WeWork quer ser ‘Airbnb de escritórios’ com novo marketplace na América Latina

Os últimos anos têm sido de reconstrução para a WeWork. Antes um dos nomes de maior sucesso no segmento de escritórios compartilhados, a startup passou por um processos de derretimento em 2019, quando documentos divulgados na véspera de um IPO revelaram uma série de decisões irresponsáveis por parte de sua então liderança que colocaram em xeque a saúde financeira e avaliação bilionária da companhia.

Em setembro daquele ano, Adam Neumann, cofundador e então CEO da WeWork, deixou a empresa. No ano seguinte, a organização iniciou um processo de reestruturação sob a tutela de um novo CEO, Sandeep Mathrani. Mas logo veio um novo desafio: a pandemia da Covid-19, que atingiu o negócio central da WeWork e a obrigou a fechar escritórios ao redor do mundo durante os períodos mais intensos de lockdown.

Mas a WeWork sobreviveu aos percalços. Hoje, a companhia explora novos modelos de negócio e quer tirar proveito do avanço global do trabalho híbrido para atingir um crescimento sustentável. Um dos exemplos disso é a operação latino-americana da WeWork, que, desde maio de 2021, atua na região como joint venture entre a WeWork global e o SoftBank Latin America Fund.

“O que nós vemos nos nossos dados é uma dinâmica de trabalho muito diferente”, explicou Bruna Neves, Chief Product Officer (CPO) da WeWork na América Latina, em entrevista ao IT Forum. “No trabalho pré-pandemia, 11% das pessoas trabalhavam de forma híbrida. A pandemia muda a forma como todos trabalham, e você passa para um mundo onde 78% das pessoas trabalham híbrido.”

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Nesse novo contexto do trabalho híbrido, a empresa lançou a ‘Station by WeWork’. A oferta está disponível para o público geral brasileiro desde o final de janeiro, e consiste em uma plataforma na qual usuários podem encontrar espaços de trabalho disponíveis ao seu redor para ocupar quando necessário. Com um modelo de marketplace, a solução tem a ambição de se tornar uma espécie de “Airbnb de escritórios”.

“A gente entendeu que a forma de trabalhar e o modelo da WeWork nunca mais poderia ser alugar um escritório de segunda a sexta, todo dia no mesmo lugar”, complementou Neves, que se juntou a WeWork há pouco mais de um ano para auxiliar no desenvolvimento de novos produtos.

Com a ‘Station by WeWork’, a empresa passa a ter agora mais de 240 espaços de trabalho e espaços de eventos cadastrados em sua rede no país, alcançando todos os estados brasileiros. Esses espaços garantem uma capilaridade a WeWork que seria impossível sem a abertura de um marketplace para parceiros. Todos os 85 mil membros da WeWork no Brasil e no restante da América Latina têm acesso ao serviço.

De forma similar ao Airbnb, a ‘Station by WeWork’ é composta por espaços operados por parceiros terceiros, que cumprem pré-requisitos de infraestrutura da WeWork – incluindo de segurança e conectividade –, e espaços da própria WeWork – no Brasil, eles são 33 unidades.

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A Station se soma a outra oferta já lançada pela WeWork na região: o ‘Workpass’, “vale-escritório” da WeWork que as empresas podem oferecer aos seus colaboradores como um benefício extra – similar ao que o Gympass oferece com academias. Com o ‘Workpass’, os colaboradores também terão acesso a todos os escritórios da WeWork e dos parceiros via Station.

Com os dois novos serviços, a WeWork tem planos ambiciosos para a região: a marca projeta crescer 10 vezes seu faturamento na América Latina com essa estratégia, alcançando 100 mil assinaturas do Workpass na América Latina ainda em 2023.

“A Station é essencial para trazer a WeWork para esse novo mundo. Quando entrei aqui, a WeWork dizia ser uma empresa do mercado imobiliário, hoje a gente é uma empresa de tecnologia”, disse a CPO. “A gente vê esse mercado crescer muito, não só pela necessidade das soluções flexíveis, mas também pelas dores das empresas, de funcionários, de companhias imobiliárias, em operar essa dinâmica. Hoje a gente tem a tecnologia para conectar o usuário ao espaço de trabalho, mas esse é só o começo.”

Investimentos em tecnologia

Por trás de ofertas como a ‘Station by WeWork” e do ‘Workpass’ há um investimento da companhia na região para reforçar suas bases tecnológicas. Para habilitar a nova estratégia de marketplace e serviços, a WeWork LatAm está investindo R$ 44 milhões em tecnologia e marketing.

O investimento também engloba a expansão do time de tecnologia da empresa, que está focado hoje no Brasil. Segundo a executiva, a empresa começou com cerca de 20 posições na região, entre produtos e tecnologia. Hoje, entre colaboradores diretos e indiretos, já são mais de 100 pessoas trabalhando diretamente no produto Station.

Segundo Neves, o investimento em tecnologia é essencial para ajudar a trilhar o caminho que a WeWork ambiciona, o de uma intermediária para todas as soluções envolvendo lugares de trabalho – de serviços de escritório flexível até soluções complexas, como ajudar empresas a rentabilizar espaços ociosos.

“Nossa ideia é entender todas as dores de gestão do funcionário na nova dinâmica”, explicou a executiva. “Toda essa demanda nova vem com a necessidade de uma tecnologia nova. Nada disso é operável sem uma tecnologia para reservar espaços, sem uma tecnologia para pagar, sem uma tecnologia para consultar agendas. Então a gente vê esse negócio como uma estratégia de crescimento e proteção da WeWork.”