Brasil enfrenta recordes de calor em pleno inverno
O inverno de 2024 no Brasil ficará marcado por números alarmantes. Em pleno mês de setembro, mais de 544 cidades registraram temperaturas até 4°C acima da média histórica. No Sul do Brasil, por exemplo, cidades como Curitiba, tradicionalmente conhecidas por seus invernos rigorosos, enfrentaram temperaturas que ultrapassaram os 30°C. No interior de São Paulo, moradores de Sorocaba e Campinas relataram calor recorde para a estação, com picos superiores a 35°C. Esses dados contrastam com a média histórica das regiões, onde, em muitos casos, as máximas costumavam ficar em torno de 25°C nesta época do ano. Essa mudança no clima afeta diretamente a saúde pública. O aumento das temperaturas, mesmo em períodos normalmente mais frios, está associado a um crescimento de problemas respiratórios, além de desidratação e complicações em doenças cardíacas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ondas de calor estão entre os principais fatores de risco para a saúde em todo o mundo, e o Brasil parece estar cada vez mais exposto a esses perigos.
Além da saúde, o setor agrícola também sofre com essas mudanças. No Sudeste e Centro-Oeste, a produção de alimentos está em risco. A seca prolongada, aliada ao calor fora de época, impacta as culturas de soja, milho e feijão, pilares da economia agrícola brasileira. De acordo com dados da Embrapa, as perdas em algumas lavouras já chegam a 30%, forçando produtores a adotar métodos emergenciais para salvar o que resta da safra. E esse impacto na produção agrícola resulta, naturalmente, na alta dos preços dos alimentos. Outro ponto a ser destacado é o aumento da vulnerabilidade de regiões que historicamente já sofrem com a seca. Em 2024, 58% do território nacional enfrenta algum nível de seca, sendo que em um terço do país o cenário é de seca severa, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem). O Nordeste, particularmente, enfrenta desafios ainda maiores, com pequenos agricultores vendo suas fontes de água se esgotarem e suas plantações secarem.
No cenário urbano, a falta de políticas públicas eficazes para mitigar o impacto das mudanças climáticas é preocupante. Nas cidades, o calor extremo sobrecarrega o sistema de saúde, eleva o consumo de energia com o uso constante de aparelhos de ar-condicionado e intensifica a poluição do ar, agravando ainda mais os problemas respiratórios, principalmente em crianças e idosos.
O Brasil, como um dos signatários do Acordo de Paris, deveria estar na linha de frente da adoção de práticas sustentáveis e na redução das emissões de gases de efeito estufa. No entanto, o desmatamento da Amazônia continua em níveis muito preocupantes. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, somente nos primeiros oito meses de 2024, o desmatamento atingiu mais de 9.000 km², uma área maior que o estado do Rio de Janeiro. A perda de florestas não só acelera as mudanças climáticas, como também reduz a capacidade do Brasil de regular o seu próprio clima, o que agrava ainda mais a situação. Diante de todos esses fatos, a pergunta que fica é: estamos prontos para lidar com as consequências dessas mudanças? O inverno de 2024 deixa claro que o clima brasileiro está mudando de forma rápida e imprevisível. A falta de políticas climáticas robustas, somada à negligência com o desmatamento e à ineficiência no uso de recursos hídricos, cria um cenário cada vez mais crítico para as próximas gerações. É essencial que governos, empresas e cidadãos entendam que é urgente a adoção de práticas sustentáveis, pelo combate ao desmatamento e pela transição para uma economia de baixo carbono.