Convocação de Bolsonaro para o dia 25 mostra que erros cometidos ao longo dos últimos anos serviram de aprendizado

Jair Bolsonaro convocou seus seguidores para uma mega manifestação no dia 25 na Avenida Paulista. Ainda que algumas pessoas estejam com receio de sair às ruas, esta talvez venha a ser uma das maiores reuniões de aliados do ex- presidente de que se têm notícia. As mídias sociais estão empenhadas na divulgação do evento. Em seu pronunciamento de um minuto, Bolsonaro destacou alguns pontos relevantes. Já nas primeiras palavras orientou sobre o dia, local e horário da manifestação. Sugeriu que vestissem verde e amarelo. E deixou evidente que os participantes não deveriam portar nenhum tipo de faixa ou cartazes contra ninguém. Esclareceu que haverá dois objetivos para o evento: defender-se das acusações que têm recebido e, também, demonstrar que existe união em favor do lema ‘Deus, pátria, família e liberdade’. Nesse curto discurso, Bolsonaro deu demonstração não só de maturidade, mas também de que aprendeu bastante com os erros do passado. Muitos se lembram de que dia após dia ele dava o “último aviso”. Falava, falava, ameaçava e não cumpria suas bravatas. O povo delirava. As pessoas pensavam – agora vai. E não ia. Na verdade, não tinha para onde ir. Ficava só na conversa.

A primeira demonstração de impulso desvairado ocorreu no dia 28 de maio de 2020. Naquela oportunidade, Alexandre de Moraes dava a entender de que se transformara em um de seus grandes desafetos. Ao tomar conhecimento de que o ministro havia ordenado mandado de busca e apreensão nos endereços de blogueiros e apoiadores do governo, ficou furioso. Estufou o peito e disse com todas as letras: “Acabou, porra”. E complementou: “Me desculpem o desabafo. Acabou! Não dá para admitir mais atitudes individuais de certas pessoas, tomando de forma quase que pessoal certas ações”. Parecia que finalmente aquelas iniciativas do Judiciário teriam fim. Mas, que nada! Não só não acabaram como, a partir daí, as ações do ministro passaram a ser ainda mais contundentes. O então presidente se sentia prejudicado, ficava irritado, colocava para fora seus sentimentos de revolta. No dia seguinte, entretanto, abaixava a cabeça e demonstrava se sentir impotente para pôr em prática suas ameaças. Alguns de seus eleitores compreendiam. Outros, entretanto, não se conformavam, pois queriam que ele levasse em frente suas palavras de palanque.

Os mais crentes tentavam encontrar argumentos para justificar suas atitudes – na verdade, a falta delas. Diziam: “O Capitão é um tremendo estrategista. Aprendeu isso no exército. Aguarde só para ver.” As estratégias, se é que existiam, todavia, não vingavam. Suas ameaças não cumpridas o deixavam em situação constrangedora. Por isso, no mês de abril, voltou a vociferar: “Estou aguardando o povo dar uma sinalização”. E para justificar suas palavras, foi além: “O Brasil está no limite”. É possível que nem mesmo ele esperasse a resposta eloquente que viria a seguir. No dia 1º de maio de 2021, a multidão foi às ruas respondendo ao seu pedido: “Eu autorizo, eu autorizo”. Sentindo a batata queimando suas mãos, tentou uma saída pela direita: “Vamos dar um último aviso”. Queria falar para uma população ainda maior. Dessa forma, foi levando até a famosa manifestação de 7 de setembro. Diante de um povo nunca visto antes nesta data, precisaria dizer algo que justificasse aquele “último aviso”. Pois é, mais uma vez, teve de enrolar a bandeira e sair de mansinho. Não podia mesmo fazer nada. Até falou, mas teve de demonstrar que estava arrependido. Em carta intermediada por Michel Temer, afirmou que respeitava as instituições. Como se desse um aviso final para si próprio, falou: “Tenho três alternativas: estar preso, ser morto ou a vitória”. Bolsonaro não se saiu vitorioso, continua vivo e, pelo menos até agora, não foi preso.

E assim a convocação para o dia 25 mostra que os erros cometidos ao longo dos últimos anos serviram de aprendizado para ele. Não prometeu dar o “último aviso”, não se mostrou disposto a bater no Judiciário e não incentivou os manifestantes a estabelecerem confrontos. Bolsonaro não deixou dúvidas de que deseja apenas se defender das acusações que tem recebido e dar uma demonstração de união para o país e para o mundo. Na verdade, quer mostrar que ainda é um grande líder político. Que terá influência nas eleições deste ano. E que, se tudo correr bem e for liberado para concorrer em 2026, continua contando com o apoio do povo. Passou a ideia de sensatez que faltou nas manifestações anteriores. Quem disse que é só de pequenino que se torce o pepino?! Siga pelo Instagram: @polito