Gripe aviária: risco para o Brasil é maior agora

O Brasil, maior exportador de carne de frango do mundo, está livre da gripe aviária, mas rodeado de países na América do Sul que já registraram focos da doença. O Uruguai e a Argentina confirmaram casos nesta semana e, agora, o vírus está a poucos quilômetros da fronteira com o Rio Grande do Sul. O risco é alto e o setor agropecuário se mantém em alerta, com indústrias e governo aumentando práticas de biossegurança para tentar manter a doença longe daqui.

gráfico gripe aviária

Segundo o secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, Carlos Goulart, estamos passando pela fase mais aguda de risco de agora até os meses de abril e maio. “O risco está relacionado à migração das aves”, afirmou. Os impactos para o agronegócio se dão via produção e exportação. A depender das condições de um eventual registro da doença aqui, as consequências poderão atingir o mercado exportador e gerar impactos colaterais na formação de preços de proteína animal.

“Caso a doença venha a atingir o Brasil, a depender da extensão do número de casos e da ou das regiões atingidas,  isso pode gerar impactos negativos tanto do ponto de vista da produção (perda de animais) como comercial (embargos e queda no preço da proteína no mercado internacional). Mas ainda que a doença chegue ao Brasil, dado os esforços do setor em tentar mitigar os efeitos da doença e a elevação das medidas de biossegurança, não vislumbramos um cenário catastrófico e um estrago tão grande quanto temos observado nos EUA e Europa”, explica Juliana Ferraz, analista de mercado pecuário Cepea/Esalq.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os preços dos ovos subiram e atingiram recordes. De acordo com a Reuters, em janeiro, o preço registrou alta de 150% na comparação anual. Houve até escassez de produto nas prateleiras dos supermercados como consequência do descarte de aves e redução na produção do alimento. Segundo a pesquisadora e virologista da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella, não há vacina contra a doença registrada no Brasil e os imunizantes utilizados no mundo, como no México ou na Ásia, são pouco efetivos para eliminar os surtos. É o abate sanitário à medida adotada.

Segundo ela, estima-se que, no mundo, mais de 48 milhões de aves tenham morrido por conta do recente surto de gripe aviária. A doença é de notificação obrigatória. No caso de ocorrer no Brasil, o Ministério da Agricultura tem que informar a OMSA – Organização Mundial de Sanidade Animal. Veja abaixo uma série de perguntas e respostas com Janice Ciacci Zanella, pesquisadora e virologista da Embrapa Suínos e Aves. 

A gripe aviária pode prejudicar a saúde humana? Apesar do vírus ser diferente da gripe suína (H1N1) e da gripe sazonal humana que replicam bem nas células humanas, sim, o vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (H5, H7, H9) pode afetar humanos. Ele não tem uma afinidade muito grande com células humanas como os da gripe de mamíferos, mas quando em contato muito próximo entre humanos e aves, como o caso de pessoas que trabalham em aviários ou como na Ásia que tem aves dentro de casa pode haver a transmissão. Não é uma doença que historicamente já matou muitas pessoas, até hoje no mundo devem ter morrido algumas centenas de pessoas. A covid, somente no Brasil, matou 600 mil. Apesar disso, ela é uma doença muito grave para as aves, tanto as silvestres como as domésticas. As aves migratórias dispersam a doença e ela é fatal para as aves domésticas. Ela infecta o sistema respiratório e digestivo.

Já surgiu no Brasil? Não, o Brasil é livre de gripe aviária. É também a primeira vez que a doença aparece na América do Sul. Isso ocorreu agora pois há um surto da doença com casos em mais de 60 países. O que ocorre são surtos, mas ainda não foi classificado como pandemia.

Aviários serão fechados? interditados? Dependendo da região onde tiver o foco e emergência sanitária emitida pelo ministério da Agricultura, isso pode ocorrer. Vamos supor que se tiver um foco no oeste catarinense,  aí sim vai ser um problema grande pois ali tem vários aviários. Geralmente as aves são eutanasiadas para evitar a propagação da doença.

Será que o Brasil corre riscos? Risco zero não existe. O risco está por aí, como chegou a outros países próximos de nós, corremos risco. Temos muita água, biodiversidade, aves, então temos o risco.

Existe vacina para proteger as aves domésticas? Não tem vacina registrada no Brasil e as vacinas usadas no mundo como no México e Ásia são pouco efetivas para eliminar os surtos. É o abate sanitário à medida adotada.

Há prevenção para aves de granja? A prevenção é evitar visitas, adotar medidas de biosseguridade e investir em vigilância sanitária ativa.