A TI no Brasil: um setor em expansão, mas com carência de profissionais
Em um escritório, o silêncio entre as telas é quebrado apenas pelo estalar de teclas rápidas. Entre rotinas automatizadas e linhas de código, o profissional de TI enfrenta um cenário que se apresenta com uma estranha ambiguidade: um mercado que grita por mão de obra qualificada, mas que, paradoxalmente, não consegue preencher suas vagas. No Brasil, a realidade é clara e inquietante. Estima-se que até 2025 o país sofrerá um déficit de 530 mil especialistas na área de tecnologia, segundo dados da Google for Startups. Mas o que isso significa na prática?
“Não é só sobre criar vagas. O problema real é que não há profissionais qualificados o suficiente para ocupá-las”, explica Gilberto Reis, diretor de operações da Runtalent, uma consultoria que conecta empresas a especialistas em TI. Para Reis, o mercado de tecnologia no Brasil vive uma contradição. De um lado, a demanda por profissionais explodiu com a aceleração da transformação digital. Do outro, a oferta não acompanha. “As tecnologias evoluem muito rápido, e quem já está na área muitas vezes não consegue manter o ritmo”, afirma.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) corroboram essa avaliação. Um estudo da entidade mostra que o setor de TI tem potencial para gerar 797 mil novas vagas até 2025. O problema é que, ao ritmo atual, o país só consegue formar 53 mil profissionais por ano. Esse descompasso reflete um problema estrutural que, como de costume no Brasil, começa na formação educacional e passa pelas políticas de incentivo ao setor.
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A valorização do profissional de TI vai além do conhecimento técnico. Hoje, segundo Reis, o mercado busca alguém que entenda a lógica dos negócios e saiba fazer a ponte entre a solução tecnológica e a estratégia da empresa. “Os profissionais de TI passaram de técnicos para verdadeiros parceiros estratégicos nas empresas. Quem se destaca hoje não é apenas o que sabe programar, mas o que consegue traduzir a tecnologia em vantagem competitiva”, ele comenta.
Isso inclui habilidades que, até recentemente, não eram associadas ao universo de TI, como trabalho em equipe, pensamento crítico e capacidade de adaptação rápida a mudanças. Nesse ponto, as organizações enxergam no profissional de TI um agente de transformação, capaz de interagir com diferentes áreas e propor soluções que atendam às necessidades específicas de cada setor.
O papel da Inteligência Artificial (IA) nesse cenário é um divisor de águas. A automação de processos que antes exigiam grande esforço manual é hoje um alívio para as equipes de tecnologia. “A IA permite que os profissionais de TI se concentrem em tarefas de maior valor agregado”, diz Reis. Um exemplo prático é a implementação de sistemas que utilizam IA para prever falhas e corrigir erros antes que causem grandes prejuízos. Ferramentas assim fazem com que as equipes técnicas possam focar em inovação e na melhoria contínua de processos.
Mesmo com esse avanço, o impacto da IA no mercado de trabalho ainda suscita discussões. Um relatório do Fórum Econômico Mundial estimou que até 2025, 85 milhões de empregos poderão ser substituídos por máquinas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, outros 97 milhões de novos postos de trabalho serão criados em função da mesma automação. “Há o medo de que a IA substitua o trabalho humano, mas, na realidade, ela está criando novas demandas que exigem profissionais cada vez mais qualificados”, pondera Reis.
Se no passado o profissional de TI era visto como um executor isolado, responsável por resolver problemas específicos, hoje ele é parte integrante da engrenagem que move as empresas rumo ao futuro digital. A constante necessidade de atualização, o desenvolvimento de habilidades multidisciplinares e a busca por certificações em tecnologias emergentes já são parte do currículo essencial para aqueles que buscam relevância em um mercado em transformação.
O desafio para o setor de TI no Brasil não está apenas na criação de novos postos de trabalho, mas em garantir que esses postos sejam ocupados por profissionais aptos a lidar com a velocidade da transformação tecnológica. Como lembra Gilberto Reis, “o futuro da TI depende de quem estiver disposto a aprender sempre”.
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