Quem paga a conta da incompetência da Enel e das autoridades públicas?
É inadmissível uma cidade como São Paulo ter casas e estabelecimentos sem energia por mais de quatro dias. O caso se torna mais grave porque não é de hoje que a cidade vivencia transtornos com a falta de energia elétrica. Em novembro de 2023, São Paulo sofreu com apagões e falta de energia por dias, e pouco mudou de lá para cá. A falta de planejamento é lugar-comum na sociedade brasileira. Em todas as esferas — econômica, ambiental, saúde, etc. — o Estado deixa a situação chegar no limite para tomar providências. Que a Enel não entrega o básico para a população após fortes chuvas, todos já sabem. Agora, chama a atenção como o governo federal e a Aneel deixaram a situação chegar a este ponto, sem tomar uma providência.
Por sua vez, a Enel se defende, argumentando que está dentro dos limites técnicos impostos pela Aneel — duração de interrupções (DEV) e frequência de interrupções (FEC). É verdade. Porém, o cálculo das métricas exclui eventos climáticos extremos. Se não fosse essa exclusão, a empresa já teria desrespeitado as métricas técnicas. No entanto, para a população pouco importa essas tecnicidades. No mundo real, as pessoas ficaram sem energia por alguns dias. Muitos idosos, com maior dificuldade de locomoção, não puderam sair de casa, na medida que muitos elevadores ficaram parados.
Os transtornos não atingiram apenas as residências. Estabelecimentos tiveram também enormes perdas. De acordo com a Fecomercio, o varejo e o setor de serviços somaram prejuízos de R$ 1,65 bilhão, na medida em que vários estabelecimentos não puderam operar sem energia. Sem fornecimento, como um restaurante pode refrigerar a comida? Como clínicas operam sem a possibilidade de ligar aparelhos? Exemplos não faltam. Qualquer negócio — do pequeno ao grande — é altamente dependente de energia.
Não é a primeira e nem a segunda vez que a cidade de São Paulo passa por isso. É inadmissível autoridades deixarem a situação chegar a este ponto para começar a exigir providências para a Enel. Não se trata de um evento extremo, no qual a população ficou sem energia por algumas horas — o que já gera transtornos —, mas por dias! O fato do contrato com a Aneel excluir eventos extremos não dá o direito nem da Enel nem das autoridades ficarem absolutamente inertes a esta situação, flertando com a irresponsabilidade e negligência com milhares de paulistanos. Afinal de contas, a população de São Paulo paga esta conta duas vezes — a de luz e a do transtorno.