Campos Neto rebate Lula e afirma que inflação poderia estar em 10% sem intervenção do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a política monetária adotada pelo órgão e afirmou que, se a instituição não tivesse elevado a taxa de juros durante o período eleitoral, Selic poderia estar em 18,75% e a inflação em 10%. Durante participação em audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado Federal, ele argumentou que os mecanismos adotados pelo BC impediram que a inflação aumentasse em um nível maior do que o atual. “Nunca na história desse país, nem na história do mundo, foi feito um movimento de alta dos juros em um período eleitoral. O que mostra que o BC entendeu que a inflação ia subir, antes de grande parte dos outros países. O BC do país foi um dos primeiros a subir os juros”, afirmou. A Selic se encontra em 13,75% ao ano, o maior nível registrado em seis anos. Contudo, de acordo com o presidente do Banco Central, o número poderia ter sido muito maior. “E hoje, para controlar a inflação e a expectativa do ano que vem, teríamos que ter juros de 18,75%. Se não tivéssemos, a inflação ia contaminar e subir bastante. O BC atuou de forma autônoma”, acrescentou. A inflação atualmente se encontra em 5,8%, mas poderia ter chegado a 10% no ano passado, de acordo com Campos Neto.

O presidente do Banco Central ainda que afirmou que deseja abaixar a taxa de juros, mas que o movimento preciso ser feito na hora certa e com credibilidade para o mercado. “O BC quer cair os juros. O BC gosta de trabalhar com os juros baixo gosta de ter a economia crescendo de forma sustentada com inflação baixa. Houve períodos no passado com juros reais altas, e o resto [do mundo] baixo, mas não é o que está acontecendo agora”, pontuou. Campos Neto ainda afirmou que apenas baixar a Selic, sem uma estratégia adequada, iria gerar um aumento de taxas bancárias. “Escuto que se abaixar a Selic, melhoram as condições de crédito. Não. Vai melhorar e se eu tiver credibilidade com o que faço na Selic. Eu controlo os juros de um dia, e todo o resto da curva de juros é determinada pelo preço que as pessoas querem emprestar ao governo. Se eu não tiver credibilidade, posso baixar os juros curtos e os juros longos subirem”, ponderou.

Na segunda-feira, 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em viagem oficial a Portugal, voltou a criticar a manutenção da taxa de juros, a Selic, em 13,75%. Como a Jovem Pan mostrou, desde que assumiu o governo, em janeiro deste ano, o petista tem defendido a redução da Selic. Segundo ele, um país capitalista o dinheiro circulando “na mão de todos”. “A nossa taxa de juros é muito alta. É muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é a referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, argumentou Lula, defendendo que a solução para o país é “voltar a colocar o pobre no orçamento”. “Porque eles virarem consumidor, vão comprar. Quando eles comprarem, o comércio gera emprego”, completou.