O olhar invisível da patologia pulmonar no combate ao câncer de pulmão

O câncer de pulmão é um dos diagnósticos mais temidos do século XXI, já que ele é silencioso e muitas vezes descoberto em estágios avançados, sendo ainda a principal causa de morte por câncer no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Contudo, por trás das imagens de tomografia e das decisões clínicas que salvam vidas, existe uma especialidade médica pouco conhecida do público: a patologia pulmonar.

É o patologista quem confirma, com precisão, se uma lesão suspeita é ou não um câncer, e mais do que isso: define o tipo, a agressividade e as características moleculares do tumor. Essas informações são fundamentais para orientar o tratamento correto — seja cirurgia, quimioterapia, imunoterapia ou uma combinação de abordagens.

Muitos imaginam o patologista como alguém que apenas “lê lâminas no microscópio”. Mas a realidade é muito mais complexa e crucial. No caso do câncer de pulmão, o trabalho do patologista começa com a análise da história clínica e epidemiológica, passa pela classificação histológica do tumor (por exemplo, adenocarcinoma ou carcinoma de células escamosas) e pode avançar para testes moleculares sofisticados, como a pesquisa de mutações nos genes EGFR, ALK e KRAS.

Esses testes permitem definir terapias-alvo, que atuam diretamente nas alterações genéticas do tumor e oferecem mais eficácia e menos efeitos colaterais. Sem esse diagnóstico de precisão, o tratamento vira uma aposta às cegas. Em termos simples, o patologista pulmonar é o “detetive” que revela a identidade do tumor. É ele quem transforma amostras microscópicas em informações estratégicas para que oncologistas e pneumologistas possam agir com precisão.

Um exemplo notório da importância dessa atuação foi o caso da apresentadora Ana Maria Braga, que em 2020 revelou ter sido diagnosticada com um segundo câncer no pulmão. O tratamento multidisciplinar incluiu avaliação minuciosa de biópsias e marcadores moleculares, que ajudaram a guiar a conduta. Sem o laudo do patologista, todo o plano terapêutico poderia ter seguido uma direção equivocada.

Uma das revoluções recentes na oncologia foi a chegada da imunoterapia, que estimula o próprio sistema imunológico a combater o tumor. Mas ela só funciona em certos pacientes, identificados por exames imunohistoquímicos e moleculares feitos por patologistas. Ou seja, mais uma vez, o sucesso do tratamento começa sob a lente de um microscópio — e com o conhecimento do patologista.

Essa especialidade também ajuda a evitar tratamentos desnecessários ou tóxicos, especialmente em pacientes idosos ou com doenças associadas. Em muitos casos, é possível saber se um tumor é agressivo ou indolente, e se merece um tratamento intensivo ou apenas acompanhamento clínico. A medicina do século XXI é, antes de tudo, uma medicina baseada em evidências e precisão. E nesse cenário, o patologista pulmonar deixou de ser um coadjuvante para se tornar um personagem central no combate ao câncer de pulmão.

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Apesar disso, seu trabalho segue pouco conhecido da população — e até mesmo de outros profissionais de saúde. Talvez porque ele atue nos bastidores, longe das câmeras, dos consultórios e das manchetes. Mas é justamente ali, no silêncio do laboratório, que muitas vidas começam a ser salvas.

Prof. Dr. Alexandre Todorovic Fabro
Médico-Patologista – CRM/SP 119.841 – RQE 48419
Professor Associado pela USP Ribeirão Preto