Reconstrução da Faixa de Gaza é desafio para recuperação do território, apontam especialistas

Enquanto fogos de artifício iluminaram o céu de diversas cidades pelo mundo, na Faixa de Gaza e em Israel, bombardeios marcaram as primeiras horas do novo ano. O conflito entre as duas nações, que dura cerca de três meses, deve se estender ainda por 2024. Autoridades tentam articular um acordo de paz entre palestinos e israelenses, mas muitos se perguntam como ficarão as relações entre os grupos quando o conflito acabar. As hipóteses diferem conforme o lado consultado. O cientista político André Lajst, do StandWithUs, organização pró-Israel, aposta em um projeto de restauração das áreas palestinas destruídas com financiamento do Estado judaico. “Caso exista uma derrota militar do Hamas, isso é algo muito plausível, vamos ter alguns cenários. Primeiro, uma ocupação total de Israel na Faixa de Gaza temporariamente. Uma reconstrução com Israel colocando dinheiro para reconstruir Gaza. Um plano Marshall [programa de ajuda econômica dos EUA aos países da Europa Ocidental com o objetivo de reconstruí-los após a 2ª Guerra Mundial] para Gaza vai ser urgente e importante para evitar qualquer tipo de entrada em crises humanitárias severas e fazer com que as pessoas possam voltar a crescer. Isso é voltar para 1993, antes de Oslo [quando foi assinado acordo de paz entre o governo de Israel e o Presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)]. Isso é ruim, seria voltar para trás, o que é uma redundância, mas seria voltar cerca de 30 anos”, avalia.

Quando André Lajst menciona os acordos de Oslo e como seria ruim retroceder aos avanços conquistados em 1993, a citação refere-se à época que Israel concordou com a retirada de seus militares da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Na mesma resolução, os palestinos reiteraram o direito de administrar os próprios territórios. Por outro lado, o cientista político e professor de relações internacionais Bruno Beaklini discorda. Para ele, deveria haver outra saída além do envolvimento de Israel na recuperação da Faixa de Gaza. “Por quê a reconstrução vai ser feita por Israel? Primeiro passo para vir para o Mediterrâneo é acabar com o cerco de Gaza. O marco continental de Gaza tem uma linha de pesca que chega a 8 ou 10 km, a Marinha acionista fica rodeando e está tentando roubar o gás de Gaza. Basta Gaza ter direito à exploração do gás, que a Palestina é um país rico. Basta isso. Ou quiçá fazer uma joint venture com o Líbano, que também tem ameaça da Marinha acionista, para explorar o gás na costa libanesa. Isso partindo do princípio que nem a Casa Branca está reconhecendo isso como legítimo e que as forças militares sunitas vão permanecer em Gaza, não vão. Outra, que a população vai embora pelo Sinai, também não vai. É possível que vivam sob escombros, em acampamentos improvisados? É possível, é até provável. Mas que é uma condição sine qua non [ato ou condição indispensável para que algo aconteça] que o inimigo vai permanecer no território invadindo e que não vai ter nenhum tipo de ajuda acordado para países doadores, como a Turquia e o Catar, tudo prova o contrário”, observa.

O conflito eclodiu após o ataque do movimento islamista palestino Hamas em Israel em 7 de outubro, que deixou 1.140 mortos. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva incessante sobre a Faixa de Gaza, que já deixou 22.185 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo dados do Hamas, que governa o território palestino desde 2007. Desde então, bombardeia quase sem descanso o território palestino que está em ruínas e passa por uma grave crise humanitária com risco de fome. A maioria dos hospitais se encontra fora de serviço. ONU estima que 85% dos 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito. Além da escassez de comida, também faltam água, combustível e remédios. Ainda há 127 reféns em Gaza, retidos pelo Hamas durante sua incursão em Israel. No final de novembro, dezenas foram libertados durante uma trégua. Nos combates em Gaza, 173 soldados israelenses morreram.