“Não basta só incentivo federal; estados precisam entrar no jogo”, diz AWS sobre expansão de data centers no Brasil

Dominic Delmolino, vice-presidente global de tecnologia da AWS para o setor público. Imagem: Pamela Sousa. federal

O Brasil pode estar diante de uma janela inédita para se firmar como um dos principais hubs globais de infraestrutura digital. A medida provisória que antecipa os efeitos da reforma tributária e prevê a desoneração de data centers deve ser aprovada nesta semana pelo governo federal. A proposta inclui isenção total de tributos federais sobre investimentos no setor, redução do Imposto de Importação para equipamentos não fabricados no país e desoneração das exportações de serviços gerados por essas estruturas.

Durante coletiva de imprensa com jornalistas, Paulo Cunha, diretor de políticas públicas da AWS para América Latina, afirmou que o novo pacote de incentivos federais seria datum avanço importante, mas não resolve os entraves para projetos de longo prazo.

“A gente precisa de isenções no nível estadual também. Só com os benefícios federais, ajuda, claro, mas não é suficiente. Se não houver clareza sobre os tributos ao longo de 10 anos, você não fecha o plano de negócios”, disse Cunha.

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Segundo ele, o maior desafio agora é convencer os estados a aderirem à proposta da União, o que exigirá uma uniformização do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A falta de previsibilidade tributária compromete o planejamento de investimentos em infraestrutura digital, que costumam ter um horizonte de 10 a 15 anos.

“A política federal nos dá essa visão de longo prazo. Agora, o desafio é federativo. Esperamos que os estados acompanhem essa diretriz. Isso seria benéfico para o setor e para o país”, afirmou.

O elo entre IA, energia e infraestrutura

O avanço da inteligência artificial transformou os parâmetros de operação e expansão dos data centers. Segundo Dominic Delmolino, vice-presidente global de tecnologia da AWS para o setor público, a IA é hoje simultaneamente motor de crescimento e vetor de reconfiguração das prioridades técnicas e ambientais da infraestrutura de nuvem.

“Estamos vendo a IA ser usada de forma criativa para resolver problemas complexos. Por exemplo, na hora de planejar um novo centro de dados, ela permite integrar dados ambientais, de clima, de acesso à energia e à mão de obra. Isso gera uma análise mais precisa de onde e como investir”, afirmou.

Delmolino também destacou que, para acompanhar essa nova demanda, a AWS vem modernizando seus centros de dados com chips próprios, mais eficientes, e sistemas de resfriamento com menor consumo de água. Ele reafirmou o compromisso da empresa com metas de sustentabilidade.

“A Amazon é a maior compradora corporativa de energia renovável do mundo. E nossos data centers são projetados para operar com altíssima eficiência energética e hídrica. Estamos substituindo equipamentos antigos por soluções mais sustentáveis”, disse.

Risco regulatório à inovação

Além da questão tributária, a AWS aponta riscos no debate sobre a regulação da inteligência artificial no Brasil. O projeto de lei em tramitação no Congresso traz dispositivos que, segundo a empresa, podem travar a inovação ao exigir, por exemplo, a responsabilização retroativa pelo uso de dados em modelos de IA.

Cunha citou o caso de um pesquisador que desenvolve um modelo com dados anonimizados e, anos depois, é questionado legalmente pela origem da base. “Isso pode invalidar anos de pesquisa e afastar pesquisadores e empresas. Estamos no meio de uma discussão que precisa ser mais equilibrada. Se não cuidarmos da cadeia produtiva da IA, vamos comprometer toda a política de incentivo à infraestrutura”, disse.

Para a AWS, o país tem vantagens competitivas como a matriz energética e a capilaridade de sua rede hospitalar e universitária, mas precisa garantir segurança jurídica e estabilidade regulatória para transformar potencial em investimento concreto.

“A oportunidade que temos é real, mas ainda não estamos lá. As políticas estão se movendo, e isso é positivo. Mas não podemos permitir que a inovação seja interrompida por incertezas”, concluiu Cunha.

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