O trem Tarcísio está partindo… quem vai embarcar?

Jair Bolsonaro recuou nas críticas a Tarcísio de Freitas sobre a reforma tributária. O governador de São Paulo passou dias sendo atacado por bolsonaristas nas redes depois de aparecer ao lado de Fernando Haddad e dizer que concordava com 95% do texto da PEC. Como disse no Pingos nos Is, o ex-presidente é livre para tacar pedras no governo Lula, na gestão de Arthur Lira e até na parada gay, enquanto seu ex-ministro está limitado pelo cargo de gestor que ocupa. Tarcísio precisa fazer política, dialogar e governar para todos os paulistas. Sabe que não pode cair na armadilha de disputas ideológicas, muito menos eleger o presidente da República como inimigo — tal erro levou João Doria a encerrar sua carreira política mais cedo.

Claro está que a atuação de Tarcísio em Brasília serviu a São Paulo, pois garantiu importante mudança na formatação do Conselho Federativo — o texto original não considerava o peso da economia do estado no PIB nem o tamanho de sua população. Problema resolvido, caberá à oposição no Senado, na volta do recesso parlamentar, se organizar para ajustar a PEC ao objetivo anterior de simplificação do sistema tributário associada à descentralização da arrecadação, respeitando o princípio federativo. A cláusula pétrea da Constituição se mostra cada vez mais necessária, vide a discussão sobre o inaplicável piso nacional da enfermagem.

Bolsonaro, naturalmente, se deu conta do resultado da articulação de Tarcísio e do risco de perder seu maior ativo político. Caso seguisse mobilizando seguidores na campanha de ataques, o resultado seria empurrar o governador para o centro e isolar-se ainda mais na extrema direita. O ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, que começou a trilhar sua carreira política no DNIT de Dilma Roussef, mantém com habilidade canais de interlocução com caciques do PT e de partidos satélites, é respeitado no Centrão e defende uma agenda liberal na economia. Mostra-se publicamente como um homem de convicções republicanas. Foi ungido pelo sistema político-jurídico e representa, diante da rejeição ao bolsonarismo, o melhor caminho para a reabilitação da direita.