St Vincent e Laufey movem o público em boa edição do Popload Festival

Como é bom estar em um festival onde o foco principal é a música. Essa foi a tônica da nona edição do Popload Festival, no Parque do Ibirapuera, no último sábado (31), com destaque especial para a experiente, mas sempre inovadora St Vincent, e a novata Laufey, que estreou no Brasil prestes a lançar um novo disco. Aos 42 anos, St Vincent segue provando que possui um repertório vasto e eletrizante. Durante uma hora, a americana mesclou hits mais conhecidos do público, como Los Ageless e New York, com as músicas do álbum mais recente, All Born Screaming. Lançado em abril do ano passado, o disco é o sétimo da carreira solo da artista e o primeiro produzido por ela própria.

Para um festival com o público nem tão atento, a escolha de uma música do último trabalho para abrir o show pode parecer ousada. Mas a ousadia é uma marca de St Vincent, que passeou por diversas fases da longa trajetória musical, alternando entre todas com muito sucesso e deleitando o Ibirapuera com os riffs magnéticos de guitarra. Para delírio dos fãs, a cantora ainda foi para a grade em New York, em uma apresentação digna de pop star do mais alto nível.

Já Laufey é uma pop star em potencial. A cantora islandesa veio pela primeira vez ao Brasil saiu impressionada com o público — que se impressionou na mesma medida. Com apenas 26 anos, a artista mostra maturidade com a mistura de jazz e bossa nova, sem esconder os traços do pop que fazem lembrar nomes como Mitski e até mesmo Taylor Swift, e deu uma palhinha do novo disco, A Matter of Time, com lançamento programado para agosto.

Depois de aparecer no show solo de Hozier na véspera do festival, Laufey foi responsável por atrair um público mais jovem ao Ibirapuera – principalmente meninas acompanhadas pelos pais. Nada que fosse capaz de intimidá-la. Durante o show, a islandesa demonstrou destreza total e simpatia levemente camuflada pela timidez de quem pisava nos palcos nacionais pela primeira vez. Houve uma série de exaltações à música brasileira e uma promessa de retorno em breve, entendendo que o termômetro da carreira esquentou ao final do set.

A headliner do sábado foi a cantora americana Norah Jones, que também fez o show mais longo do festival, com uma hora e quinze minutos de duração. Confiante, ela inicia a apresentação no piano e mantém a tonalidade leve em toda a performance — o que deixou parte do público disperso, com direito a algumas vaias quando parte dos amplificadores deixaram de funcionar durante uma das músicas.

Como de costume, Jones entregou uma apresentação mais curta que os shows solos — o de Curitiba, na véspera, por exemplo, teve quase meia hora a mais — porém sólido, com todas as referências do jazz e do blues. Com nove faixas do último disco, a artista não comoveu o público tanto quanto outros nomes do festival, mas foi tecnicamente perfeita como esperado. A parte final ainda teve um truque de mestre: Come Away With Me, uma das músicas mais aguardadas do setlist, foi tocada em parceria com Laufey, o que reacendeu a plateia.

Na parte da tarde, quando o sol ainda iluminava e esquentava todo o Parque do Ibirapuera, outras apresentações também marcaram o festival. Ícone dos anos 80 com o Sonic Youth, a ex-baixista da banda novaiorquina Kim Gordon mostrou estilo e jovialidade no auge dos 72 anos de idade. Mesmo podendo optar pela segurança, Gordon escolhe não tocar nada do seu antigo grupo e performar apenas suas músicas solo, um rock industrial denso, hipnotizante e politizado — ainda mais com a blusa com um grande “Gulf of Mexico” estampado em letras garrafais.

A maioria do público pode não ter entendido a proposta, mas a mensagem é passada com sucesso. Não há semelhanças do trabalho atual com o Sonic Youth, mas Kim Gordon segue sendo uma referência tanto pela atitude quanto pelo som intenso, que sempre foi capaz de incentivar mulheres a se aventurarem na música. Não por acaso, a banda que a acompanha é exclusivamente feminina.

Antes dela, quem confirmou a grande fase foi a banda paulistana Terno Rei. Pouco mais de um mês após lançar o novo disco, Nenhuma Estrela, o grupo trouxe a turnê para casa pela primeira vez — semanas antes do show solo marcado para a Tokio Marine Hall — e mostrou o porquê de estarem cada vez mais requisitados no cenário nacional.

Mesmo sem muitas músicas novas, a apresentação teve um grande diferencial: a participação especial de Samuel Rosa, do Skank, em uma junção que deu muito certo. A colaboração entre eles não foi a primeira, depois da gravação do Conexão Balaclava em 2021, com três músicas. As três, aliás, entraram no repertório do sábado: Medo, representando o grupo paulistano, e Balada do Amor Inabalável e Respostas, representando os mineiros.

O destaque, porém, ficou com Programação Normal, que serviu para deixar o público ansioso para o show do fim do mês na capital paulista e também contou com a participação de Samuel, que ainda ficou para cantar Dia Lindo — faixa que encerrou a apresentação e traduziu com som a tarde no Ibirapuera. Uma pena que Ainda Gosto Dela, que estava no setlist, não chegou a ser tocada.

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A edição de 2025 foi a nona da história do Popload e a primeira desde 2022. Com outros nomes como The Lemon Twigs — que parece ter vindo diretamente dos anos 60 —, a catarinense Exclusive os Cabides e a rapper Tássia Reis, o festival fez lembrar o porquê de ser tão querido pelo público, priorizando um lineup de qualidade com estrutura e logística agradáveis. A expectativa agora é de que ele permaneça como uma constante no calendário paulista.