O verão e o bendito (maldito) corpo: como lidar com nossas inseguranças nessa época do ano?

Quem me conhece sabe: eu já fui gorda pra caramba, 100 kg, conto logo. Eu não estava confortável daquele jeito e minha relação com a comida não era saudável. Eu não conseguia controlar o que botava pra dentro. Era uma carrocinha de cachorro-quente desgovernada. E se tinha uma coisa que me deixava infeliz era aquela barriga. Sempre ela. Quando não estamos satisfeitos com nosso corpo, parece que o mundo é feito de espelhos. Acordo e vou escovar os dentes. Dou de cara com quem? Eu mesma, num horário difícil: sem soutien e despenteada. Vou me trocar. Ao lado do armário tem o quê? Um espelho de corpo inteiro. Além de avaliar o look, dou aquela viradinha pra checar o bumbum. Dificilmente satisfaz meus ambiciosos critérios (Anitta?).

Com o advento da câmera do celular, nos confrontamos, frequentemente, com nossa autoimagem. Se saímos bem, é porque o ângulo nos favoreceu. Se saímos mal, temos certeza de que é a realidade. Há uns anos fiz um tratamento para compulsão alimentar com dieta e terapia em grupo. Aqueles muitos quilos que me atrapalhavam a vida eu perdi. Durante um bom tempo meu corpo se acomodou bem. Mas foi após os 40 anos, marco da maturidade — e da flacidez —, que meu corpo começou a me encher o saco de novo. Hoje, como a maioria da população lutadora, gostaria de perder 3 quilinhos. Confesso que, às vezes, me sinto tão descontente como quando estava bem acima do peso. Por que nunca estamos satisfeitos? Querendo ou não, o verão chega para todos. Não tem jeito: em algum momento teremos que colocar nossas possíveis imperfeições à mostra. O que comemos na areia, não colabora. Confesso que meu cardápio inclui lula frita, milho à margarina e Cornetto crocante. E, depois de um dia de sol, definitivamente, não tenho fome de salada. Macarrão e hot dog, isso sim.

Eu acho biquíni uma invenção complicada. Você deixaria o namorado da sua amiga te ver de lingerie? Imagina o rapaz abrindo a porta do seu quarto e, sem querer, te encontrar de calcinha e soutien. Você provavelmente daria um grito e ficaria morrendo de vergonha, estou certa? O engraçado é que a diferença do traje de banho e da roupa íntima é o tecido e a estampa. Nesse mundo seminu, fingimos naturalidade. Mas o fato é que, tirando mamilos e vergonhas, nosso corpo está inteiro lá, quase pelado. Qualquer insegurança fica exposta. E não é fácil ter a autoconfiança de exibir o corpinho por aí.

Agora, não me digam que não reparam no corpo dos outros na praia. Quem nunca matou o tempo espiando o corpo alheio só para esquecer das suas irregularidades? Quem nunca esteve sentado, com os pés afundados na areia, avaliando o corpanzil dos caminhantes na beira-mar? Ou deu uma cutucadinha no companheiro de barraca e fez algum comentário sobre o shape de outros banhistas? Na praia, reparar nos outros é esporte mais popular do que jogar raquetinha. Parte do nosso problema vem da comparação. Por que insistimos em nos comparar com aquela garota esbelta de biquíni cortininha, com lacinho e fio dental? Isso é o segredo para nos sentirmos pior. Não adianta estar na frente de um mar lindo ou de uma piscina refrescante, com a canga amarrada até o queixo ou sentada com a toalha embolada na frente da barriga. Mas a verdade é que as celulites não ficarão na memória, mas, sim, o mar refrescante, as risadas com os amigos e a caipirinha de maracujá. E um bronzeado não faz mal a ninguém.