Páscoa e vinho: saiba qual a bebida apropriada para cada tipo de chocolate

O tema “harmonização de vinho e chocolate” é antigo, recorrente e, entretanto, continua polêmico. Os céticos insistem ser impossível tal harmonização, exceto com o vinho feito para o chocolate: Banyuls. Pessoalmente não me alinho com esta corrente, pois penso que há muitos vinhos que podem harmonizar bem como o chocolate, sempre se levando em conta o tipo do chocolate e do vinho, é claro. Os chocolates meio-amargos e amargos, aqueles que levam em sua composição mais de 65% de cacau puro, ao meu ver, vão muito bem com vinhos do Porto envelhecidos, especialmente aqueles que trazem na garrafa os anos de envelhecimento, a exemplo do Taylor’s Tawny 10 Anos ou do Murças 10 anos Tawny. Estes vinhos, refrescados, são excelentes companheiros dos chocolates com mais de 65% de cacau.

Chocolates que levem amêndoas em sua composição, por seu turno, harmonizam muito bem com o vinho Marsala, cujo nome é derivado da expressão árabe Marsah-el-Allah, que significa “Portão de Deus”, siciliano, é um dos grandes vinhos fortificados do mundo. O Marsala Superiore Pellegrino Branco Seco ou o Marsala Florio Vecchioflorio valem a pena serem provados com chocolates com amêndoas, ou mesmo trufados. O chocolate ao leite, aquele mais comum e que é utilizado para a confecção da maior parte dos ovos de Páscoa, já pedem um espumante extra-brut, inclusive champagne. A acidez destes tipos de espumante costuma neutralizar o excesso de dulçor deste tipo de chocolates e fazer o paladar se tornar agradável. Um Crémant de Bourgogne Extra Brut, por exemplo do Raoul Clerget, ou um  Salton Ouro Extra-Brut, são excelentes pedidas para ancorar o ovo de Páscoa. 

Mas e o “Banyuls”? Este é um vinho fortificado francês produzido com as uvas Grenache e Grenache Gris na região do Languedoc e que, por excelência, é considerado o que melhor acompanha qualquer chocolate. E esta é uma verdade. O nome Banyuls quer dizer “banho” e vem de uma cidade homônima localizada na costa mediterrânea da França, muito próxima à Catalunha (Espanha). A primeira menção escrita da cidade data de 981, então chamada “Balneum” ou “Balneola”. Em 1074, a grafia muda para “Bannils de Maritimo” para distinguir a cidade de “Banyuls-dels-Aspres”, a 20 km de distância. O termo “Marenda” é mencionado em 1197 (“Banullis de Maredine”) e em 1674 (“Banyuls del Marende”). Desde o século XIX, existe o atual nome catalão “Banyuls de la Marenda”. Os vinhos de lá são doces naturais e fortificados com aguardente vinífera; são longevos e devem ser refrescados para um consumo mais agradável. De fato, casam muito bem com qualquer chocolate. Sugiro dois disponíveis no Brasil, o Gérard Bertrand Banyuls Traditionnel e o Domaine de la Rectorie Cuvée Léon Parcé Banyuls, ambos de excelente qualidade e agradabilidade ímpares; cujas características os fazem serem grandes companheiros dos chocolates e de doces que levam o cacau em sua composição, com preponderância. Vale lembrar, entretanto, que a regra que deve imperar é o gosto do consumidor. Salut!