Redes privativas 5G já em andamento em diferentes verticais

Redes privativas 5G na mineração. Crédito-Freepik
Crédito: Freepick

Nos próximos anos, as redes privativas 5G devem se tornar uma ferramenta importante para completar o processo de transformação digital já em andamento em diferentes verticais. Os testes com a tecnologia estão sendo realizados para garantir a transição de plataformas 3G e 4G utilizadas pelas empresas e, também, para substituir em algumas aplicações a infraestrutura Ethernet. O círculo, como em outras ocasiões, começa pelas grandes corporações, mas há estudos buscando soluções que possam levar a infraestrutura de quinta geração também para as pequenas e médias. Igor Calvet, presidente da ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), não esconde seu entusiasmo com os avanços dessas redes. A entidade está envolvida com esse tema há algum tempo e foi responsável por testes com a tecnologia, realizado em parceria com a WEG, para subsidiar a Anatel na regulamentação da matéria. “O nosso papel é difundir tecnologias”, observa.

O acordo com a Anatel foi feito em 2020 para testar as redes privadas 5G em três ambientes:

industrial, agricultura e cidade inteligente. O executivo conta que o piloto para o setor de agricultura está em andamento e envolve a indústria sucroalcooleira em São Paulo. Ao mesmo tempo, 12 cidades irão compor os testes para definir os efeitos da 5G em smart cities. “Daremos uma importância grande para a necessidade de integração dos sistemas importantes para uma cidade, como segurança, saneamento, eletricidade, trânsito e outros”, antecipa.

Calvet reforça que os testes industriais com o release 15 trouxeram bons resultados apontando que a rede 5G se tornará, realmente, uma importante ferramenta da transformação digital da sociedade. O piloto foi realizado em duas frentes: uma rede privativa independente operada pela própria WEG, com equipamentos da Nokia; e outra, operada pela Claro, com equipamentos Ericsson. Na sua opinião, o custo e as estratégias empresariais serão determinantes para decidir qual modelo será utilizado pela empresa. Calvet faz uma observação importante: questões como segurança industrial, confiança dos dados e disponibilidade da rede podem pesar a favor da solução própria.

Além de defender que a indústria de equipamentos acelere a produção de sistemas para o release 16, o presidente da ABDI também se preocupa com a plataforma FWA (Fixed Wireless Access) que, na sua avaliação, pode ajudar a incluir pequenas e médias empresas nesse universo. “Felizmente já temos soluções mais acessíveis nessa área, como os recentes lançamentos da Intelbras”, cita. Guilherme Spina, diretor-presidente da V2 Com – empresa do grupo WEG voltada para a oferta de soluções IoT – acumulou uma boa experiência com redes privativas 5G. Os testes da companhia começaram há cerca de dois anos com o Open Lab 5G e estão em fase avançada. No piloto, foram aplicados casos de uso de Internet das Coisas Industrial (IOTT), comparando o 5G com a rede Wi-Fi; dispositivos inteligentes, com o uso de Inteligência Artificial para processamentos de imagens avançadas e robótica.

Duas categorias

Foram definidas duas categorias de testes: comunicação massiva do tipo máquina (mMTC) para um grande número de dispositivos ou sensores conectados e comunicação ultra confiável de baixa latência (URLLC) para sistemas de controle conectados e comunicação crítica. Os robôs automatizam a entrega de estoques dentro da fábrica, programado com uma “espécie de Waze” para achar os melhores caminhos. Normalmente utilizavam Wi-Fi antes de fazerem parte dos testes 5G. Outro caso de uso aplicado foi o de presença virtual, com uma câmera 360 graus cobrindo toda a planta industrial. Um funcionário, com óculos de realidade virtual, pode caminhar por toda a unidade sem riscos. “A performance do release 15 foi boa, mostra o potencial da tecnologia e o importante é que sejam desenvolvidos novos casos de uso”, comenta o executivo.

No IOTT a rede 5G superou a Wi-Fi 4G e no caso dos dispositivos inteligentes foi possível instalar aplicações de maneira mais flexível da que utiliza cabos de rede.

Spina adianta algumas diferenças em relação ao release 16, que já está em testes também na fábrica da empresa. Se o release 15 permitiu que a rede Ethernet fosse substituída pelo 5G, com o release 16 – que trabalha efetivamente a questão da latência – foi possível ainda substituir os coletores de dados na arquitetura da infraestrutura. A WEG entrevistou os donos dos processos dentro da empresa para questionar se houve geração de valor com a experiência. “Chegamos a conclusão de que o custo da rede ainda é mais caro comparado ao Wi-Fi mas os benefícios aparecem. O custo/benefício fica positivo a partir de uma densificação de dispositivos por antenas”, explica Spina. Ele acredita que um bom número seria a partir de 200 pontos por antena.

O cronograma da WEG para avançar com a rede privativa ainda está sendo definido. Mas ela também se prepara para, via V2Com, oferecer soluções para esse mercado e atuar como integradora de sistemas.

Mais segurança

O interesse pelas redes privativas 5G alcança diversos setores. Na mineração, um dos exemplos é a Vale do Rio Doce que já tem um projeto de rede privada 4G. “Estamos avançando na implantação de um laboratório para realizar testes na frequência 5G e a data de sua inauguração será comunicada futuramente”, conta Marcia Costa, gerente executiva de Infraestrutura Tecnológica da companhia. A rede privada LTE/4G da mineradora nasceu da ideia de aumentar a segurança e a eficiência operacional. Ela está sendo utilizada em Carajás (PA) por caminhões autônomos e máquinas de perfuração autônomas. Em Itabira está sendo utilizada para aumentar a confiabilidade do monitoramento de barragens.“No caso de Carajás, o projeto segue uma curva de maturidade, mas os resultados já indicam que a redução de consumo de combustível proporcionada pelos caminhões autônomos é de 24% em relação à frota convencional que opera em outra cava com características semelhantes na região, o que resulta em uma redução de cerca de 10 mil tCO2Eq/ano”, afirma a executiva.

A produção dos autônomos tem sido 95% superior à da frota convencional que operava anteriormente no mesmo local. Nos últimos meses os autônomos têm movimentado o dobro da quantidade de material, chegando a 2 milhões de toneladas por mês. Na Serra Leste, está em andamento uma rede privativa com previsão de implantação para o primeiro semestre de 2023. Esse projeto vai contar com os mesmos parceiros dos anteriores, a operadora Vivo e a Nokia. O principal caso de uso nessa operação também é a comunicação dos dados de caminhões fora de estrada. Ainda há outro pro jeto sendo implementado, o pátio autônomo no Terminal Ilha Guaíba.

Porto de Santos

O maior porto da América Latina, o porto de Santos, deve embarcar nessa onda das redes privativas. Segundo a Santos Port Auhtority (SPA), a principal decisão, por enquanto, é de que será uma rede 5G privada no modelo SLP (Serviço Limitado Privado). E para fazer um estudo técnico preliminar, desenvolver o projeto, inclusive sobre a faixa de frequência ideal, e ajudar na busca da licença na Anatel, a empresa está em fase de seleção de uma consultoria.

Estão no páreo a Lynce Consultoria, a Celplan e a Brain Innovation, do grupo Algar. De acordo com a companhia, a futura rede 5G SLP será integrada à rede interna existente, e poderá ser conectada às novas tecnologias, inclusive à rede LoRa, que será implementada pelas empresas credenciadas para e exploração do Porto Organizado.

A rede privada 5G será destinada inicialmente às necessidades da própria SPA, visando a contingência da rede atual, conexão com áreas remotas da região, conexão de câmeras de segurança e de fiscalização, transmissão de imagens de drones, contingência para a rede de fibra óptica, sinal de rádio e para implementação de soluções IoT. A Petrobras também se prepara para levar a quinta geração para suas plataformas terrestres e marítimas. O projeto da empresa prevê a construção de uma rede de fibra óptica de 1.600 quilômetros de extensão nas bacias de Campos e Santos, que dará suporte à 5G. A proposta é de habilitar 29 plataformas de produção e em 17 unidades de terra, distribuída entre refinarias, portos e outros pontos. Entre os casos de uso para a tecnologia, está o de aumentar o controle de drones e robôs, reduzir a exposição das equipes ao risco e digitalização.

Hospital das Clínicas

Com um processo mais acelerado de digitalização durante a pandemia, a saúde também avança em redes privativas 5G. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) anunciou recentemente o lançamento da rede privativa 5G para testes de conectividade avançada na saúde. “Ao utilizar casos reais de atendimento à saúde, estamos entendendo como a conectividade do 5G em Open RAN poderá ser um habilitador de serviços em diversas áreas da medicina, colaborando para melhorar a jornada do paciente e prover mais qualidade e acesso aos serviços de saúde”, observa Marco Bego, diretor executivo do InovaHC. Para conduzir esse projeto – batizado de Open- Care 5G –, um grande ecossistema foi formado e coordenado pela Deloitte. Participam das parcerias o Itaú Unibanco, Siemens Healthineers, NEC, Telecom Infra Project (TIP), ABDI, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

A Claro e a Embratel, ao lado da Ericsson e da startup NuT, de Natal, também fizeram parceria com o InovaHC para o projeto de redes privativas que prevê levar a tecnologia 5G para a sala de cirurgia. As provas de conceito estão em andamento e os parceiros vão integrar as informações de monitoramento do paciente cirúrgico que poderão ser avaliadas pelos médicos de forma remota.

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