Caso Suzie Cheikho: empresas podem monitorar seus funcionários em home office?

Suzie Cheikho

Na última semana, viralizou a história da Suzie Cheikho, australiana que trabalhava no Insurance Australia Group (IAG) e foi demitida após ser colaboradora da empresa por 18 anos.

Seu emprego foi rescindido depois dela perder vários prazos e reuniões, estar ausente e sem poder ser contatada, além de não apresentar uma declaração de divulgação do produto que resultou na multa do IAG pelo regulador, de acordo com as conclusões da Fair Work Commission.

O chefe da colaboradora pediu à equipe de tecnologia do IAG que conduzisse uma revisão da atividade de seu laptop de outubro a dezembro, verificando o quanto ela estava digitando em seu laptop enquanto trabalhava.

Foi descoberto por meio da revisão que Suzi não trabalhou em seu horário escalado – 7h30 às 16h00 – por 44 dias naquele período. Ela começou a trabalhar atrasada em sete dias e saiu mais cedo em 29 dias. Ela também registrou zero horas de trabalho em quatro dias.

Quando ela trabalhava, os resultados mostraram que ela tinha “atividade de digitação muito baixa em seu laptop”, com uma média de 54 toques por hora durante os três meses. Ela não digitou uma única carta por 117 horas em outubro, 143 horas em novembro e 60 horas em dezembro.

Quando a revisão cibernética foi trazida à sua atenção, Suzi rejeitou veementemente a precisão dos dados. Ela disse a seus gerentes durante uma reunião formal antes de sua demissão que “duvidava dos dados” e “não acreditava por um minuto” que as descobertas estivessem corretas.

*Com informações da Daily News

Monitoramento de colaboradores

Apesar desse caso ter viralizado essa semana, a discussão sobre empresas monitorando funcionários em home office acontece desde o início da pandemia. Em janeiro de 2022, o IT Forum fez uma reportagem especial sobre o que diz sobre o assunto a legislação brasileira.

Quando optam por soluções do tipo, organizações têm um amplo leque de possibilidades. Relatórios de produtividade que podem ser gerados, por exemplo, através de softwares como o Microsoft Teams. A solução de colaboração da Microsoft foi uma das que mais cresceu durante a pandemia, saltando de 75 milhões de usuários ativos em abril de 2020 para os atuais 270 milhões. Para gestores, o Teams é capaz de rastrear ações de funcionários através dos múltiplos aplicativos da Microsoft, incluindo e-mail, chat, reuniões, videochamadas e tempo total online.

Há, no entanto, soluções que podem ser consideradas mais invasivas. Algumas destas ferramentas são capazes de realizar capturas de tela regulares, permitindo que gestores monitorem o que colaboradores estão vendo em seus dispositivos. Outras, utilizam webcams para tirar fotos dos funcionários e acompanhar o tempo que ficam no posto de trabalho.

“Monitorar é legítimo, mas você tem que ter uma régua”, avaliou Mariana Rielli, advogada e coordenadora geral de projetos da Data Privacy Brasil, em entrevista ao IT Forum. “Essa régua é considerar o que é proporcional, o que é necessário em determinado contexto. Que você não está fazendo um monitoramento indiscriminado, que teve uma reflexão prévia sobre porque isso é necessário.”

Ouvido pelo IT Forum, Adriano (nome fictício para preservar sua identidade) convive há anos com o monitoramento constante de seu trabalho. O profissional trabalha no escritório paulistano de uma grande empresa do setor da comunicação. A estação de trabalho que opera é monitorada constantemente através de captação de imagens da tela.

Segundo ele, o monitoramento é utilizado para encontrar responsáveis sempre que um erro atrapalha o processo de produção diário da organização. “Para algumas pessoas, essa pressão afeta. Muitos têm crises de ansiedade”, contou. “Você já tem cobrança diária, a cobrança de horário, mas com ‘fulano’ vendo, observando, é tipo o livro 1984 [do autor britânico George Orwell].”

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