O desenvolvimentismo voltou à moda?
Em janeiro, Lula reuniu em Brasília representantes da indústria brasileira para anunciar a liberação de mais de R$ 300 bilhões em crédito barato para estimular a inovação e a geração de empregos. A Nova Indústria Brasil (NIB) promete mudar o perfil da economia em apenas dez anos, com investimento pesado em transformação digital, bioeconomia, descarbonização, transição e segurança energética; também em defesa, saúde, cadeira agroindustriais e bem-estar das pessoas nas cidades. Parece utópico. Parece mais do mesmo, especialmente vindo do presidente que se acostumou a dizer que “nunca antes na história deste país”… Especialmente, vindo de um governo que se acostumou a usar os recursos do Tesouro para criar gigantes nacionais e financiar obras no exterior. “O nosso problema era dinheiro, se dinheiro não é problema então nós temos que resolver as coisas com muito mais facilidade”, disse Lula a seus ministros.
Esse fantasma dos governos petistas do passado, claro, voltaram a assombrar economistas, que também enxergam como utópica a meta de déficit zero para 2024. Alguns, inclusive acham que o programa carece justamente de metas. Outros, que a nova política é só a mesma velha política com nova embalagem. “Essa política industrial, ela também se insere com outras medidas, nós vimos recentemente o caso de Abreu e Lima, o próprio BNDES discutindo sua participação, que configuram um modelo de política econômica que muitas vezes dá ganho de curto prazo, mas não se sustentam no longo prazo. E isso é perigoso. Nós podemos estar plantando uma próxima década perdida”, diz Roberto Ellery, professor de Economia da UnB.
Dos R$ 300 bilhões anunciados, ao menos R$ 250 bilhões sairão dos cofres do BNDES, que bebe na fonte do Tesouro e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Também não estão descartados outros bancos públicos e fundos de pensão. “Nós precisamos fazer um debate franco. Eu quero perguntar a esses que todos os dias escrevem que estamos trazendo medidas antigas, me expliquem a China. Me expliquem por que a China é o país no mundo que mais cresceu em 40 anos e este ano 5,3%. Me expliquem a política econômica americana (…) Já são US$ 2 trilhões para a década. Subsídios!”
China e outros países asiáticos surfaram como poucos na globalização, roubando empregos de outros países, inclusive dos EUA e da Europa, que agora trabalham para recuperá-los, ampliando o protecionismo e, sim, subsidiando diferentes setores. “Há uma mudança muito grande na conjuntura econômica e política mundial. As novas tecnologias, a entrada da digitalização no processo produtivo, as impressores 3D, o uso de computadores, o uso de robô em grande escala, a questão da sustentabilidade, os reflexos da pandemia da Covid, tudo isso obrigou os países a fazerem uma reavaliação dos seus métodos de produção e importação, de dependência externa de produtos que são essenciais, seja na área de energia, de saúde, de alimentos; fez com que as grandes economias passassem a investir pesadamente na retomada de suas indústrias”, observa Celso Pansera, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).
Com a diferença de que são economias muito mais dinâmicas, onde há concorrência de fato, e não cartéis e oligopólios que acabam drenando a maior parte dos recursos destas políticas de estímulo à indústria aqui no Brasil. “Tanto a Finep como o BNDES, que são os principais agentes econômicos deste programa, têm um corpo técnico muito qualificado que aprendeu com lições passadas e estruturam projetos novos, de uma forma diferente”, emenda Pansera. Vamos fazer diferente desta vez?
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