Ana Hickmann é gente como a gente e se tornou a voz por milhares de mulheres

Acompanhei com tristeza e indignação o depoimento de Ana Hickmann em suas redes sociais. Em respeito a ela, minha “eterna chefinha”, como eu a chamava nos bastidores, esperei alguns dias até que ela viesse a público expressar algo, para poder escrever. Fui repórter do Diário das Celebridades no “Programa da Tarde” na “Record TV” por quatro anos, e, por ser uma atração ao vivo, vivenciamos momentos de trabalho inúmeras vezes. Posso dizer que sempre admirei a simplicidade, sinceridade e autenticidade da Ana, dona de uma delicadeza e postura inquestionáveis. Estive na casa dela em Itu no chá de bebê do Alezinho e nunca me esquecerei da cena da minha pequena, a Lara, na época com 2 anos, pulando no sofá da sala da apresentadora, eu morrendo de vergonha e ela sorrindo dizendo para mim: “Deixa, Rê, é bom que já vou me acostumando com esse agito”…

Na primeira vez que uma reportagem minha foi ao ar, ela fez questão de vir até mim na produção para me parabenizar. Depois eu soube que no estúdio ela elogiava as matérias, afinal, fiz grandes entrevistas na “Record”. Uma marcou nossos corações em especial: a com o saudoso e eterno Rei Pelé, que brincou no ar: “Estou de mal de você, Ana Hickmann, porque você não me liga mais, por isso parei de te mandar flores”. Todos rimos muito. Estou contando tudo isso na coluna, para confirmar algo que veio à tona essa semana: Ana Hickmann é gente como a gente, sim, e merece todo nosso abraço, respeito, amor e empatia. A Aninha que eu conheço (apesar de sua grande altura) é mais, é um poço de coragem, profissionalismo, talento e sensatez, porque, se para uma mulher anônima passar por tudo que ela está passando já é difícil, imagina para uma figura pública? Como ela diz que leu muitas verdades e inverdades nas redes, resolvi colocar aqui a essência da Ana que conheço e conheci e me solidarizar a ela. Sabe, nós, sendo mulheres, já temos uma força inexplicável, mas quando é mãe, aí, fica invencível.

Esses dias vivenciei duas realidades diferentes: a tristeza da Ana e uma felicidade que tive ao receber na Câmara Municipal de São Paulo o Prêmio de Mulher Inspiradora, oferecido pela ADDJSPB – Associação dos DJs de São Paulo e do Brasil, a mulheres que fazem história inspirando outras, em diversas áreas. Me senti extremamente honrada ao discursar rapidamente no plenário representando uma mulher na comunicação, e claro, sendo apresentada como colunista do portal Jovem Pan, já que abordei aqui várias vezes temas relevantes como o preconceito, o temido machismo, dentre outros assuntos. Você deve estar se perguntando: por que uni esses dois pontos no mesmo texto? Porque quando de um lado nos entristecemos vendo uma de nós relatando uma violência sofrida, por outro há uma legião de homens de bem que reconhecem o verdadeiro valor da mulher. “Levantar a mão para uma mulher ou ser tóxico na vida dela de várias maneiras é crime, porque que mundo é esse que vivemos, se todos nós fomos gerados por uma mulher? Onde vamos parar?”, questionou Alessandro Santos, presidente da ADDJSPB na solenidade. Pois é. Fui surpreendida com esse prêmio, porque o Alessandro trabalhou comigo e acompanhou parte da minha história de vida testemunhando como cuido praticamente sozinha da minha filha. Nunca me esqueço a frase que ele me disse: “Rê, você é muito mais homem do que muito homem por aí”. E recebi de coração.

Ver mulheres de todas as idades, classes sociais, níveis e profissões sendo homenageadas e aplaudidas, inclusive por outros homens, foi mágico, em um país que diz que tem lei, mas não pratica. Ana Hickmann teve a sorte (e graças a Deus) de ser amparada pela lei, de estar bem assessorada e tudo mais. É claro que isso não diminui o sofrimento do trauma e do rompimento que ela teve coragem de expressar para o mundo, mas te convido aqui a uma reflexão: existem mulheres que não tem a mesma estrutura. Durante o evento de homenagem, conheci um outro exemplo feminino de coragem, cujo nome não vou citar por respeito. A J.M. tinha cinco medidas protetivas contra o ex marido, pai de seus filhos… Sim, você leu certo: cinco medidas protetivas que não serviram para exatamente NADA, porque o ex-companheiro foi atrás dela armado. Hoje, ela é um milagre vivo, já que, depois de levar cinco tiros, sobreviveu. No meio da agressão, ela conseguiu chegar até um posto policial. Como ele não parava de atirar, foi morto pela polícia ali mesmo. Ela se recuperou, teve que passar por cirurgias e reabilitação e, hoje, consegue sorrir para a vida, ao lado dos dois filhos. Naquela noite, as 200 mulheres premiadas aplaudiram de pé a história da J.M., inclusive eu, com lágrimas nos olhos…

Deixo aqui registrado meus parabéns ao vereador Paulo Frange, que tornou o prêmio uma realidade e, em conversa diretamente comigo, enalteceu a admiração que tem pelas mulheres: “Quase 85% da minha equipe é formada por mulheres, porque sei da dedicação, da competência, da cobrança e da capacidade femininas. Eu as admiro e sei que elas merecem reconhecimento, respeito e proteção”, disse. Para finalizar, é preciso ressaltar que existem várias formas de agressão contra a mulher: além do feminicídio, outros tipos de violência doméstica incluem agressões físicas, sexuais, verbais, psicológicas, patrimoniais (controle financeiro) e morais. É importante que as vítimas procurem ajuda e denunciem a violência doméstica. No Brasil, o número 180 é uma linha direta para denúncias e orientações sobre violência contra mulheres.

E, como disse outra apresentadora que admiro, Sonia Abrão, é mais do que importante essa ação de Ana Hickmann ao expor o que infelizmente aconteceu com ela, para que outras sigam o mesmo exemplo e dêem um basta. Eu já passei por uma situação desagradável após uma das minhas separações… Uma delegada pediu a protetiva (depois de ver ameaças que eu tinha no meu WhatsApp), e a juíza não deu, dizendo que “um tapa” era totalmente aceitável em uma relação de oito anos… Sim, uma mulher decidiu isso… Passo de tartaruga? Às vezes duvido se a lei existe mesmo. E como mãe de uma menina hoje com 12 anos, rezo para que ela não passe nunca pelo que já passamos, viu, Ana? Força, minha querida, e beijos no Alezinho, que conheci desde sua barrigona. O Brasil ama vocês e tudo vai passar.