Renda fixa ressurge como melhor modalidade de investimento em 2022 após ano marcado por volatilidade

O Ibovespa irá encerrar 2022 em alta de 2,19%, considerando as flutuações entre 20 de dezembro de 2021 e o mesmo período deste ano. Contudo, ao longo dos últimos doze meses, alguns investimentos viram sua rentabilidade cair drasticamente, movimento impulsionado por incertezas no campo político e a alta da inflação da economia. Em um período marcado por muita volatilidade, um ativo que andava esquecido ganhou destaque: a renda fixa. Especialistas apontam que, em meio à elevação da taxa de juros, a renda fixa apresentou bons rendimentos, principalmente os ativos pós-fixados. Segundo Danilo Gato, especialista em investimentos e educador financeiro, o aumento da taxa Selic foi um dos principais motivos que fizeram a renda fixa se tornar o melhor investimento de 2022. Durante o ano, a população brasileira viu a taxa básica de juros da economia chegar quase ao dobro. Ela começou o ano sendo cotada a 9,15% ao ano e foi reajustada para 13,65%, aumento que fez com que chegasse ao maior valor desde janeiro de 2017.

“A gente teve a questão da pandemia e de uma recessão causada pela inflação que estava aumentando bastante. A Selic subindo para controlar a inflação acaba pressionando o mercado de renda variável para baixo porque esses ativos, em especial as ações, usam a taxa de juros como uma forma de desconto. Então, quanto maior a taxa de juros, maior o desconto. Houve muita volatilidade no decorrer do ano por causa da tentativa de controle da inflação. A renda fixa, que estava meio morta nos últimos anos por causa daquela taxa de juros em mínima histórica, foi começando a ganhar destaque porque os rendimentos têm rentabilidade atrelada à taxa de juros. Ela estando alta, eles rendem muito bem. Hoje temos investimentos ultraconservadores, como o Tesouro Selic, rendendo aproximadamente 13,75% ao ano, com liquidez diária. Ou seja, eu posso resgatar a qualquer momento. É um investimento que normalmente não paga tudo isso, mais de 1% ao mês, de forma bruta. Normalmente quando você tem liquidez diária, você tem uma rentabilidade menor. Para quem quer investir de forma segura e tranquila, é renda fixa”, recomenda Danilo.

Melhores de investimento de 2022

Tatyane Mendes/Jovem Pan

O economista Fagner Nogueira concorda com o destaque da renda fixa em 2022 e complementa que os ativos pós-fixados ainda tiveram uma performance superior por acompanhar a elevação da Selic instituída pelo Banco Central. “A renda fixa pós-fixada acompanha a taxa de juros. Quando a Selic sobe, esses papéis rendem um pouco mais. Agora, tem uma parte da renda fixa que acaba sofrendo com isso que são os títulos pré-fixados e os títulos atrelados ao IPCA. Na medida que a taxa Selic sobe, o mercado vai oferecendo novos títulos de acordo com o cenário atual e os títulos antigos, com uma taxa mais baixa, vão perdendo valor. Tem Tesouro Direito IPCA+ que está com o ano bem negativo. Mesmo sendo um título de renda fixa, por conta dessa parte pré-fixada, sofre muito quando a taxa de juros sobe”, esclarece.

Co-head de investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira complementa que títulos atrelados à inflação com vencimentos curtos também representaram uma das melhores opções em renda fixa neste ano. “Foi uma alternativa para pegar essa inflação pressionada e se proteger do impacto de um aumento de juros maior. O melhor título público em relação a rendimento este ano, até hoje pelo menos, foi a LFT (Letra Financeira do Tesouro), que basicamente segue a Selic. Quando você pega isso ao longo de 2022, pelo menos no primeiro semestre, tivemos os títulos de inflação rendendo muito mais que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) porque a inflação estava muito alta. A partir do momento que o governo trouxe medidas de corte de impostos e arrefecimento dessa inflação, a gente viu essa curva se cruzando. Lembrando que no mundo de renda fixa existe o conceito de duration, do prazo médio do investimento, então títulos mais longos acabam sofrendo mais do que títulos mais curtos em um ambiente de subida de juros. Hoje, com o CDI no nível de 13,65%, esse títulos que o acompanham acabaram rodando melhor por conta da deflação que tivemos nos últimos meses”, analisa.

Outros ativos de destaque

Mas nem só de renda fixa fez-se o ano. Co-fundador da Oficina das Finanças, Leonardo Silva considera 2022 como um ano atípico e desafiador, por conta das incertezas enfrentadas pelo Brasil e no mundo, e também considera a renda fixa como o principal destaque do ano, mas indica outros bons ativos. “As pessoas com investimentos em renda fixa, seja de títulos públicos ou privados, em seu portfólio, tiveram bons retornos. Durante pelo menos parte do ano tiveram um pouco mais de proteção. Outros ativos que tiveram um bom resultado foram os relacionados a commodities, como o minério de ferro, que fortaleceu a Vale, por exemplo. Foram ativos que tiveram bons momentos. Quem estava bem posicionado em relação ao petróleo também teve um retorno positivo. A Petrobras atingiu novas máximas, pagando os maiores dividendos do mundo. Outras instituições que também repassam de alguma forma o aumento da inflação como Banco do Brasil, BB Seguros e Cielo tiveram bons retornos sem sombra de dúvidas”, cita.

Especialista em gestão financeira da Arton Advisors, João Sá complementa que fundos multimercados contribuíram para que os portfólios dos clientes rendessem acima do CDI. Ele esclarece que cinco fundos incluídos na carteira do escritório renderam cerca 20% ao ano em uma parcela do patrimônio. “Essa foi uma classe que teve muitos benefícios justamente porque não operou apenas Brasil. Muitos desses fundos tiveram bastante retorno principalmente em juros internacionais. Isso fez com que eles se defendessem bem da volatilidade no Brasil causada pelaseleições. Também apostamos em papéis que não possuem custo de capital sendo prejudicado por conta dessa alta de juros, ações que estão capitalizadas e em que há grande chance de expansão do setor sem necessidade de alavancagem. O setor de serviços é um dos que sente menos esse cenário macro, mas evitamos o varejo por causa do impacto dos juros nesse segmento”, exemplifica.