Para Microsoft, não é preciso escolher entre produzir e preservar

Em 2020, a Microsoft estabeleceu uma meta ousada para seus próximos dez anos, quando o assunto é sustentabilidade e meio ambiente: ser uma empresa negativa em carbono, positiva para a água e desperdício zero. E a gigante norte-americana segue firme nesse propósito, realizando uma série de investimentos baseadas em três pilares. O primeiro são ações internas, o segundo mira o desenvolvimento de soluções para projetos sustentável e, por fim, o investimento em projetos públicos e privados que combatem as mudanças climáticas.

Lucia Rodrigues, líder de Filantropia e Sustentabilidade da Microsoft Brasil, revela que a crença da empresa é a de que há lucro por meio do propósito. A executiva comenta que, para a Microsoft, todas as empresas têm papel importante no que tange às questões ambientais e sociais.

“Não é preciso escolher entre produzir e preservar”, afirma ela. “Estamos comprometidos com os nossos compromissos de sustentabilidade e acreditamos que as diferentes tecnologias que desenvolvemos são importantes ferramentas para apoiar a nós e a sociedade em geral a solucionar importantes desafios para a sociedade e, com certeza, a sustentabilidade é um deles”, completa.

Em linha com sua missão até 2030 e que, na verdade, se estenderá para além da data, Lucia revela que em 2022 foram contratadas 1.443.981 toneladas métricas de remoção de carbono e assinados novos contratos de aquisição de energia (CAE) em todo o mundo que permitiram aumentar o total de energia sem carbono para mais de 13,5 GW. Essas medidas, aliadas aos mais de 135 projetos em 16 países, se traduzem em uma redução acima dos 22% das emissões de carbono da empresa.

Para tornar a Microsoft “zero resíduos”, há uma forte meta de reutilização e reciclagem de 90% da matéria-prima dos produtos da gigante até 2030. “Até o momento, já desviamos 12.159 toneladas métricas de resíduos sólidos de aterros e conseguimos aumentar as taxas de reutilização e reciclagem de todo o hardware de nuvem para 82%”, lista.

Além disso, a empresa também reduziu para 3,3% os plásticos de uso único em todas as suas embalagens. Até 2025, eles serão eliminados por completo. Ao mesmo tempo em que assume essa meta, a companhia também tem um compromisso com a proteção dos ecossistemas e, até o ano passado, 12 mil dos mais de 17 mil acres de terras contratadas foram oficialmente designados como protegidos. A quantidade de terras protegidas em 2022 excede os aproximadamente 11.200 acres de terras que a empresa usa atualmente.

Para reduzir o estresse hídrico, inserido no Pacto Global das Nações Unidas (ONU), a empresa também diminuiu o consumo de água em todas as operações globais, reabastecendo mais água do que utiliza. No ano passado, por exemplo, foram apoiados projetos de reabastecimento de água que, segundo estimativas, irão fornecer mais de 15,6 milhões de m3 em benefícios volumétricos com destaque para 1 milhão de pessoas que tiveram acesso a soluções de água potável e saneamento no Brasil, Índia, Indonésia e México.

Ecossistema é fundamental na jornada

Com a crença de que ser exemplo é a melhor forma de fomentar outras iniciativas, a Microsoft também ampliou seu impacto positivo e ajuda seus clientes a desenvolver projetos mais sustentáveis. Um exemplo, cita a executiva, é o Microsoft Cloud for Sustainability, plataforma de sustentabilidade ambiental que inclui o Microsoft Sustainability Manager.

Os clientes da nossa solução Microsoft Azure também contam com o Painel de Impacto de Emissões, que ajuda os gestores a entender o impacto das emissões como resultado do uso da Microsoft Cloud. “Também lançamos uma versão prévia do Microsoft Planetary Computer, que permite medir, monitorar e gerenciar ecossistemas que podem ser afetados por suas operações e tomar decisões importantes relacionadas ao risco climático.”

A gravidade das mudanças climáticas levou mais de 3,9 mil empresas, incluindo a Microsoft, a anunciar compromissos climáticos. E, para incentivar o cumprimento dessas metas, os capítulos da Comunidade Conectada de Sustentabilidade da Microsoft em todo o mundo organizaram dezenas de eventos voluntários para promover o desenvolvimento de habilidades e o engajamento da comunidade.

Os funcionários fizeram parcerias com partes interessadas locais para melhorar a gestão de resíduos nos escritórios, organizaram hackathons para proteger e preservar as línguas indígenas e doaram tempo e dinheiro para organizações sem fins lucrativos locais, enquanto se esforçavam para garantir que a justiça ambiental fosse incorporada ao seu trabalho diário.

As parcerias com empresas e organizações não-governamentais também são parte da equação da Microsoft quando o assunto é meio ambiente. Um dos exemplos mencionados por Lucia é a iniciativa Carbon Call, em parceria com a ClimateWorks Foundation e mais de 20 organizações líderes.

“Juntos, nos concentramos em resolver os desafios de contabilidade de emissões e remoção de carbono das empresas para um futuro de emissões zero. Hoje, essa iniciativa conta com mais de 80 membros com um roteiro publicado para uma contabilidade de carbono mais confiável e interoperável”, lista. Com o suporte do Climate Innovation Fund, a Microsoft já investiu mais de US$ 600 milhões nessa frente, ampliando o portfólio global de mais de 50 investimentos, incluindo soluções sustentáveis em energia, sistemas industriais e naturais.

Recentemente, a empresa também anunciou a expansão do laboratório AI for Good no Egito e no Quênia, bem como a formação de uma nova equipe de cientistas de dados na África que trabalharão para melhorar a resiliência climática. O trabalho destes laboratórios de dados será formado por um novo Conselho Africano de Inovação em Inteligência Artificial (IA), composto por representantes das principais organizações africanas.

No Brasil, a PrevisIA, plataforma da Microsoft que usa inteligência artificial, apoia o Fundo Vale e o Imazon, para monitorar possíveis áreas de desmatamento na Floresta Amazônica. A ferramenta que já mostrou assertividade de cerca de 80% na previsão de desmatamento em 2022.

A solução é chave para parar a derrubada de árvores. Afinal, o cenário é crítico. Para 2023, lembra a executiva, se o ritmo da derrubada de árvores não for interrompido, segundo dados da plataforma, a floresta pode perder mais 11.805 km² de mata nativa. Isso corresponde a quase dez cidades do Rio de Janeiro. A devastação prevista causará ainda mais emissões de gases do efeito estufa, que estão relacionados com a maior frequência e intensidade de fenômenos climáticos extremos. Entre eles estão chuvas fortes, ondas de frio e de calor e secas prolongadas.

“Em abril de 2023 também lançamos a Plataforma ClimaAdapt, desenvolvida em parceria pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e a Microsoft. A iniciativa foi realizada com o apoio da Elo Group, responsável pelo desenvolvimento e implementação da solução”, cita ela.

A plataforma é 100% automatizada e utiliza dados públicos e disponíveis nos órgãos que trabalham diretamente ou indiretamente com a agenda de mudanças do clima. Com base nessas informações, a tecnologia apresenta um mapa, com precisão de cem metros, que permite identificar vulnerabilidades específicas das regiões brasileiras aos eventos climáticos extremos.

“Trata-se de um sistema extremamente inovador, simples, intuitivo e visual, que permite a análise da vulnerabilidade de todo o território brasileiro e seus habitantes aos eventos climáticos extremos ocasionados em decorrência das mudanças do clima. São classificadas como vulnerabilidades as características específicas ambientais, sociais e climáticas de um terreno que fazem com que ele seja mais suscetível ou não aos impactos adversos do clima.”

A jornada da Microsoft para sustentabilidade é extensa e inclui ainda o lançamento do AI4Science e a (MCRI) para melhorar as bases de computação, parcerias e ferramentas necessárias para alcançar um futuro global negativo em carbono. “Com este projeto, buscamos desenvolver tecnologia para suportar projetos de sustentabilidade em diversas indústrias, a fim de promover o desenvolvimento econômico ambientalmente responsável”, conta a executiva.

Como exemplo dessa frente, ela cita o projeto FarmVibes, plataforma de soluções agrícolas com uso de inteligência artificial que ajuda o produtor rural a tomar decisões em cada etapa da lavoura, desde o momento de plantar as sementes, até após a colheita.

O FarmVibes tem como objetivo impulsionar uma agricultura movida por dados, com a ajuda de informações colhidas por sensores no solo, drones no céu e até satélites no espaço. Entre os maiores ganhos proporcionados por esta plataforma, além da economia financeira, está a oferta de sistemas que ajudarão quem trabalha no campo a se adaptar e prever mudanças climáticas. Isso gera uma redução do gasto de água e de produtos químicos usados na agricultura, bem como aumentar a produtividade das fazendas.

Lixo eletrônico e uso de plástico

Por ser uma empresa de tecnologia e de produto de consumo, a Microsoft olhou com cuidado para o tema e no ano fiscal de 2021 testou uma nova estratégia de reutilização de ativos com a construção de um Centro Circular no campus de data center em Amsterdã, que representa 7% da capacidade global de servidores.

Segundo explica Lucia, os Centros Circulares permitem processar hardware de nuvem desativado para rotas de serviços estratégicos, mercados secundários e fornecedores usando software de roteamento inteligente. Com essa estratégia, o centro conseguiu reutilizar e reciclar 82% de todos os ativos confiscados no ano fiscal de 2022.

Com base no sucesso em Amsterdã, a gigante abriu cinco novos Centros Circulares, estes localizados em Boydton, Virgínia; Chicago, Illinois, e Dublin, Irlanda. Em 2023, outro Centro Circular foi inaugurado em Quincy, Washington. “Ainda pretendemos lançar nossos próximos Centros Circulares no Texas no ano fiscal de 2025. Esse modelo permite que os fornecedores reutilizem ativos e componentes, reduzindo significativamente as emissões de carbono e melhorando a recuperação de materiais”, adianta ela.

Resultados desses centros incluem a redução de 4% nas emissões de carbono por servidor e, ainda no ano fiscal de 2022, a companhia renovou suas certificações Zero Waste dos data centers em San Antonio, Texas; Quincy, Washington; Boydton, Virgínia, e Dublin, Irlanda. “Nosso campus de Redmond foi certificado com Lixo Zero por seis anos consecutivos”, comemora.

Já em relação aos seus produtos, no ano fiscal de 2022, foi reduzido o uso de plásticos descartáveis das embalagens de dispositivos Microsoft em 29,8%, queda de 4,7% para 3,3% em peso (em média) de plástico por embalagem. “Estabelecemos uma meta ambiciosa, em 2020, em relação ao uso de plástico e estamos extremamente focados em cumprir este compromisso até 2025. Para isso, também investimos no design de embalagens sem plástico.”

Segundo Lucia, as embalagens dos produtos Microsoft são, em média, 94,4% recicláveis nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A mais recente linha de embalagens para o Comando Sem Fios Xbox – Special Edition Remix utiliza menos de 1% de plástico (em peso) e é mais de 99% reciclável. Todo o papel/fibra virgem usado para essas embalagens é de origem responsável.

“Além dessas iniciativas, também desenvolvemos o Ocean Plastic Mouse, acessório feito de plásticos retirados dos oceanos, e o novo controle Sem Fio Xbox – Remix Edição Especial, feito parcialmente de CDs recuperados e outras peças de controles do Xbox One. Essas embalagens são feitas de materiais 100% renováveis e totalmente recicláveis”, destaca.

E as fontes de energia renováveis?

A líder de Filantropia e Sustentabilidade da Microsoft Brasil explica que, com relação à energia renovável, a visão de longo prazo da empresa é chegar a um estado em que, em todas as suas redes elétricas do mundo, 100% dos elétrons, 100% do tempo, sejam gerados a partir de fontes livres de carbono.

“Para cumprir isso, estamos comprometidos em cobrir 100% da carga da Microsoft com compras de energia renovável até 2025 e, até 2030, garantir que cumpramos nosso compromisso 100/100, o que significa que 100% do consumo de eletricidade da Microsoft, 100% do tempo, será compensado por compras de energia descarbonizada”, conta.

Este ano, a Microsoft anunciou, inclusive, que vai receber eletricidade da primeira central elétrica de fusão comercial do mundo, de propriedade e operada pela Helion, empresa sediada em Redmond, WA, pioneira em uma forma de criar energia de fusão que tem o potencial de substituir o combustível à base de carbono.

Essa operação se dará, por meio do Constellation Energy Group, que irá atuar como comercializador de energia para o projeto, revendendo a energia produzida pela máquina Helion à Microsoft. A previsão é de que que a central esteja em funcionamento até 2028 e terá como objetivo a produção de energia de 50 MW, ou mais, em um ano.

Lucia avalia que o desenvolvimento de uma instalação comercial de energia de fusão é um passo crucial na transição para um futuro de energia sustentável e não só ajudará a Microsoft a atingir o seu objetivo de ser negativa em carbono até 2030, mas também apoiará o desenvolvimento de uma nova fonte de energia limpa para o mundo.

Evangelização

Para a Microsoft, a conscientização e a evangelização do tema sustentabilidade e meio ambiente são chave para o sucesso de iniciativas não só da empresa, mas de outras. É por isso que, em novembro de 2022, a Microsoft e o Boston Consulting Group (BCG) lançaram um relatório, batizado de “Fechando a Lacuna de Habilidades de Sustentabilidade: Ajudando Empresas a Avançar de Promessas para Progresso” para reforçar a necessidade de organizações e governos investirem na capacitação da força de trabalho em habilidades de sustentabilidade.

O intuito do material é preparar a próxima geração para preencher vagas de emprego focadas em meio ambiente e combate a mudanças climática que irão surgir. Além do material, a INCO Academy, a Microsoft e o LinkedIn anunciaram o lançamento do programa Green Digital Skills, curso on-line e gratuito, que oferece 10 mil vagas para pessoas do mundo todo que queiram se capacitar para atuar em uma economia verde em nível mundial.

Resultados tangíveis

Os benefícios das apostas da Microsoft são muitos, assegura Lucia. Ela cita que o Relatório Anual de Sustentabilidade mostra que os negócios da empresa cresceram 18% e as emissões totais diminuíram 0,5%. “Os resultados mais positivos em 2022 são de melhorias nas nossas operações, medição de dispositivos baseada em telemetria em tempo real, investimentos em energia renovável, compras de combustível de aviação sustentável (SAF) e aquisição de certificados de energia renovável (RECs) de forma desagregada”, destaca.

Segundo observa, o relatório reflete, em parte, a redução das emissões operacionais diretas (Escopo 1 e 2) em 22,7%. Na Microsoft, as emissões do Escopo 1 e 2 representam menos de 4% das emissões totais, enquanto as emissões indiretas, ou Escopo 3, representam mais de 96%.

“Enquanto a Microsoft continua a trabalhar para reduzir suas emissões de Escopo 1 e 2 para perto de zero, o Escopo 3 é o maior desafio para a descarbonização. Isso exige a coevolução das melhores práticas para negócios, tecnologia e políticas entre milhares de partes interessadas globais.”

Adicionalmente, a companhia também entrou em novos Power Purchase Agreement (PPAs) em todo o mundo, elevando o portfólio total de energia livre de carbono para mais de 13,5 GW, incluindo mais de 135 projetos em 16 países. “Assumimos compromissos inéditos de remoção antecipada de carbono que vemos como o modelo para escalar a indústria”, pontua.

Olhar para o futuro

Ao mirar 2030, Lucia afirma que Microsoft continuará a investir em três áreas-chave que permitirão a escala de soluções de sustentabilidade necessárias para enfrentar a crise climática: soluções de IA para maior impacto climático; acelerar o desenvolvimento de mercados de sustentabilidade por meio de investimentos e criar ferramentas que impulsionam a medição e a conformidade de emissões.

“Estamos comprometidos com os nossos compromissos de sustentabilidade e acreditamos que as diferentes tecnologias que desenvolvemos são importantes ferramentas para apoiar a nós e a sociedade em geral a solucionar importantes desafios para a sociedade e, com certeza, a sustentabilidade é um deles”, reforça ela.

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