Projetos de IA têm que ser construídos juntos aos usuários

Em um debate sobre aplicação de inteligência artificial para os negócios nesta quinta-feira (20), durante o IT Forum Trancoso, o ChatGPT não foi o protagonista da vez. Isso porque, apesar do sucesso que a plataforma da OpenAI tem com o público geral, a discussão sobre a inteligência artificial dentro das empresas ainda precisa dar alguns passos atrás e se descolar do hype para mostrar o verdadeiro valor para organizações.

Segundo dados da pesquisa ‘Antes da TI, a Estratégia’, realizada anualmente pela área de estudos da IT Mídia, o tema da inteligência artificial foi considerado “de importância” para 31% dos executivos de tecnologia participantes da edição 2023 do estudo. Quando questionados sobre os próximos dois a três anos, o índice dá um salto: 73% dos executivos afirmam que a IA terá importância para seus negócios nos próximos anos.

Para Sergio Lozinsky, fundador e consultor da Lozinsky Consultoria, os dados colocam a IA na posição de uma tecnologia “pioneira” – o que pressupõem oportunidades e riscos. “A empresa que compra um serviço pioneiro, tem que ter uma forma diferente de tratar e de aplicar governança. É o preço do pioneirismo. Se isso não for bem tratado, pode haver decepção. Esses projetos exigem mais preparação”, afirmou durante o painel “IA: usos (não tão) comuns e inovações setoriais”.

Dos objetivos dos projetos de IA, os benefícios buscados são diversos: segundo a pesquisa ‘Antes da TI, a Estratégia’, 78% dos respondentes buscam produtividade e agilidade com a tecnologia; 68% querem suporte à tomada de decisão; e 57% melhoria da experiência de cliente.

IT Forum Trancoso: buscar ‘guri interior’ é caminho para inovar nas empresas

Wilson Leal, diretor de mercado e tecnologia da Seguros Unimed, trouxe algumas lições para o debate. Para ele, uma discussão sobre IA precisa retornar à questão fundamental da tecnologia: os dados. “Dado não é pegar o sistema transacional, exportar para uma planilha e mandar para a inteligência artificial”, disse.

“Como a gente estrutura dados para que a IA seja produtiva, como a gente faz que seja uma IA para o usuário”, completou. “Quem faz a inteligência artificial é o usuário, ele que conhece o negócio. A gente ajuda na técnica. Isso a gente tem que fazer em conjunto. O usuário saber conectar dados e se auto-assistir é essencial para essa caminhada.”

Nancy Mitiko Abe, ex-CIO do Grupo Notredame Intermédica, completou o ponto. “Para você fazer um data lake útil, você precisa saber o que você precisa fazer com o dado. Onde você quer chegar”, compartilhou a executiva.”

No seu projeto de implementação de IA junto à companhia, contou a executiva, a empresa visava aplicar inteligência artificial em prontuários, exames e prescrições médicas e promover diagnósticos preditivos baseados em dados. O primeiro passo foi a digitalização de todos os dados da companhia, um processo que, há cinco anos, ainda era uma “novidade” dentro da indústria de saúde pré-pandemia.

“Foram mais de dois milhões de documentos analisados em uma população de 5 mil pacientes”, explicou. Também foi composto um comitê de inovação que aliou executivos de tecnologia, de M&A e de produto comercial com o objetivo de encontrar startups que pudessem ajudar a empresa na jornada.

O resultado foi uma série de novas práticas apoiadas por IA que permitiram à organização apontar quais pacientes têm uma maior probabilidade de desenvolvimento de doenças como diabetes, propondo um tratamento preventivo. “Quando você trata de saúde, e não da doença, nesse caso específico, de diabetes, você reduz o custo em 33%”, contou.

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