O problema não é Padilha

Em meio a uma profunda crise de governabilidade, Lula decidiu manter Alexandre Padilha como ministro de Relações Institucionais. Em Londres, ele disse que “Padilha é o que o país tem de melhor na articulação política”. Nada falou, porém, de Rui Costa. O ministro da Casa Civil é apontado por colegas do Palácio do Planalto como o verdadeiro problema na relação do governo com o Congresso Nacional. O baiano simplesmente não dá andamento aos pedidos de nomeações encaminhados por Padilha, após negociação com lideranças partidárias.

Segundo assessores, haveria mais de 400 indicações represadas no gabinete de Costa. Muitas delas assinadas há semanas por Lula, como as de cargos que precisam ser sabatinados pelo Senado. Algumas começaram a ser despachadas na semana passada, mas a conta-gotas, como a do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa. O mesmo ocorre com nomes para diretorias do Banco do Brasil, da Caixa, do Banco do Nordeste, da Apex e do DNIT.

A demora desgasta a relação do governo com deputados e senadores, que passam a fritar Padilha, lembrando o que ocorreu com Ideli Salvatti na gestão Dilma, quando a ministra da Casa Civil era Gleisi Hoffmann. Assim como Gleisi, Costa é visto como alguém de temperamento difícil, pouco diálogo e nenhuma sensibilidade política — tem dado chá de cadeira em colegas da Esplanada e até em ministros do Supremo e do STJ.

Rui Costa parece mais preocupado em tocar uma agenda própria, dizem esses interlocutores. No Planalto, atribui-se a ele, e não a Lula, o texto do decreto que mudou o Marco do Saneamento, derrubado pela Câmara na semana passada. A questão teria impacto num contrato de saneamento envolvendo a Prefeitura de Salvador (BA) e interesses paroquiais.