O calote contra o BNDES de US$ 1,1 bilhão é fantasma que volta a assombrar

Infelizmente, esse aprendizado parece não fazer parte da matemática superior do primeiro ano primário do governo. Somando a grana não recebida dos empréstimos concedidos para obras em Caracas, US$ 722 milhões destinados à construção do metrô; para obras em Cuba, US$ 250 milhões empregados no belíssimo e moderno Porto de Mariel; um “trocado” de US$ 122 milhões a Moçambique, mais alguns pixulecos de uns “boletos” de cerca de US$ 500 mil que estão próximos de entrar para essa espécie de fundo perdido, o total chega a números estonteantes.

A “furiosa”, a bandinha que no passado se postava na frente da casa do devedor para avisar a vizinhança que o sujeito era caloteiro, entraria em ação para cobrar a bagatela de US$ 1,6 bilhão. Uma ninharia que daria para construir dezenas de milhares de casas populares.

Os amigos do rei foram apenas cinco empreiteiras brasileiras, que levaram cerca de 98% dos recursos alocados para esses empréstimos. E sabe que organizações foram essas? Aquelas enroladas na Operação Lava Jato.

Qualquer argumento utilizado pelo governo para defender os créditos que ainda teima em retomar pode ser refutado com a simples menção dessa inadimplência assustadora. Mas qual o quê! Já há planos para trazer à tona novamente a mesma política que não deu certo.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já pensa em conceder créditos para empresas de engenharia brasileiras exportarem seus serviços. Se forem as mesmas companhias e os mesmos países que participaram do prejú – e tudo indica que sim – e adotarem os mesmos critérios creditícios estabelecidos nas últimas gestões do atual governo, será o mesmo que rasgar dinheiro e jogar os cifrões pela janela.

Quando eu atuava no mercado financeiro, em todas as organizações em que trabalhei, fazíamos um comitê de crédito. As operações mais vultosas, que escapavam da franquia liberada para o gerente da agência, eram analisadas por esse grupo de especialistas. O maior temor era o de emprestar dinheiro para empresas que depois não tivessem condições de honrar os compromissos.

Por isso, todos os detalhes eram checados com lupa. Como era preciso fazer empréstimos para dar lucro ao banco, de vez em quando, mesmo correndo algum risco a operação era aprovada. Não dava outra. Os tomadores de recursos que não conseguiam pagar eram aqueles que não haviam passado por uma análise tão rigorosa do comitê.

Na reunião seguinte começava a caça às bruxas, todo mundo querendo saber de quem havia sido a culpa por não ter observado esse ou aquele detalhe. Depois de muita discussão, havia concordância tácita de que cada componente do grupo tinha sua dose de responsabilidade.

Embora os números sejam mais expressivos, o que exige lupas mais poderosas na avaliação dos créditos, guardadas as devidas proporções, os empréstimos concedidos pelo BNDES devem obedecer ao mesmo rigor de estudo dos negócios realizados pelas organizações financeiras.

Já há experiência negativa nessas negociações. Depois não adianta reunir novamente o grupo que aprovou as operações para achar os culpados. Não, todos têm responsabilidade porque já sabem de antemão que “vai dar BO”. Aqueles que estão na administração do país hoje são os mesmos que emprestaram dinheiro quando estavam nas gestões passadas. Já descobriram que não deu certo. Ou seja, já levaram choques suficientes pondo o dedo na tomada.

Nem essa desculpa de que o objetivo é o de ampliar o relacionamento com outras nações cola. Que tipo de interesse, além do ideológico, pode haver nessas operações? Nenhum.

Será que alguém duvida de que países como Argentina, Cuba, Venezuela e outros genéricos ou similares não vão cumprir com seus compromissos?!

Se insistirem nas mesmas ações sem cuidados adicionais, será por incompetência ou outros motivos que não cabem aos analistas de risco observarem, pois, nesse caso, o negócio estará além de suas obrigações profissionais e distante do poder de suas lentes. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

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