Como APIs abertas vão revolucionar a digitalização de serviços governamentais

Em um mundo digital, conectado e aberto, as carteiras físicas, que antes carregavam dinheiro e diversos documentos, estão perdendo espaço para as carteiras digitais, e os serviços e atividades que antes só podiam ser realizados presencialmente, agora podem ser resolvidos com alguns cliques na tela. Um levantamento anual realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) entrevistou 23.950 domicílios entre outubro de 2021 e março de 2022, revelando que 70% dos usuários recorreram à internet para buscar informações ou serviços públicos em 2021, provando como os brasileiros estão mais adaptados a digitalização dos serviços.

Percebendo essa mudança, o governo brasileiro aderiu à digitalização dos serviços, desenvolvendo um ecossistema de aplicativos online no setor público. Por meio dele, documentos de identidade, carteira de habilitação e carteira de trabalho podem ser visualizados de maneira digital, assim como o acesso ao pagamento de tributos, saldos do FGTS e do INSS, dentre outras aplicações.

Por ser algo relativamente novo, mesmo sendo funcional e suprindo as demandas, esse ecossistema ainda pode ser aprimorado e expandido. Existe uma área nesse universo que permite novos avanços na modernização da integração entre os órgãos de diferentes esferas do governo, e é nesse ponto que entra a utilização das APIs.

Os impactos da digitalização do governo

Com a ampliação da digitalização dos serviços, o governo precisa criar ambientes tecnológicos mais integrados e modernos, isso reflete diretamente em outras ópticas da gestão pública. Para que os serviços públicos digitais sejam amplificados, é necessário que ocorra uma integração entre os sistemas legados e a consolidação de informações cedidas, juntamente com o crescimento da eficiência internacional.

Este sistema também auxilia na redução de recursos e otimiza os processos internos dos órgãos públicos. De acordo com Caio Mario Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, R$3,1 bilhões foram economizados desde janeiro de 2019 até o início deste ano graças à digitalização dos serviços governamentais.

O órgão também conta com o portal Gov.br, com o objetivo de unificar os diversos sites e aplicativos do governo, que abrange mais de 130 milhões de usuários cadastrados. De acordo com  a Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, esse número corresponde a 80% da população com mais de 18 anos no país.

Os desafios para a transformação digital no setor público

Existem alguns pontos que precisam ser desenvolvidos para que esse ecossistema seja totalmente integrado entre as diversas áreas do governo, um deles é a questão do compartilhamento e da consolidação dos dados. Os diversos silos de informação presentes na administração pública e a baixa integração entre os sistemas legados dificultam a repartição dos dados entre as esferas governamentais.

O sistema de APIs entra justamente nessa dificuldade que o ecossistema digital, por si só, não consegue resolver. Para adotar novas arquiteturas de serviços embasadas em APIs e microsserviços é necessário um certo investimento, pois elas requerem um custo maior de manutenção e geram alta complexidade. Isso faz com que sistemas monolíticos ainda predominem nas plataformas governamentais.

Os custos para evoluir o ecossistema digital do governo

Como citei anteriormente, a digitalização dos serviços, realizadas por um sistema monolítico, acarretou numa significativa economia para o setor público. Contudo, a utilização de um sistema de APIs e microsserviços, voltado à ampliação das vantagens econômicas e a redução dos custos operacionais de se manter data centers e links próprios, tem potencial para poupar ainda mais os recursos governamentais.

Em contrapartida, por conta dos sistemas on premises, hospedados em redes próprias, o custo de gestão da infraestrutura na área pública está propenso a encarecer a cada ano, sem mencionar a eventual necessidade de escalar repentinamente algum outro serviço, o que também impactará no aumento dos custos.

O primeiro passo para incrementar de forma mais ampla a integração e a transformação digital é a unificação da comunicação e a padronização das informações intercambiadas, por isso, pela nossa expertise com gestão de APIS, recomendamos o uso de APIs REST para reduzir a complexidade da integração e eliminar os silos entre as esferas.

Essa abordagem atua como uma “linguagem comum”, padronizada e aberta entre os sistemas legados, além de desenvolver soluções para ambientes altamente complexos e fragmentados. Ela também tem a vantagem de criar uma  interface universal, simples e flexível para comunicação entre sistemas.

Para se obter melhores resultados, baseado em nossas experiências, o processo de integração precisa ser estruturado em fases que cobrem desde a criação de APIs padronizadas, até a quebra dos sistemas legados monolíticos, realizada utilizando as técnicas de Domain Driven Design para mapear os microsserviços resultantes.

As APIs de governo disponibilizadas por portais permitem que desenvolvedores de empresas privadas tenham acesso ao consumo de APIs públicas, também facilita a obtenção de informações cruciais que apenas os entes públicos possuem.

A criação de APIs públicas trará diversos benefícios ao país, dentre eles o estímulo de ganhos econômicos e a maior rapidez nos processos de negócios dos consumidores das APIs. Contudo, elas serão responsáveis por expandir a sinergia entre governo e cidadãos, o que é um passo valioso na busca pela democratização do acesso à informação.

* Adilson Cavati é diretor de negócios da Sensedia