‘Vejo uma grande similaridade com Bolsonaro e Trump’, diz professor sobre vitória de Javier Milei na Argentina

O candidato oposicionista de extrema direita Javier Milei surpreendeu os analistas políticos e foi o mais votado nas eleições primárias da Argentina, realizadas neste domingo, 13. A votação define os candidatos para o pleito oficial, que ocorre em 22 de outubro. Para falar sobre o favoritismo de Milei, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o professor de relações internacionais da FGV, Vinícius Rodrigues Vieira, que o relacionou com o ex-presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump: “Ele é um outsider. Mas, tal como esses dois líderes que chegaram à presidência do Brasil e dos Estados Unidos, Milei se apresenta como um antipolítico, ele é um candidato antissistema. Vejo uma grande similaridade com esses dois líderes, Bolsonaro e Trump”. O especialista tmabém analisou a plataforma política de Milei, que se autodenomina um “anarcocapitalista” e tem promovido propostas ultraliberais para a Argentina.

“Em relação a essa questão do anarcocapitalismo, temos que ver na prática como isso vai operar. Seria aquela visão de que o Estado não é necessário. Ele acaba propondo elementos como a dolarização, ou seja, a Argentina pararia de emitir sua própria moeda. Também uma redução dos direitos sociais, ele fez uma fala muito dura dizendo que direitos sociais seriam uma forma de roubo (…) Como isso vai operar, na prática, em um país extremamente empobrecido? Nesse sentido, é um terremoto político até mais duro do que o que aconteceu nos EUA com o Trump, porque os EUA são um país desenvolvido com uma série de questões que ajudam a amortecer uma movimentação política mais brusca”, explicou.

Para o professor, as primárias tiveram resultado esperado, mas surpreendente, pois esperava-se que a direita fosse vitoriosa, mas não dentro do espectro da extrema direita: “O Javier Milei é grande vencedor que ninguém esperava porque as pesquisas mostravam uma desidratação desse candidato. Ele era claramente o único candidato do campo mais à direita. Já na centro-direita, herdeira do ex-presidente Maurício Macri, tínhamos dois candidatos e saiu vitoriosa a Patrícia Bullrich. É um processo obrigatório e que mostra um termômetro para as eleições reais. Claramente a Argentina move-se à direita. Esperava-se um fracasso do peronismo, mas uma força muito maior daquilo que no contexto argentino pode ser considerado centro-direita, que é a coalizão Juntos Por El Cambio (Juntos pela mudança). Portanto, temos a Argentina movendo-se à direita, mas muito mais à extrema-direita do que qualquer analista poderia esperar neste momento”.

Rodrigues Vieira argumenta que a crise econômica é fator importante para entender a ascensão de Milei, mas não o único: “Os índices de violência na argentina estão elevadíssimos (…) É uma realidade a qual os argentinos estão menos acostumados, então tem claramente uma movimentação rumo à direita não só como reação à crise econômica, com uma inflação de mais de 100% em que não há previsibilidade econômica e os ganhos, principalmente dos mais pobres são corroídos, mas a questão da segurança pública também é fundamental”. Confira a análise completa no vídeo abaixo.