo. E os grandes bancos, que precisavam ganhar velocidade sem prescindir da segurança, ganharam com isso.

“A gente brinca que as pessoas no laboratório [de inovação] tem ‘licença para matar’. Mas eles eram mal-vistos pelo resto da empresa, diziam que eles estavam ‘brincando’. Mas a partir do momento em que a ‘brincadeira’ dos caras virou insumo para o negócio, eles começaram a a ter valor. As outras [áreas] entenderam que dali viria a inovação”, disse.

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