Scott Russell, da SAP: empresas estão se afastandos de ‘gastos especulativos’ em TI

Scott Russell SAP

Membro do conselho executivo e líder da área de Customer Success da SAP, Scott Russell avalia que chegou ao fim a era dos ‘gastos especulativos’ na TI. “A maioria dos clientes mudou. Houve um forte distanciamento do que eu chamo de ‘gastos especulativos’ em tecnologia”, ponderou. “Todas as empresas estão dizendo que tudo precisa ter um business case, tudo tem que ser quantificado em valor de negócio.”

A leitura de Russell sobre o atual momento do setor de tecnologia foi feita em entrevista ao IT Forum, durante o SAP Sapphire São Paulo, evento da empresa que ocorreu no começo de junho. Durante sua visita ao Brasil, Russell não só participou da conferência da SAP, mas também conversou com uma série de clientes da gigante alemã de ERP.

Em suas conversas, contou ao IT Forum, o executivo disse ter identificado duas demandas principais das organizações locais: a demanda por velocidade e a busca por eficiência. “No mercado atual, as empresas estão buscando eficiência, produtividade e escala. Elas acreditam que mesmo que seus modelos de negócio tenham servido bem até agora, eles precisam se transformar e se simplificar para enfrentar os desafios de amanhã”, pontuou.

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Também para Russell, essas duas demandas se tornam mais complexas no cenário da falta de talentos enfrentado por empresas nacionais e de toda a América Latina. O contexto é desafiador para organizações, mas se torna também uma oportunidade para a SAP: a migração para o ERP na nuvem, na visão do executivo, é uma opção para essas companhias.

“Algumas empresas estão se movendo para nuvem só para conseguirem liberar o seu pool de talentos para que eles não operarem seus ambientes SAP, e possam fazer coisas mais valiosas. Isso é uma demanda grande”, disse.

De olho nas médias empresas

Uma das vias de crescimento que a SAP enxerga para o Brasil é dentro do mercado de médias empresas – setor o qual a companhia disputa diretamente com a Totvs. Segundo dados 34ª edição da ‘Pesquisa do Uso de TI’ no Brasil, realizada anualmente pelo Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVcia), a Totvs tem 48% de participação no mercado de ERP entre empresas com até 180 ‘teclados’. Entre 180 e 800 ‘teclados’, SAP e Totvs têm uma disputa acirrada com, respectivamente, 33% e 35% do mercado. Nas grandes empresas, com mais de 800 ‘teclados’, a SAP tem 50% do mercado e a Totvs, apenas 20%.

Para atacar esse segmento, a empresa aposta no Grow with SAP. A oferta de ERP em nuvem focada em empresas de médio porte foi lançada em março deste ano e foi um dos destaques do Sapphire em São Paulo. O produto está em processo de localização e, segundo Russell, deve apelar para companhias que buscam escalar suas operações através da implementação de nuvem.

“Para essas empresas, [o Grow with SAP] não é um projeto de TI grande e complexo. É uma implementação simples e ágil e permite que seus negócios ganhem escala e cresçam. Essa é a lógica. Não quer dizer que as empresas locais tenham soluções alternativas, mas se você tem um negócio que deseja escalar e crescer – daí o nome do produto –, esse é o mercado em que acreditamos que podemos ganhar espaço.”

IA generativa através de parcerias

No centro de quase todas as discussões sobre tecnologia ao longo deste ano, a inteligência artificial generativa também foi pauta durante o Sapphire 2023 e nas discussões do membro do conselho da SAP com seus clientes. “Para os CIOs à frente de empresas brasileiras hoje, você pode ter certeza que eles têm um CEO, CFO ou conselho perguntando: ‘qual é nossa estratégia de IA generativa?’, compartilhou em conversa com o IT Forum.

De acordo com o executivo, a IA é parte da estratégia da SAP há anos – desde 2015, a empresa já implementou capacidades de IA em mais de 130 casos de uso, incluindo soluções, processos e aplicativos de negócios. No fronte de IA generativa, a companhia abordará uma estratégia através de parceiros, alavancando sua expertise em dados através de plataformas de IA generativa de empresas como Microsoft, Google e IBM.

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Neste segmento, a abordagem da SAP tem sido através de parcerias – e esta deve continuar sendo a estratégia da companhia com suas ofertas iniciais no segmento. “A maneira como alavancamos a IA é para gerar valor ao negócio”, disse. “Nós estamos realmente focados nos processos de negócios, incorporando-a ao dia a dia, em vez de construir grandes modelos de linguagem. Nós estamos tentando trazer a força dos nossos dados e dos dados de negócios da SAP, para conectá-los de forma segura e ética”, pontuou.

Para Russell, no entanto, essa abordagem não será a única da SAP: conforme destacou, assim como o próprio mercado de IA está em constante evolução, novas abordagens poderão ser desenvolvidas pela SAP conforme a demanda surja – não só com grandes participantes do mercado de IA, mas também players locais e de menor escala.

“Nós temos que ter certeza de que os modelos de linguagem que podemos incorporar nos aplicativos têm a capacidade de escalar, crescer e alavancar a inovação que está acontecendo no mercado. E essa inovação não é exclusiva desses grandes players”, explicou. “Nós iniciamos a jornada de IA generativa com essas organizações – elas são parceiras muito importantes em quem confiamos –, mas continuaremos avaliando e se precisamos expandir essas parcerias para participantes locais ou mais ágeis. A beleza da abordagem da SAP é que não importa quem está gerando esses recursos, nosso trabalho é conectá-los de volta aos processos de negócios, e isso é uma operação muito mais escalável do que estar apenas com um parceiro.”

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