Veja como a “Síndrome de Boazinha” pode impactar a autoestima

Consegui dizer não. Não, não posso. Pela primeira vez. Aos 51. Demorou, eu sei. Mas falei. Com consciência. Pensei, ponderei e percebi que não poderia aceitar aquela proposta de trabalho – o prazo era curto demais e a relação não estava sendo construída com respeito.

Por trás dessa negativa, existe uma menina ávida por ser aceita. Ela tem 8 anos. Filha do meio, pressionada entre a irmã mais velha e o irmão mais novo. A menina doce e meiga. A que diz sim sempre. Para ser vista, aprovada pelo olhar alheio. A que carrega a Síndrome da Boazinha. A boa filha, boa aluna, boa esposa, boa amiga, boa mãe, boa profissional.

A Síndrome da Boazinha em geral começa na infância. Quer brincar de boneca? Sim. Quer ser a tia? Porque eu já serei a mãe. Tudo bem. Não, você vai ser a madrinha, porque outra pessoa quer ser a tia. Tá bom, pode ser. Na adolescência, é a que faz os trabalhos da escola para todos do grupo. Sem reclamar. Não quer criar inimizades. Adulta, acumula tarefas. E, quando não consegue mais respirar, aceita mais uma.

Saber dizer não é preservar o tempo de qualidade

A Síndrome da Boazinha é bolo de festa com camadas. Cada “sim” pertence a uma fatia diferente, na qual sobra insegurança e falta amor-próprio. Sufoca. Afoga. Apaga. Receber a faixa de boazinha me levou a conhecer meus limites. Da dor. Da saturação. Da solidão. A gente quer ficar ao lado, mas só consegue se manter embaixo do outro.

Quero que isso acabe aqui. Em mim. Não há prêmios para a boazinha. Quero poder ter meu espaço preservado. Ter tempo para conversar com minha filha. Assistir a uma série com meu filho. Não quero mais engolir sapos de gente que mal conheço. Só vou me desdobrar ou me apequenar em espaços estreitos se isso for realmente necessário e apenas onde exista amor.

Ilustração de uma mulher se olhando no espelho
Ame e respeite suas vontades (Imagem: Ya_blue_ko | Shutterstock)

Reserve os “sins” para si

Ser boa não é sobre calar, aceitar, fazer caber onde não é mais possível encaixar nem um único sopro. É sobre se ouvir. É sobre se amar. Porque, com esse amor, vêm o respeito, a admiração, a sabedoria, o equilíbrio, a ponderação. Estou agora aprendendo a construir limites, a partir de quem sou.

Nas minhas cercas, não cabem arames farpados, mas elas ainda assim existem. Não me machucam, mas também não precisam machucar o outro. Quando consegui dizer não, pronunciei também um sim. Em direção a mim. Abracei a menina de 8 anos e garanti que agora ela pode ser quem quiser na brincadeira e na vida. Estamos livres. Livres. Para ser.

Por Ana Holanda – revista Vida Simples

Jornalista e garante que está aprendendo a perceber quais são seus limites.