Ressaca da globalização anima retorno de Trump e giro de Macron

Após o fim da Guerra Fria no início da década de 1990, o mundo viveu três décadas de um intenso processo de globalização que aproximou sociedades, impulsionou as trocas comerciais e o desenvolvimento tecnológico, transformou a forma de relacionamento entre os estados, cujas economias se tornaram interdependentes, e elevou o fluxo migratório como nunca antes. Foi a vitória do liberalismo e uma janela de oportunidade para muitos países em desenvolvimento. O Brasil, como sempre, deixou a oportunidade passar, enquanto China e outras nações da Ásia se transformaram em potências econômicas. Os chineses foram de longe os mais bem sucedidos, atraindo grandes multinacionais à procura de mão de obra barata, isenções fiscais e ampla rede logística. Como efeito colateral, economias ocidentais passaram a vivenciar um rápido processo de desindustrialização, com restrição do mercado de trabalho e consequente fragilização da base previdenciária.

Paralelamente, o crime organizado, as máfias e o terrorismo também se valeram da globalização, dos fluxos econômicos e migratórios, da redução do estado, avançando sobre territórios, infiltrando-se no mercado financeiro, na política, na mídia; blindando-se a ponto de se tornarem ‘grandes demais para quebrar’. A instabilidade social decorrente da insegurança, da escassez de trabalho e da fragilização dos estados atingiu pilares importantes do próprio liberalismo e valores comuns à civilização ocidental, realimentando um potente movimento nacionalista que pretende ‘resgatar os pilares dessa civilização’. Naturalmente, o regime de cooperação se transformou em competição global, com um realinhamento geopolítico que contrapõe as mesmas visões de mundo que alimentaram a Guerra Fria e que agora também reativam tensões latentes em diversas regiões do planeta. É a ressaca da globalização.

A tendência de uma recessão desse processo, como explicou o economista Marcos Troyjo no JP Ponto Final do sábado passado, já observada em políticas protecionistas na Europa e no Brasil, assim como o aumento das restrições à imigração, a exemplo da nova lei migratória da França, apoiada por Emmanuel Macron, e do discurso ultranacionalista de Donald Trump após a vitória na convenção do Partido Republicano em Iowa.

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