Olimpíadas de Paris elegem carne como ameaça ambiental

Os Jogos Olímpicos de Paris, marcados para julho deste ano, já têm uma meta clara quando o assunto é alimentação: reduzir a oferta de carne de origem animal nas 13 milhões de refeições que deverão ser servidas aos diferentes públicos. Um dos maiores eventos esportivos do mundo elegeu a proteína animal como uma das ameaças ambientais e quer menos gente comendo carne nestas Olimpíadas. A meta da organização é limitar as emissões geradas em cada refeição para 1 kg de CO2, ou seja, metade da pegada de carbono das edições passadas, que foi de 2 kg. Para isso, vai reduzir proteínas animais e aumentar a oferta de vegetais, frutas e carnes vegetais. O motivo? Eles dizem que é a maior emergência climática de todos os tempos.

Para atingir o objetivo, o comitê alimentar dividiu as metas em grupos. Para espectadores, pelo menos 60% das refeições colocadas à venda serão vegetarianas. Para voluntários, mídia e funcionários, pelo menos 50% de todas as refeições serão vegetarianas. Para atletas, haverá aumento e valorização da alimentação vegetariana disponível na Vila Olímpica e locais de competição. Um evento de proporções globais como as Olimpíadas vai servir para reforçar preconceitos e desinformações sobre a proteína animal ao adotar essa agenda. Uma abordagem desequilibrada sobre questão ambiental e alimentar, segundo a Athenagro, consultoria em pecuária, que critica a iniciativa (1) porque a tese das emissões de carbono é falha, já que ignora o total que a pecuária remove de CO2 do sistema; e (2) porque a relação humana com o consumo de proteína animal é inseparável, e a proteína é uma opção importante para uma dieta equilibrada, que também inclui cereais, legumes e verduras.

“Já existem estudos comprovando que as pastagens removem maiores quantidades de carbono em relação ao que é emitido pelos bovinos, mesmo considerando os índices mais elevados para conversão de metano em equivalentes de gás carbônico. Insistir nessa tese de que o consumo de carne bovina causa impactos ambientais é desinformação e anticiência. Um evento da magnitude das Olimpíadas, cuja origem remonta a períodos de grandes investimentos nos esportes, na filosofia e no conhecimento, é um contrassenso.”, enfatizou Maurício Nogueira, diretor da Athenagro.

As Olimpíadas são um símbolo da paz e da união entre os povos. No século XX, o evento se notabilizou em preservar o melhor espírito de harmonia e respeito entre os diferentes, mesmo nos momentos mais difíceis da guerra, me lembrou o professor da FGV Daniel Vargas. Agora, em 2024, Paris abraça um projeto ambiental enviesado e divisionista. “Uma ode ao modismo, que agrada ao consumidor de alta renda francês, capaz de escolher entre mil tipos de proteínas, mas muito distante da realidade dura do planeta, onde grande parte da população ainda luta contra a fome e a subnutrição”, destacou. Uma pena ver um evento de proporções globais escolher um importante e nobre alimento como vilão do clima.