O plano de Lula para zerar o déficit subiu no telhado faz tempo
Lula atualiza e dá novas feições à história do menino que aprendeu a transmitir notícia ruim. Na fábula original, bastante conhecida, o garoto foi orientado pelo pai a não contar logo de cara que o gato havia morrido. Deveria dizer antes que o animal subira no telhado, depois escorregado, em seguida se machucado ao cair, e, finalmente morrido. Algum tempo mais tarde, o menino liga para o pai e mostra que havia assimilado a lição: papai, a vovó subiu no telhado. Como Lula aplicou essa metáfora na prática? Será que alguém acreditou que o ministro Haddad falava sério quando garantiu que pretendia zerar o déficit em 2024? Não! Analistas competentes, sem engajamento ideológico, perceberam pela fúria gastadora do governo que essa conversa não era séria. Bastava esperar um pouco para que o felino pintasse em algum telhado. Realmente não tardou.
Lula tomou a iniciativa de alardear que o bichano perambulava sobre o teto do Ministério da Fazenda. Como o fato era importante demais, antes de colocar o gato no telhado, acrescentou mais uma etapa na narrativa e avisou que ele poderia estar por perto. Na sexta-feira, 27, como se estivesse tudo dentro da normalidade, encenou o teatro: ouvi um miado em cima das telhas do Haddad. O presidente substituiu a velhinha pelo déficit zero. Aproveitou o café da manhã com os jornalistas no Palácio do Planalto para dar a notícia. O chefe do Executivo, para espanto de zero pessoas, avisou que a meta de eliminar o déficit primário “dificilmente” seria atingida em 2024. Nããão, é mesmo?! Justificou a decisão alegando que não deseja fazer corte em investimentos destinados às obras. Em seguida colocou o gato no telhado: “E se o Brasil tiver déficit de 0,5%, 0,25%, o que é? Nada”. Bem, esse seria só o primeiro passo. Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, um afrouxamento da meta pioraria as expectativas para as contas públicas em 2025, fomentando dessa forma um maior prêmio de risco. Portanto, essa falta de controle, ao contrário do que diz Lula, não faz bem ao país. As consequências são conhecidas e perversas: aumento do endividamento, elevação das taxas de juros e crescimento da inflação. Esse quadro, como o brasileiro já sabe, corrói o poder de compra da camada mais pobre da população.
Além de o presidente não querer ouvir recomendações sensatas de especialistas preocupados com o futuro do país, ainda ironiza quem pensa diferente. No domingo, dia 5, disse que os opositores e os economistas são “as pessoas mais sabidas do mundo. Quem sabe qualquer dia desses eu até me inscrevo para fazer um curso de economia”. Até que não seria mal se tivesse pensado nisso antes. Talvez sua “lógica” fosse outra. Voltemos ao bichano. Era preciso derrubá-lo do telhado e anunciar a sua morte. As etapas seguintes da notícia foram terceirizadas. O passo posterior ficou por conta do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). Em reportagem do Estadão de quarta-feira, dia 1, revelou: “Acho mais razoável trazer para 0,75%”. Ou seja, em menos de uma semana, o 0,25% de Lula já havia pulado para 0,75%. Pronto, o animalzinho estava no chão. Era preciso ainda anunciar a sua morte. Quem poderia se habilitar? Eis que surge outro arauto de peso, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ). Em matéria de “O bastidor” de domingo, dia 5, sua excelência parece ter dado o tiro de misericórdia no Félix. Ele estima que o déficit deve ficar entre 0,52% a 1,01% do PIB. Como pelas regras do arcabouço fiscal há possibilidade de 0,25% como tolerância sem que o governo seja penalizado pelo acréscimo, não seria exagero aumentar esse extra no 1,01%. Ou há algum ingênuo imaginando que se puderem chegar a 1,01% irão se contentar com o 0,52%? Sem esquecer do troco de 0,25% já escalado para dar garantia, lógico!
É espantoso! Em menos de dez dias o zero de Haddad pulou para o 0,25% de Lula, que passou rapidamente pelo 0,75% de Lindbergh Farias e chegou a 1,26% (já incluindo aí o 0,25% que ninguém vai deixar de acrescentar). Haja imposto para correr atrás desses números irrefreáveis. O gato morreu? Não nos esqueçamos de que esse animal tem sete vidas. Portanto, não basta apenas cair do telhado e estrebuchar, há muita UTI pela frente. Nada impede que apareça outro iluminado querendo melhorar ainda mais a “situação do povo” e refazendo esses cálculos para elevá-los a novos patamares. Cortar gasto que é bom, é melhor esquecer. Os céticos poderão revirar a cartilha petista do avesso que não vão encontrar uma única tesoura pronta para entrar em ação. Prepare o bolso porque vem mais imposto por aí. Siga pelo Instagram: @polito