Medo e coragem: como aprendi a lidar com a minha mente

A primeira vez que eu senti que havia perdido o controle da minha mente foi aos 16 anos. A pressão de uma prova de química, somada à aflição por não encontrar uma borracha, situação aparentemente comum, foi o gatilho para a minha primeira crise. “Síndrome do pânico, seguida de depressão”, foi o diagnóstico que recebi. Muitos anos se passaram desde aquele fatídico dia, em que se instaurou em mim, para muito além do pânico, um medo que eu carregaria pela vida toda. Independente de ansiolíticos e antidepressivos em doses precisas e acertadas, independentemente de longos períodos de vida considerada normal, com tristezas e alegrias, mesmo que, felizmente, eu tenha vivido mais vitórias do que derrotas, lá, em uma pequena caixa, dentro de uma gavetinha, guardada em um cofre chumbado dentro do armário, por mais que eu esquecesse onde havia colocado a chave, ele sempre esteve lá: o medo.

Foi só no início dos meus 30 anos, depois de uma lista interminável de diagnósticos, dados por médicos confundidos por sintomas confusos, quando já estávamos em “burnout, com vontade de dançar de madrugada e possível psicossomatização de trauma por ter tido 3 irmãos menores”, alguém teve a gentileza de me parar. Parar para me ouvir, olhar, entender. Foi aí que veio o veredito: “Você tem transtorno bipolar”. Dez anos se passaram. Minha jornada foi longa. Altos, muito altos, e baixos, muito baixos, fizeram parte dela. Com muita luta, estudo e resiliência, além de medicamentos, terapia e mudanças importantes nos hábitos, estacionei no melhor lugar do mundo: a vida. E o medo? Com cuidado abri a pequena caixa, que estava dentro da gavetinha do cofre chumbado, e tirei, de mãos dadas, minha bipolaridade do armário. Porque, como dizem, coragem é ir com medo.