Pobreza aumentou na Argentina, mas já há sinais de que vai diminuir

Não é novidade para ninguém que a economia argentina enfrenta, há anos, grandes dificuldades. A situação se agravou ao longo do governo de Alberto Fernández, com a grave piora das contas públicas e a consequente escalada da inflação, decorrentes de um esforço para manter a economia artificialmente aquecida antes do pleito. Não sem razão, antes de sua posse, o novo presidente, Javier Milei, deixou claro que uma inflação anual de três dígitos não seria vencida apenas com palavras, e a economia argentina passaria por um forte ajuste recessivo decorrente do esforço de reequilíbrio das contas públicas.

A inflação caiu bastante desde então (de 25,5% em dezembro de 2023 para 4,2% em julho), mas a recessão, de fato, foi intensa, resultando num forte aumento do desemprego e da pobreza no início de 2024. Desde julho, entretanto, a economia argentina começou a dar sinais de recuperação. Por que, então, vemos tantas notícias ruins sobre a economia argentina todos os dias?

Olhando com atenção, podemos notar que todas essas notícias têm em comum o fato de se basearem em dados relativos ao passado, ou a comparações entre a situação atual e aquela observada há 12 meses. Tais estatísticas, por óbvio, refletem o ajuste recessivo pelo qual a Argentina já passou, no final de 2023 e início de 2024. Quando olhamos para o presente, porém, vemos algo bem diferente.

Os números mais recentes do índice de atividade econômica, estimado pelo Instituto Nacional de Estadística y Censos de la República Argentina (Indec), relativos ao mês de julho, revelam um crescimento dessazonalizado da atividade econômica argentina de 1,7% em relação ao mês anterior. A recuperação da atividade industrial, em particular, tem sido ainda mais forte. Dados do Indec apontam, em julho, um crescimento dessazonalizado do índice de produção industrial manufatureira de impressionantes 6,9% em relação a junho.

E a recuperação da atividade econômica começa a se transformar em emprego. As melhores estatísticas de ocupação da Argentina também são estimadas pelo Indec, trimestralmente. Os dados mais recentes, do segundo trimestre de 2024, indicam um leve aumento no emprego em relação ao trimestre imediatamente anterior (44,8% ante 44,3%, aumento de 0,5 ponto percentual). Vale ressaltar que os dados do segundo trimestre não incluem o mês de julho, quando foram observados os aumentos da atividade econômica e industrial citados acima.

É claro que a Argentina ainda tem um longo caminho pela frente. E muitos desafios. Mas os dados mais recentes que temos indicam que a economia argentina já atravessou seu ajuste recessivo e encontra-se, atualmente, em recuperação. Vamos ver como vêm os dados dos próximos meses.

*Leonardo Regazzini é doutor em economia pela USP e coordenador legislativo da bancada do Partido Novo na Câmara dos Deputados. É conselheiro do  Livres.

Essa publicação é uma parceria da Jovem Pan com o Livres
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