Calcanhar de Aquiles: inglês é habilidade chave para avançar na carreira de TI

Há muitas décadas que o inglês se consolidou como o idioma mais importante para o mercado de trabalho global. Para aqueles que desejam avançar na carreira, a língua é chave: uma pesquisa recente da Catho, plataforma de empregos que conecta empresas e candidatos, revelou que profissionais com inglês fluente podem ganhar até 170% a mais na média salarial. Das vagas disponíveis dentro da plataforma, o domínio do idioma é pré-requisito em 8,7% delas.

Ainda assim, o idioma é falado por uma minoria da população brasileira. Também de acordo com levantamento da Catho, apenas 4% dos candidatos brasileiros registrados na plataforma possuem inglês ‘avançado’. Os que estão no nível ‘intermediário’ são 9%, enquanto 14% estão no nível ‘básico’. Do total, 73% não têm conhecimento do inglês.

Como um mercado em que a maioria das empresas é de matriz internacional – e, em especial, originadas nos Estados Unidos –, o setor de tecnologia e as áreas de tecnologia da informação são particularmente sensíveis à necessidade do inglês. “Hoje, quando me perguntam ‘qual o próximo stack de tecnologia que eu estudo?’, eu sempre sugiro tentar estudar inglês. Sem o inglês, você até pode conhecer outras tecnologias, mas isso vai te limitar”, avalia Luana Castro, gerente executiva da divisão de Tecnologia da consultoria de recrutamento PageGroup, em conversa com o IT Forum.

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Não há números concretos sobre o percentual de profissionais brasileiros do segmento de TI que tem inglês fluente no seu leque de habilidades. Profissionais do setor ouvidos pelo IT Forum, no entanto, concordam: um avanço ainda é necessário nesse aspecto. Em especial para os talentos de TI que desejam avançar na carreira, o idioma é uma ferramenta essencial. Nos manuais de estudo de novas tecnologias aos eventos do setor de TI, passando por mentorias e espaços de networking, o inglês reina, lembra a gerente do PageGroup.

“Quando a gente fala no idioma inglês para o mercado de tecnologia, ele é um alavancador de carreira. Você pode estar bem empregado sem o idioma inglês, mas você vai estar limitado”, completou. “As empresas e os grupos de tecnologia tendem a estar cada vez mais globalizados, e os profissionais que não tiverem o desenvolvimento do inglês não vão vivenciar esse movimento.”

Luana CastroLuana Castro, gerente executiva da divisão de Tecnologia da consultoria de recrutamento PageGroup (Imagem: Divulgação)

Um exemplo recente da importância do inglês no setor é o do “desaparecimento” das fronteiras entre países para os trabalhadores de TI. Com o avanço do trabalho remoto durante os últimos dois anos, cresceu também o número de desenvolvedores que buscaram trabalhar para empresas fora do Brasil – em busca de melhores salários pagos em dólares ou euros. A Andela, plataforma que conecta trabalhadores de TI no Brasil com empresas de fora, teve no ano passado um crescimento de 260% no número de candidatos em sua plataforma. O número de brasileiros da rede também cresceu em 320%.

Uma das exigências da plataforma é que o candidato tenha o idioma inglês. A empresa utiliza uma plataforma parceira para aplicar um teste automatizado e filtra candidatos que não atingem a exigência mínima das tarefas. “Em TI, o inglês é uma barreira inicial que a gente vê como indicador de qualidade do profissional”, explica Álvaro Oliveira, Chief Network Officer na Andela.

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O executivo destaca, no entanto, que o objetivo do teste não é trazer apenas candidatos com inglês avançado . O mais importante no segmento, ele defende, é que o candidato seja capaz de entender e se fazer entender em situações profissionais. “Não é necessário que o candidato passe como se o inglês fosse sua língua nativa”, expôs o executivo da Andela. “Não é isso que o mercado exige. O mercado exige uma comunicação boa.”

Alvaro OliveiraÁlvaro Oliveira, Chief Network Officer na Andela (Imagem: Divulgação)

Diretor de Tecnologia da Informação na Bosch, multinacional alemã do setor de engenharia e tecnologia, Luis Pinho reconhece a necessidade de mais habilidades no idioma inglês dentro da TI do Brasil. “Existe uma necessidade pela melhor profissionalização dos talentos de TI do país em habilidade com inglês por diversos motivos”, avalia.

Um dos motivos, destaca Pinho, é que as demandas da TI vêm se transformando no último ano e exigindo mais interações entre os profissionais brasileiros com pessoas de outras regiões. “O que no passado estava mais restrito a monitoramentos de infraestrutura, hoje está mais focado no desenvolvimento de soluções e serviços”, reforçou. “O contato com o cliente no exterior é maior e mais intenso.”

O papel do mercado

Ainda que os nomes ouvidos pelo IT Forum concordem sobre a necessidade de avanço do inglês entre talentos de TI do país, vale ressaltar que esse não é um esforço que deve recair somente sobre os próprios empregados. É preciso que empresas se engajem com o tema. “O Brasil é um país muito distante de países que falam o inglês. A gente tem falhas na educação que não facilitam esse processo do aprendizado de um novo idioma”, pontua Luana Castro, da PageGroup. “Então o mercado também tem a responsabilidade de ter os pés no chão e criar estratégias para fomentar o desenvolvimento do idioma no país”.

Luiz Pinho BoschLuis Pinho, diretor de Tecnologia da Informação na Bosch (Imagem: Divulgação)

A Bosch é exemplo disso. Além de buscar profissionais preparados, a companhia atua com o suporte de cursos e iniciativas de estágios curtos no exterior para funcionários. “A empresa, inclusive, tem o inglês como grade curricular do curso de Técnico em Análise e Desenvolvimento de Sistemas que é oferecido em sua Escola Técnica de Aprendizagem da Bosch, em Campinas”, finaliza Pinho, da Bosch. “O curso visa formar desenvolvedores que podem atuar na empresa depois de formados ou ir para o mercado de trabalho.”