‘Não ia me submeter’: Bolsonaro explica por que se recusou a passar faixa presidencial a Lula

Durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) explicou por que decidiu não participar da cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1º de janeiro de 2023. “Não passei [a faixa] porque não ia me submeter a passar a faixa para esse atual mandatário aí”, afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre sua ausência no evento. Dois dias antes da posse, em 30 de dezembro de 2022, Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos e permaneceu no exterior por três meses. A decisão, à época, foi interpretada como um gesto simbólico de não reconhecimento do resultado das eleições — que deram vitória a Lula no segundo turno, com 60,3 milhões de votos.
A declaração foi feita no contexto da ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro liderou um plano para impedir a posse do presidente eleito e manter-se no poder de forma inconstitucional. Minuta golpista e plano de atentado. A denúncia aponta que Bolsonaro teve ciência e participação na formulação de uma minuta de decreto que previa estado de exceção, intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e até a prisão de autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes. O documento foi encontrado pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, então ministro da Justiça.
Além disso, a PGR incluiu na denúncia menções ao plano batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, que teria como objetivo assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Moraes. Segundo as investigações, Bolsonaro foi informado sobre a proposta, embora não haja, até o momento, provas de que tenha ordenado sua execução. Durante o interrogatório, Bolsonaro negou envolvimento direto com o plano e com a minuta. “Não existiu isso aí”, disse em outro trecho, ao rebater declarações de ex-auxiliares como Mauro Cid e Felipe Martins, que afirmaram que ele leu o documento e chegou a sugerir alterações.Reta final das investigações.
O depoimento desta terça-feira faz parte da fase final da ação penal que apura o suposto núcleo político e militar envolvido na tentativa de golpe. Além de Bolsonaro, também foram ouvidos nomes como Anderson Torres, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem e Almir Garnier. A expectativa é que os interrogatórios se encerrem até sexta-feira (13). O julgamento deve ocorrer no segundo semestre. Caso seja condenado, Bolsonaro pode pegar mais de 30 anos de prisão por crimes como associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe.