Transformação digital do setor público esbarra em alta administração

A transformação digital do setor público no Brasil tem avançado nos últimos anos acompanhando as oportunidades e facilidades da digitalização. No entanto, o cenário poderia ser melhor e mais ágil caso a alta administração das esferas governamentais adotassem uma agenda transformacional de políticas públicas aliadas à inovação e novas tecnologias, concluiu uma pesquisa recente encomendada pela Dell Technologies e feita pela IDC Brasil.

A maioria (77%) dos gestores públicos ouvidos no levantamento afirmou não ter agenda frequente de reuniões e alinhamento para debater o tema, ou que depende de projetos/demandas específicas para que isso aconteça. Quando considerado uma agenda com o principal executivo da administração, seja ele prefeito, governador, secretário ou ministro, esse índice chega a 70%.

Essa realidade também reflete nos orçamentos de TI, com menos da metade do setor público brasileiro (48% das instituições) prevendo um aumento nos investimentos em Tecnologia da Informação para 2023, enquanto 9% projetam uma redução nos recursos. O incremento só deve ser maior entre as instituições da esfera estadual, nas quais 83% projetam ampliação no orçamento tecnológico para o próximo ano.

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Na visão de 64% dos respondentes do estudo, o baixo orçamento para iniciativas digitais é visto como um dos principais obstáculos para implementar as estratégias de transformação digital dentro dos órgãos governamentais. Há, entretanto, outros desafios para avançar a digitalização que dizem respeito a aspectos culturais. Para 57% dos entrevistados, a cultura organizacional do setor público, que tende a ser mais engessada, é resistente a mudanças (57%) e a resistência a novas formas de trabalhar (43%) também contribuem nesse processo.

“Nós vimos nos últimos anos, especialmente durante os períodos mais agudos da pandemia, a tecnologia sendo um vetor essencial para o pleno funcionamento das instituições, e na gestão pública isso não foi diferente”, afirma Bruno Assaf, diretor para Setor Público da Dell Technologies. “Para que isso se consolide ainda mais nos próximos anos, é primordial que o tema da digitalização faça parte integrante da agenda principal de transformação de governo. Somente assim alcançaremos no futuro uma sociedade digital.”

Governos digitais

Na análise da IDC Brasil, há certas prioridades que devem ser seguidas para se alcançar um Governo Digital. Modernizar o legado de infraestrutura é o primeiro passo. Ao mesmo tempo, a consultoria alerta para a falta de uma cultura de proteção de dados já que a segurança da informação tende a ficar concentrada nas áreas de TI.

“Pelo estudo percebemos que, nos próximos 12 meses, as prioridades dos gestores direcionadas a melhorar os serviços da administração geral desses órgãos são: a modernização e integração de tecnologias para reduzir redundâncias e silos de infraestrutura, o aumento do uso de dados em tomadas de decisão, e o melhor gerenciamento de custos e redução de despesas, citadas por 49%, 43% e 42% dos respondentes, respectivamente”, revela Luciano Saboia, gerente de Pesquisa e Consultoria de Telecomunicações da IDC Brasil.

Segundo a IDC, apesar da relevância do tema segurança cibernética, poucos investimentos ainda são aplicados em soluções transformacionais. “Essas ações são implementadas de modo reativo ou fragmentado, e a terceirização ou o suporte de serviços voltados para o gerenciamento estruturado dos dados e da rede podem ser formas de atender essa questão”, diz Saboia.

Uma maior interlocução com os agentes públicos, que estão fora do âmbito da TI, também se faz necessária, destaca a IDC. Assim, será possível acelerar os investimentos destinados à jornada de transformação rumo a um Governo Digital. “Nesse cenário, as áreas de TI se revelam pouco protagonistas até aqui, apenas com indicações de defasagem de infraestrutura, equipamentos e devices. Atuar junto à alta gestão dos órgãos públicos como advisor ainda não é uma realidade”, analisa Saboia.

O estudo intitulado “Tendências de investimento em TI para o segmento governo no Brasil” ouviu 152 administradores e tomadores de decisão da gestão pública das esferas federal, estadual e municipal em cidades com mais de 10 mil habitantes.