Vinhos tintos brasileiros atingem patamar de qualidade e constância de grato reconhecimento

A evolução da viticultura brasileira é motivo de aplausos efusivos. Hoje o Brasil produz vinhos de categoria mundial, tendo atingido um patamar de qualidade e constância de grato reconhecimento. Confesso que, há dez anos, não punha fé nesta evolução, em que pese alguns ícones de qualidade e inovação já se fazerem presentes, como é o caso do Atelier Tormentas, com seus vinhos excepcionais e únicos; o Vinhedo Serena, com um marcante Pinot Noir e a Don Laurindo, que já manejava a casta Tanat com especial maestria. A verdade é que o produtor nacional, especialmente aqueles que passaram a se dedicar a vinhos “de autoria”, abandonaram a insistência irritante em produzir vinhos das castas Cabernet Sauvignon e Merlot, então imitando outros países do Cone Sul, especialmente o Chile (que peca pela absoluta falta de identidade de seus vinhos) e passaram a inovar, buscando castas exógenas a Bordeaux e aventurando-se, positivamente, por cortes criativos e mais afeitos ao paladar do consumidor brasileiro. 

Os vinhos nacionais começaram a recepcionar castas como as italianas Barbera, Montepulciano e Teroldego, a espanhola Tempranillo, as portuguesas Touriga Nacional e Tinta Roriz e por aí afora. Algumas castas francesas menos famosas também passaram a ter seu protagonismo, como, por exemplo a Cabernet Franc, a  Marselan e a Petit Verdot, afora a consagrada Syrah. A Gamay, do sul da Borgonha, também merece especial destaque, em face dos excelentes produtos aos quais deu luz em solo brasileiro. Ao meu gosto, os tintos da Gamay de aqui do Brasil, notadamente do Rio Grande do Sul, são muito mais possíveis ao paladar nacional que aqueles da França, isso sem levar em conta o custo… Agora justiça seja feita, em que pese o esforço de muitos produtores nacionais e os vinhos icônicos que temos encontrado na Região Sudeste, é do sul do Brasil que vem a predominância qualitativa dos tintos nacionais. Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm a vanguarda e, quase, a hegemonia de vinhos tintos nacionais. Os produtores destes Estados perceberam que respeitar o “terroir” e recepcionar as técnicas que os antigos colonizadores italianos trouxeram na bagagem da imigração seriam as chaves para alcançar a excelência  na produção do vinho tinto nacional. Repise-se: foram os pequenos produtores e aqueles que se propuseram a fazer vinhos “de autoria” que conseguiram dar este tom ao tinto nacional, entretanto, as grandes vinícolas, sensíveis a tendência, passaram a produzir, também, vinhos de qualidade, os tais “premiums” de suas linhas. Algumas, como a Miolo, por exemplo, optaram por uma linha paralela com outro “label”, a exemplo do Miolo Quinta do Seival Castas Portuguesas. Todo este salto qualitativo, entretanto, só foi possível de se fazer notar por conta de comerciantes brasileiros que, perceptíveis à melhora do vinho tinto, investiram em canais de distribuição e ofertas ao consumidor. Empresários e empresas como a Adega Dorna (RS), Empório Schoffen (PR), Bodega Pedra Preta (RJ), Adega Perlage (RN) e Jack Vartanian – Adega (SP) fazem a diferença e possibilitam o fácil acesso do consumidor nacional aos excelentes vinhos brasileiros e, desde agora, fica a sugestão para a visita a seus portfólios; se consultarem o site https://brasildevinhos.com.br/onde-comprar/, será possível encontrar locais e comerciantes de vinhos nacionais pelo Brasil afora, vale a busca.

Vou sugerir alguns tintos nacionais, que deverão convencer o consumidor brasileiro a ter o vinho nacional tinto como foco quando os quesitos forem qualidade e excelência e começo com o Capella dos Campos Touriga Nacional, da Família Lemos de Almeida, por tratar-se de um vinho muito em conta e de personalidade marcante. O Almaúnica Quatro Castas Super Premium, da Vinícola Alma Única, é fruto de incrível criatividade do enólogo. O Intenso Marselan, da Salton, mostra que acreditar e experimentar castas não tão famosas vale a pena. O Viapiana Barricas Selecionadas – Lote 6 – carrega todo o Terroir da Serra Gaúcha aliado a uma criatividade e capacidade de barricar únicos. O Don Guerino Reserva – Pinot Noir, sútil, suave, demonstra como a casta pode dar bons vinhos sem a necessidade de querer copiar a Borgonha. O Leoni di Venezia – Agliânico – de corpo intenso e elevada estrutura, é exemplo de como uma casta italina, não tão prestigiada, pode entregar um excelente vinho.  O Capoani Gamay é um vinho que me cativou. O Casa Galiotto e o Casa Venturini, ambos Tanat, são típicos vinhos para um bom churrasco. E, para terminar, indico o Thera Montepulciano, como um digno representante de um vinho “de autoria”.  Afora as sugestões aqui trazidas, convido o leitor a buscar, provar e inovar, só assim poderemos alcançar a consolidação forte e definitiva do gosto brasileiro pelos vinhos daqui. Salut!