Rede de suporte é essencial para impulsionar mulheres na TI

Carmela Borst, CEO da SoulCode; Inaray Sales, superintendente de TI do First Digital; Gabriela Vicari, CEO do Itaqui; e a Gisely Marques, CIO LatAm da Veolia Water Technologies & Solutions Mulheres na TI

“Uma mulher, quando digitalizada, passa a ter acesso à educação, à empregabilidade e até ao empreendedorismo. Essa mulher, quando tem acesso a isso tudo, tem a vida transformada pela tecnologia. Mas quando a gente transforma a vida de uma mulher, a gente transforma não só a vida dela – mas também dos filhos dela, e de outras mulheres ao redor”.

Foi assim que Carmela Borst, fundadora e CEO da SoulCode, iniciou o painel ‘Uma sobe e puxa a outra: histórias reais para impulsionar mais mulheres na TI’, que trouxe quatro mulheres líderes de tecnologia ao palco do IT Forum Salvador para debaterem estratégias para ampliar o acesso de outras mulheres ao setor.

Por trás de toda a discussão, uma máxima ficou clara: uma rede de suporte é essencial para impulsionar essas profissionais no mercado. Seja essa rede composta por outras mulheres que já atingiram posições de liderança, ou mesmo homens – que ainda são maioria do mercado e aliados importantes para a promoção de mulheres no segmento –, a ideia do “uma puxa a outra” é fundamental.

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“Nós, que somos de tecnologia, somos luzes nos pés das pessoas que não conhecem tecnologia. A gente precisa cuidar dessas mulheres que não têm conhecimento de tecnologia”, disse Inaray Sales, superintendente de TI do First Digital Services e CEO da Unidos Carreira.

Segundo Inaray – ou ‘Ina’, como ela mesmo diz que gosta de ser chamada – sua própria trajetória é um exemplo da importância da mão estendida. Nascida no Campo Limpo, periferia da Zona Sul de São Paulo, Ina escapou de uma realidade de pobreza e da vivência de violência doméstica, através da tecnologia. “É lógico que tem todo meu estudo, toda minha vontade e garra, mas tem alguém que acreditou”, completou. “Quanto mais pessoas nós tivermos falando ‘vem’, e doar um tempo para transformar uma mulher, mais nosso país vai crescer.

Além de estender a mão, Ina também fez um apelo aos pares da indústria: aceitem o diferente. “A gente precisa dar oportunidade para quem fala diferente, pensa diferente, cresceu em um lugar diferente, teve história diferente”, afirmou, traçando um paralelo com sua própria trajetória. “A gente precisa começar a pensar que o ser diferente não é ruim”.

Também não basta estender a mão. Para Gisely Marques, CIO América Latina da Veolia Water Technologies & Solutions, é importante também “abrir os olhos”, em especial de jovens mulheres, para que elas tenham a autonomia de escolherem o caminho que desejam seguir na carreira. Só assim será possível quebrar ciclos históricos de opressão contra mulheres, na avaliação da executiva.

“Se a gente não abrir os olhos para essas meninas enxergarem o que de fato vai mudar a vida delas, elas vão continuar a ser influenciadas por aquilo que é a história da humanidade – onde a mulher continua sendo colocada na posição de objeto. De alguém mandar e decidir por ela”, afirmou.

Uma das iniciativas que buscam implementar essa ideia é o MCIO Brasil, grupo de mulheres CIOs fundado por Ione Coco, primeira mulher CIO do Brasil, que hoje conta com mais de 275 executivas envolvidas. Sem fins lucrativos, o grupo tem o objetivo promover a inclusão e ascensão de mulheres no mercado de tecnologia, e, para Gisely, é um dos grandes exemplos de “uma puxa a outra” do mercado nacional de TI.

“É um movimento que cresceu simplesmente porque tinha gente precisando de ajuda em um momento de transição de carreira – como foi o meu caso”, contou. “É, de novo, uma estendendo a mão para a outra”. Ainda sobre a importância de lideranças no processo de inclusão de mais mulheres na TI, Gisely acrescentou: é papel dos gestores de TI dar mais oportunidades para as mulheres. “Se a gente não fizer e ficar terceirizando a responsabilidade para o governo, ou RH ou headhunter, nada vai mudar”, assinou.

CEO do Itaqui, distrito verde de inovação e educação, Gabriela Vicari trouxe para a discussão a importância de se falar sobre a situação de vulnerabilidade ainda mais agravada que vivem as mulheres negras do Brasil.

“Se você olhar em uma linha do tempo; se um homem e uma mulher começassem a trabalhar na mesma função no dia primeiro de janeiro, o homem receberia em janeiro, mas a mulher receberia só em abril”, destacou, em referência às diferenças salariais observadas no Brasil. “Uma mulher preta começaria a receber só em agosto, fazendo a mesma função.”

Gisely completou: “A remuneração tem diferença, mas a cobrança do resultado é igual ou superior. Ninguém vai dar meta de venda menor para uma mulher, mas o salário é menor”, anotou. “A gente tem que ser protagonista da mudança que a gente quer.”

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