Tecnologia na logística: 3 (imensos) casos de sucesso

Uma longa sucessão de casos de sucesso nos setores de logística: assim é possível resumir parte do evento promovido pela Seal – o Seal Summit 2023 – realizado em São Paulo na semana passada. Durante as poucas horas em que o IT Forum esteve presente, a integradora brasileira fez questão de mostrar aos presentes alguns use cases de grandes movimentadores de mercadorias, com um objetivo simples, conforme explicou Wagner Bernardes, o CEO da companhia.

“Na época da pandemia fizemos algumas centenas de eventos online, os webinars. Percebemos que a Seal deveria ter o compromisso de compartilhar conhecimento e informação”, disse o executivo aos presentes. “Quando olhamos para a cadeia de abastecimento, as soluções de um mercado acabam ajudando outro, do ponto de vista de tecnologia. Esse share de informação é muito bacana e queremos trazer isso.”

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A empresa, nascida em 1988 como revenda de coletores de dados e equipamentos de mobilidade corporativa, cresceu principalmente a partir de 2010, quando ingressou no mercado de infraestrutura de TI e telecomunicações. Hoje verticalizada, a empresa tem divisões focadas em tecnologias distintas, como internet das coisas (ou IoT, a Seal Connect), logística (a Seal Logistics), educação (Seal Education) e outras.

“Continuamos firmes e fortes [em automação comercial], mas vocês vão ver aqui [no evento] coisas novas.” Segundo Bernardes, há uma infinidade de desafios a serem vencidos pela cadeia de abastecimento brasileira em diversas regiões do País, da produção ao consumidor final, e que sem a tecnologia “não vamos alcançar novos níveis de performance.”

Confira a seguir três cases de grandes empresas brasileiras apresentados durante o evento.

Caso 1: Martins Atacadista

O grupo atacadista mineiro Martins é um gigante regional. Formado por oito negócios, incluindo o negócio tradicional de logística e empresas mais recentes (inclusive um banco, uma administradora de cartões e uma integradora tecnológica), a organização enfrenta o que o diretor de operações, Avenor Teixeira de Carvalho Neto, chama de “concorrência perfeita”.

“Uso intenso de capital, muito risco, risco de crédito, financiamento de pequeno e médio varejo, riscos trabalhistas – naturais quando se tem um universo de quase 10 mil pessoas trabalhando pra nós”, explicou aos presentes do Seal Summit. “A diferença entre lucro e prejuízo pode ser um minuto de bobeira.”

Soma-se a isso a estrutura logística complicadíssima. São mais de 590 fornecedores abastecendo 7 centros de armazenagem (e 24 hubs de apoio). São 355 mil entregas feitas por mês.

Lidar com isso traz um “desafio de exatidão”, conforme definiu o executivo. A alta carga tributária – cujo impacto tributário no negócio chega a três vezes e meia o custo logístico – é um complicador.

Com a Seal, a empresa investiu em um projeto de “picking by voice”, que pode ser resumido pela automação dos processos executados nos armazéns usando voz. O investimento de R$ 3,5 milhões começou primeiro no tratamento de lotes fechados, não fracionados.

O go live ocorreu em abril de 2021, depois de quase nove meses de conversa, negociação e experimentação. O ganho de produtividade obtido atualmente é de 30%, mas em “um negócio de margem muito baixa e elevado risco a pegada é continuar crescendo”, disse.

O projeto também trouxe grande melhoria do diálogo entre o sistema e os funcionários, disse o diretor. Além disso o problema de ergonomia enfrentado por eles durante o trabalho “desapareceu”, uma vez que “é muito mais fácil operar carga com mãos livres”.

Caso 2: Grupo Mateus

Outro gigante regional que apostou na tecnologia para ganhar escala é o Grupo Mateus, supermercadista maranhense de grande presença em toda a região Nordeste. Segundo Ramon Veloso, diretor de tecnologia e inovação da companhia, são atualmente 50 mil colaboradores, 400 mil clientes por dia em 238 lojas próprias e 79 franqueadas.

O faturamento de R$ 24 bilhões obtido em 2022 coloca a empresa como terceiro maior varejista nacional. São 14 centros de distribuição atendendo mais de mil cidades – e somando desafiantes 400 mil posições em pallets.

A aposta do grupo Mateus com a Seal foi um aplicativo móvel – o app Mateus Mais. São cerca de 45 “features” para gestão corporativa, com dashboards que oferecem visibilidade para métricas como metas de vendas, controle de estoque, comunicação interna e monitor de vendas, com faturamento por loja, região ou segmento.

“[O app] trouxe um ganho de tomada de decisão para os executivos e gerentes de loja que não precisam mais de computador para acompanhar”, explicou. O app notifica os gerentes sobre, por exemplo, produtos “sem giro”, ou seja, não vendidos, e que podem entrar em promoção.

“A gente sabe que é um grande problema e com o app também conseguimos reduzir bastante as perdas”, contou o executivo.

Caso 3: Leroy Merlin

A francesa Leroy Merlin é conhecida pelas imensas lojas de materiais de construção e produtos para o lar. Transportar e armazenar esses itens, pesados e de quebra fácil, não é simples, o que torna o trabalho de bastidores tão crucial quanto delicado.

Segundo Ageu Pedro Junior, diretor de produtos de tecnologia da operação brasileira da empresa, e líder da startup da empresa, a LM Tech, são 38 mil pedidos por mês e 60 mil tarefas somente no centro de distribuição (CD) que a Leroy Merlin mantém em Cajamar (SP). Essa tarefa não é nada simples para os trabalhadores do local.

“A ergonomia é desfavorável, há alto índice de incidentes, como quebras de produtos, além de produtividade baixa e turnover alto”, conta o executivo. “São dores que a gente levantou nessa escuta feita no início do projeto”

O projeto, no caso, é a automação completa do CD de Cajamar. O desafio era aumentar a produtividade em 50% nos processos de picking das mais de 20 mil posições em paletes. As mudanças incluíram uma obra de construção civil, com prateleiras grandes em um pé direito mais alto, para comportar toda a estrutura de automação, que inclui elevadores verticais e robôs da italiana Cassioli, controlados através do SAP EWM.

O go live do projeto é previsto para agosto próximo. “Calculamos uma redução de mais de 50% de redução no tempo de picking. Os robôs trabalham de forma totalmente autônoma”, contou Pedro Junior. O projeto também deve reduzir os custos logísticos de 1,9% do total para 1,7%.