Dorothy Stanley, do IEEE: Wi-Fi é parte do futuro das telecomunicações

Em mundo cada vez mais sem fio, um dos trabalhos mais importantes feitos dentro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (ou IEEE) é o feito pelo Grupo de Trabalho do Padrão IEEE 802.11 – sigla que compreende as popularíssimas redes Wi-Fi. Desde que surgiu, em 1997, o Wi-Fi saltou de taxas de transmissão de 1 mbps para 9.600 mpbs no atual Wi-Fi 6E, e o grupo – presidido pela americana Dorothy Stanley, busca atualizar a tecnologia em busca tanto de mais velocidade e qualidade, mas também com a capacidade de habilitar novos serviços.

Dorothy, que também é arquiteta de padrões da Aruba (empresa comprada pela Hewlett Packard Enterprise, a HPE, em 2015), esteve no Brasil esse ano para apresentar novidades sobre o trabalho realizado no IEEE. Além de dispositivos mais ambientalmente responsáveis, há um esforço do grupo de trabalho em habilitar aplicações de inteligência artificial e machine learning, bem como de manter as redes Wi-Fi como referências para habilitar redes de internet das coisas (IoT).

Para ela, a evolução do Wi-Fi deve facilitar casos de uso e inovação em variados segmentos de mercado. Citou áreas de pesquisa promissoras, como aquela que permite aos dispositivos IoT usarem energia do meio ambiente, dispensando baterias. Para ela, redes Wi-Fi são capazes de oferecer implementação simples e econômica para atender a um número significativo de casos de uso de internet das coisas.

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Para ela, o Brasil é um dos líderes mundiais na oferta de Wi-Fi 6E, e o órgão regulador nacional – a Anatel – exerce uma “liderança global”. Nesse momento a agência reguladora estuda o uso do padrão Wi-Fi 6E, na frequência de 6 GHz, como forma de complementar o uso das redes 5G em aplicações de áreas externas.

Segundo Dorothy, estudos recentes do IEEE apontam que redes baseadas em IEEE 802.11ax (Wi-Fi 6/6E) atendem ou excedem os parâmetros identificados para sistemas 5G em aplicações urbanas densas. A executiva falou do assunto em conversa com o IT Forum.

Confira!

IT Forum: Já se fala em Wi-Fi 8 enquanto o Wi-Fi 7 sequer foi lançado, e mesmo o Wi-Fi 6 ainda tem um longo caminho pela frente antes de se tornar dominante nas casas e negócios. Esse descompasso entre pesquisa e mercado é positivo? Por quê?

Dorothy Stanley: Como você observou corretamente, produtos que adotam o Wi-Fi 6 e 6E estão sendo implantados agora e se tornarão cada vez mais dominantes nos próximos anos. Produtos baseados em Wi-Fi 7, baseados [no padrão] IEEE 802.11be, também chegarão ao mercado.

O trabalho no desenvolvimento de padrões IEEE necessariamente precede a implantação do produto em vários anos. No Grupo de Trabalho IEEE 802.11, estamos apenas começando o trabalho na próxima emenda MAC/PHY pós P802.11be (comumente referido como Wi-Fi 8). Se mantido o status de trabalho de contexto, ou seja, os produtos fabricados diferentes dos padrões iniciais de desenvolvimento, então sim, isso [o descompasso] é positivo, pois a “incompatibilidade” não é realmente uma incompatibilidade.

Ao invés disso, descreve o desenvolvimento contínuo de gerações de produtos Wi-Fi que estão sendo definidos e desenvolvidos para fornecer conectividade econômica e novos aplicativos para clientes finais.

IT Forum: Em que ponto está o desenvolvimento do Wi-Fi 7 e quando estará amplamente disponível para empresas (e consumidores finais)?

Dorothy: Chipsets e primeiros produtos Wi-Fi 7 (baseados em IEEE P802.11be) já estão no mercado. A certificação de interoperabilidade da Wi-Fi Alliance está em desenvolvimento e deve estar disponível no final de 2023, início de 2024.

Portanto, é razoável esperar que a disponibilidade mais ampla ocorra em 2024 e 2025 e além.

IT Forum: Qual é o próximo passo evolutivo para redes sem fio via Wi-Fi? Ou seja, qual o potencial de inovação oferecido pelo Wi-Fi 7, principalmente no B2B?

Dorothy: As principais melhorias (etapas evolutivas) no Wi-Fi 6/6E e no Wi-Fi 7 se concentram no desempenho aprimorado, incluindo maior taxa de transferência em implantações densas, consumo de energia reduzido e latência/jitter [atraso] reduzidos.

A operação na banda do espectro de 6 GHz é uma evolução importante, permitindo a inovação tanto para o acesso do usuário final quanto para aplicações no backhaul. Isso é fundamental para oferecer suporte aos provedores de serviços de internet em áreas rurais e remotas para conectar o que até então era desconectado de maneira acessível.

IT Forum: Hoje muito se fala sobre o 5G como driver de aplicações de internet das coisas (IoT), principalmente corporativas. O Wi-Fi 6, 6E e 7 tem o mesmo potencial? Por que a indústria não fala tanto sobre eles?

Dorothy: Artigos como esse, por exemplo, fornecem uma boa visão geral do suporte de IoT por Wi-Fi atualmente. O texto destaca 8 principais vantagens da tecnologia Wi-Fi em aplicativos IoT.

De fato, chipsets Wi-Fi de baixa potência de 20MHz mesmo em Wi-Fi 4 (padrão IEEE 802.11n-2009) são de uso generalizado. As gerações mais recentes (Wi-Fi 6/7) fornecem recursos e capacidades adicionais de economia de energia.

Além disso, os produtos Wi-Fi que suportam a operação na banda abaixo de 1 GHz (IEEE Std 802.11ah-2016) estão começando a chegar ao mercado. Esses produtos oferecem suporte a aplicativos IoT e operação de baixo consumo de energia de longo alcance com capacidade de suportar milhares de dispositivos a partir de um único ponto de acesso.

Uma boa visão geral da tecnologia está disponível nesse link.

Respondendo sua última pergunta, a indústria Wi-Fi opera com uma fração minúscula do orçamento de marketing da indústria 5G.