Pare aqui: como uma simples ida ao cinema rendeu 18h no estacionamento

Outro dia me aconteceu uma coisa esdrúxula. Numa segunda-feira à noite, meu marido foi ao lançamento do filme de um amigo. Super atrasado, parou o carro num estacionamento e saiu correndo até o cinema. Chegou no final do último trailer e relaxou. Só que, quando ele saiu, procurou, procurou e procurou, mas não achou o estacionamento onde tinha deixado o carro. Eu juro pela vida dele. Rodou a pé, rodou de Uber, só não rodou de helicóptero porque não achou um heliponto. Até que desistiu. Voltou pra casa murcho que nem um pneu furado. Quando chegou, eu dormia com a tranquilidade de quem sabe que seu carro está paradinho na garagem. Acordei. Meio sonada, perguntei: “E aí, gostou do filme?”. No que ele me respondeu, com cara de pipoca amanteigada: “Gostei. Só que aconteceu uma coisinha, mas te conto amanhã pra você não perder o sono”. Oi? Quem dorme depois dessa? Fiz ele contar tudo. Fiquei chocada, mas não quis deixá-lo ainda mais aflito, então eu disse: “Fica tranquilo, Mô, a gente volta lá amanhã durante o dia e vamos encontrar”.

No dia seguinte, ali pelo meio-dia, fomos até o cinema. Detalhe macabro: o tempo estava nublado e chovia. Chovia mesmo. O cinema era ali no coração de São Paulo. Rodamos do lado de cá da Paulista, do lado de lá da Paulista e na própria Paulista. Ele jurava que era o tal estacionamento, a gente entrava, procurava e não era. O que se repetiu algumas vezes. Você deve estar se perguntando: “Mas cadê o maldito ticket?”. Pois bem, ele entrou com o Sem Parar. O Waze já não sabia mais o que fazer, só dizia compulsivamente: “Recalculando”. Tinha horas que eu pedia para São Longuinho, horas que eu descavava meu marido e horas que eu começava a rir. Eu já estava pensando o que faríamos se não encontrássemos esse filha da p… desse estacionamento. Vamos procurar o sindicato dos estacionamentos? Tentar uma matéria no jornal? “Homem perde o carro depois de assistir a um filminho”.

Após a hora e meia mais demorada da minha vida, eu tive uma iluminação. “Querido, a gente não procurou nesse cantinho do mapa”. Lá fomos nós. Chegamos a uma entrada íngreme e meu marido bradou: “É esse”. Eu não botei muita fé, porque isso já tinha acontecido antes. Entramos e estava lá: o Honda Fit cinza elefante. Meu alívio durou até eu ler a plaquinha: “Primeira hora: R$ 35,00. Demais horas: R$ 25,00”. Já eram 14h30 do dia seguinte. Nem perca seu tempo fazendo a conta, a gente estava lascado. Foi o ingresso de cinema mais caro de todos os tempos. Mas, como dizem, ferrado, ferrado e meio. Decidimos deixar meu carro lá, só para somar mais 35,00 reais, e fomos comer no Frevinho. Para quem não conhece, se trata do melhor beirute de São Paulo ou talvez do universo. Pão torradinho, queijo derretido, maionese verde e batata frita. Ah, e milk shake de chocolate. A gente merecia. Naquele ponto, não precisávamos nem mais de carro, era só voltar rolando a Rua Augusta. Mas voltamos pra casa, cada um no seu carrinho, rindo, chorando, arrotando… Eu fiz uma conta de cabeça, incluindo a gasolina. Esquece. Agora era esperar a conta do Sem Parar.

Até que chegou a tal fatura. Abri com um olho aberto e o outro fechado. Com o aberto eu li: “Estapar Colégio São Luís. Entrada dia 09 às 20h22, saída dia 10 às 14h31, total de 18h09m39s”. Suei. Abri o outro olho. “Valor total: 35,00”. Assim, redondo. Com câimbra na testa, gritei pro meu marido. “Que porra é essa?”. Então ele leu lá: “Valor do pernoite”. Era verdade. Naquela noite, antes de dormir, fiz uma oração para a Nossa Senhora dos Estacionamentos e Garagens.